Comentário do blog sobre: “O sucesso na tarefa de reconstruir uma nação” (David Brooks – NYTimes)

David Brooks é um dos mais importantes colunistas liberais dos EUA. O artigo é muito informativo, mas não poderia deixar de ser tendencioso. Ao contrário do que Brooks diz, Obama NADA TEM A VER COM O SUCESSO NO IRAQUE. Em 2007, Bush trocou de generais e nomeou Petraeus, que imprimiu, com grande sucesso, uma nova política contra os insurgentes. Desta forma, Obama não inventou esse brilhante comandante, como a imprensa faz crer, e além do mais, confirmou Robert Gates na Secretaria de Defesa. Para quem criticava pesadamente o que Bush fazia no Iraque, como vimos na campanha eleitoral, foi muita cara de pau manter os dois no cargo, ou, as críticas não eram sinceras, e sim desonestas. Obama só pode ter prejudicado a situação iraquiana, com a obsessão de marcar datas para a retirada. O mérito no Iraque é EXCLUSIVAMENTE de Bush, desde a decisão de atacar até o que se conseguiu de bom na administração do país. Lembro aqui as palavras do ex-presidente: “A retirada das tropas não será decisão dos políticos em Washington, mas sim dos generais” . E os generais acham que ainda não chegou o momento. Como eu já disse, que fiquem 50 anos por lá, não há problema algum. (mais comentários no próprio texto do artigo)

 


O artigo

A aventura americana no Iraque foi a guerra, mas também um exercício de construção de uma nação. Os Estados Unidos gastaram US$ 53 bilhões tentando reconstruir o Iraque, a maior iniciativa para o desenvolvimento desde o Plano Marshall.

Com que resultado? No plano econômico, há sinais de progresso. É difícil saber qual terá sido a contribuição dos projetos de desenvolvimento americanos espalhados pelo território, mas este ano o Iraque será a 12.ª economia em expansão em todo o mundo e deverá crescer num ritmo anual de 7% nos próximos anos.

“O Iraque fez progressos consideráveis desde 2003”, afirma o Fundo Monetário Internacional (FMI). A inflação é razoavelmente estável. Até 2012, espera-se um superávit orçamentário. O desemprego, embora ainda em 15%, diminuiu em relação aos níveis estratosféricos a que havia chegado.

A produção de petróleo voltou aos patamares anteriores à guerra e chega-se a afirmar que o Iraque poderá chegar aos níveis da produção saudita. Isso provavelmente não corresponde à realidade, mas o Iraque terá uma saudável economia com base no petróleo, para melhor e para pior.

O padrão de vida também melhorou. Segundo o Índice para o Iraque elaborado pela Brookings Institution, 833 mil iraquianos tinham telefones antes da invasão. Agora, mais de 1,3 milhão de habitantes têm telefone fixo e cerca de 20 milhões têm aparelhos celulares. Antes da invasão, 4.500 iraquianos tinham internet. Agora, são mais de 1,7 milhão.

Segundo a mais recente pesquisa Gallup, 69% dos iraquianos consideram positiva sua situação financeira pessoal, em comparação com 36% em março de 2007. Segundo os habitantes de Bagdá, o mercado voltou a ser vibrante, com novos produtos eletrônicos, vestuário e até mesmo lojas de bebidas.

Os serviços básicos melhoraram, mas ainda são ruins. A produção de eletricidade aumentou 40% em relação ao período anterior à invasão, mas como há um número muito maior de condicionadores de ar e outros aparelhos ligados, ainda ocorrem vários apagões.

Metade da ajuda enviada pelos americanos foi gasta para a criação de forças de segurança iraquianas e, neste caso também, as tendências são positivas. A violência caiu 90%, em relação aos dias anteriores ao envio do reforço. Agora, há mais de 400 mil policiais e 200 mil soldados iraquianos e seu desempenho melhora gradativamente.

Segundo uma pesquisa realizada em 2009 pela ABC News/BBC, 75% dos iraquianos disseram ter uma visão positiva do Exército e da polícia, até mesmo, pela primeira vez, a maioria dos sunitas.

Em termos políticos, a estrutura básica é saudável e foram aprovadas leis muito importantes. Mas essas conquistas são ameaçadas pelo atual impasse no topo do poder. O Iraque é o quarto país do Oriente Médio no Índice de Liberdade Política, da The Economist Intelligence Unit – atrás de Israel, Líbano e Marrocos, mas na frente de Jordânia, Egito, Catar e Tunísia. Cerca de dois terços dos iraquianos querem uma democracia, enquanto apenas 19% querem um Estado islâmico.

Em suma, tem havido um progresso substancial em relação aos pontos aos quais os esforços de desenvolvimento referem-se diretamente: crescimento econômico, segurança básica e instituições jurídicas e políticas. A construção do país foi um sucesso.

A confiança ainda é muito escassa. O Iraque é a quarta nação mais corrupta do planeta, segundo o sistema de classificação da Transparência Internacional. O papel das mulheres continua surpreendentemente limitado. Os políticos iraquianos acham claramente muito difícil aceitar o compromisso (embora talvez não sejam piores do que os políticos americanos a esse respeito).

Está faltando capital humano. A maior parte dos médicos deixou o Iraque depois da invasão e é difícil encontrar funcionários suficientes para atender num hospital. Os engenheiros também se foram, portanto, as fábricas construídas pelos americanos estão paradas, pois não há pessoal especializado para fazê-las funcionar. As escolas sofrem pela falta de professores.

Ryan Crocker, ex-embaixador americano, escreveu recentemente um artigo para a revista The National Interest observando que o medo ainda predomina no Iraque. As animosidades étnicas atenauram-se, mas não desapareceram.

Para ser honesto, Barack Obama terá de equilibrar o orgulho por esta realização ( Essa é ótima!!  Orgulho do que Bush fez. Era voz corrente em N.Yorque, em 2008, antes das eleições, que a partir de 2007 a situação no Iraque havia tido uma reviravolta para melhor, com a ida de Petraeus) com a cautela. Terá de admitir que as conquistas que os EUA permitiram poderão desaparecer se os militares americanos se retirarem totalmente no próximo ano. Terá de admitir que uma mudança social das bases até o topo exige tempo e paciência. Terá de dar ouvidos a pessoas que acumularam uma grande experiência sobre os problemas do Iraque, como Crocker, Michael O”Hanlon (da Brookings) e Stephen Biddle (do Council on Foreign Relations), e engavetar completamente seus planos de retirada. ( puxa, mas que final surpreendente! muito bom, nenhuma retirada, o que se aplica também ao Afeganistão )

Isso talvez o prive de um importante tema de campanha( claro, a retirada é pura demagogia para ser usada nas eleições e, além do mais, faz parte da posição liberal não aceitar guerras de maneira alguma, isso já está incorporado à História dos EUA. Afinal, eles se julgam americanos por acidente). Mas salvaguardará uma realização que os EUA pagaram muito caro para conquistar. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Publicado no Estadão em 1 de setembro /2010

3 setembro, 2010 às 09:35

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Categoria: Artigos

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