A verdade sobre as privatizações (Suely Caldas)- ótimo artigo, mas a Petrobras continua de fora

nota do blog: Por que não se tratou do assunto Petrobras neste sintético e ótimo artigo ? Estranho, porque os dois candidatos se engalfinharam, trocando acusações sobre a demoníaca intenção de privatizar o monstro. A articulista apenas cita o superfaturamento, em quatro palavras. Não é só isso. Além da roubalheira, trata-se da incapacidade de extrair e comercializar o petróleo. Uma das mentiras mais consagradas que conheço  : “a Petrobrás é a empresa que mais entende no mundo de extração em águas profundas” Quem disse ? Algum dos seus diretores multi-milionarios ? A bobagem colou, tipo a excelência da “medicina cubana”.

( a palavra “privatização” foi inventada por Margaret Thatcher)

Os brasileiros irão hoje às urnas ignorando o que os dois candidatos pretendem fazer com o País depois de 1.º de janeiro. Em vez de explicitar seus programas de governo, Dilma Rousseff e José Serra usaram os quatro meses de campanha para desfilar promessas irreais, ódio, oportunismo e muita enganação. Orientada pela tendência das pesquisas (que erraram feio no 1.º turno) e comandada por marqueteiros em caça desenfreada de votos, a campanha perdeu conteúdo e transformou os candidatos em mercadorias baratas. A verdade sumiu, prevaleceu a mentira. Daí a cometerem equívocos históricos com reflexos no futuro foi um passo curto e rápido.

O mais grave equívoco – porque dominou a cena de guerra, debates e programas televisivos – foi satanizar a privatização de empresas estatais. Grave, primeiro, pelo oportunismo de explorar a ingenuidade da grande maioria da população, que desconhece os efeitos benéficos da privatização, é enganada e tratada com desrespeito e como presa fácil de frases apelativas e de efeito vazio, como “defender a soberania nacional”. Segundo, porque tanto Dilma como Serra sabem que os limites de recursos do Estado para investir os obrigarão a buscar capital no setor privado para tocar o desenvolvimento do País. Não será satanizando a privatização que o conseguirão.

Por trás da “soberania nacional” e do “não entregar nossa riqueza a estrangeiros”, a campanha de Dilma de ataques à privatização esconde sua real intenção de preservar espaço nas estatais para partidos políticos, cargos para aliados, negociatas com empreiteiras em troca de financiamento de campanha, enfim, uma gestão voltada para a obtenção de vantagens políticas com as estatais, não para torná-las eficientes e lucrativas para seus 190 milhões de acionistas. Atos corruptos viraram banalidade no governo Lula. Exemplos? O da Infraero é o maior (o dinheiro sumiu e os aeroportos não foram construídos), mas há ainda os da Eletrobrás e suas subsidiárias e as denúncias do TCU de práticas de superfaturamento em obras da Petrobrás.

Ao contrário do que os candidatos apregoam, a desestatização foi um bom negócio para o País: gerou riqueza, empregos, desenvolvimento e rendeu dinheiro para os brasileiros. Quer ver?

No caso da Vale:

Antes da privatização, em 1997, a Vale era a 20.ª maior produtora de minério de ferro do mundo. Hoje é líder global nesse segmento, a segunda maior mineradora do mundo e a maior empresa privada da América Latina;

seus 11 mil empregados do período estatal saltaram para 112 mil (próprios e terceirizados), dos quais 90 mil no País;

em 54 anos como estatal a Vale investiu US$ 26,47 bilhões. Em 11 anos como privada, até 2009, US$ 73,5 bilhões, com programação de investir mais US$ 12,9 bilhões em 2010;

seu lucro líquido somou US$ 10,57 bilhões em 54 anos nas mãos do Estado e US$ 55,39 bilhões, privada, até 2009. E, de julho a setembro de 2010, disparou para US$ 3,890 bilhões, mais de um terço do que obteve em 54 anos;

e, entre impostos, dividendos e royalties, a Vale privada pagou à União US$ 13 bilhões, mais 659% do que em 54 anos estatal.

No caso da Telebrás o benefício é até mais expressivo porque atingiu diretamente a população de baixa renda, que em tempos de estatal não ousava sonhar ter um telefone. Alguns números:

Antes da privatização havia 14 telefones por grupo de 100 habitantes. Essa média saltou para 124, hoje;

em 25 anos como estatal a Telebrás investiu R$ 60 bilhões. Em 11 anos privada, R$ 180 bilhões;

antes da privatização a Telebrás cobrava US$ 1 mil por linha telefônica, o usuário pagava e esperava dois anos pela instalação. Hoje, consegue o telefone em uma semana e preço zero pela linha;

no mercado negro a instalação do telefone era mais rápida, mas a linha custava até US$ 10 mil. Hoje não há mercado negro;

e, em 1998, quando a Telebrás foi privatizada, o País tinha 24,5 milhões de telefones. Hoje tem 224 milhões.

Essa é a verdade que os candidatos não contam.

JORNALISTA, É PROFESSORA DA PUC-RIO E-MAIL: SUCALDAS@TERRA.COM.BR

Publicado no Estadão em 31/10/2010

1 novembro, 2010 às 12:42

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Categoria: Artigos

Comentários (5)

 

  1. Claudia disse:

    Sou contra as privatizações e também contra a esse abuso as empresas estatais feitas pelos governos da hora.
    No meu ponto de vista a Sra Sueli esqueceu de mencionar os muiiiiiiitos pontos negativos das diversas privatizações que foram feitas. Não é,por exemplo, que podemos assinar uma linha telefônica, que o serviço melhorou – aliás é ruim,não tem nada de concorrência, é caro e continua a ser monopólio.
    Com a mentalidade que existe tanto no seto político quanto empresarial do Brasil, as privatizações são só mais uma maneira de nos explorar ainda mais

    • Claudio Mafra disse:

      Claudia, muitos anos atrás eu estive com um amigo que acabara de deixar o governo. Tinha sido ministro do Planejamento e depois ministro da Fazenda. Perguntei: “Paulo, qual a maior dificuldade do Brasil, o que pega mais, qual o maior erro ?” Ele respondeu na bucha: “As estatais. São um saco sem fundo, não há dinheiro que chegue. Se fossem entregues de presente, se fossem dadas, para nós seria vantagem”.

  2. Claudia disse:

    Caro Claudio, acredito que ele foi sincero com esta questão, mas é sempre esta questão na teoria é uma coisa e na prática outra.
    Outro dia assisti um documentário muito bom mostrando como ficou a situação dos filipinos com a privatização do abastecimento de água. Posso te dizer, é assustador, sobretudo, pra variar, pra população carente.
    Não houve melhorias e nenhuma das promessas feitas pelos espertalhões foi concretizada. O serviço ficou bem mais caro.
    Algo diferente do que aconteceu no Brasil. Como povo, como usuária, quando estou no Brasil, acho os serviços, todos, ruins e caríssimos: eletricidade, telefonia, transporte, estradas..
    Ah as estradas então, o que dizer disso! As pessoas continuam pagando os diversos impostos que já existiam e ainda tem que pagar uma fortuna de pedágio!
    Na minha opinião, as estatais tem que ser bem gerenciadas, fiscalizadas e não esse cabidão de emprego que se tornaram, pois se forem privatizada daremos uma boa motivação para os “Evo Morales” da vida, para um novo golpe de Estado.
    Nestas eleições ficou bem claro como a nossa situação política é trágica.
    Todo mundo louquinho pra deitar e rolar neste dinheiro fácil e na total falta de impunidade.
    Quando o cidadão se der conta que não tem jeito, que ele tem que fazer algo mais do que pagar impostos e votar nas eleições, daí começam as mudanças.

  3. Jonas disse:

    a Sueli só esqueceu de dizer que o preço do minério aumentou mais de 5 vezes desde a privatização, certamente devido ao aumento da demanda e pouco a ver com a melhoria da oferta. Quanto a telefonia, ela parece esquecer que foi a evolução tecnológica que possibilitou a grande oferta de produtos e serviços. Ah, também não menciona que a telefonia brasileira é uma das mais caras do mundo (por favor, nao me venha falar q sao os impostos)…
    Por essas e outras, menos Sueli, menos…

  4. Manuel disse:

    O Jonas e a Claudia acreditam se a telefonia e a Vale estivessem na mão do estado, os preços seriam menores e serviços melhores? Tão de brincadeira. Compare à gestão de um hospital ou banco, por exemplo, privado e público.

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