Declínio e Queda do Império Romano; Uma grande mentira brasileira: Darcy Ribeiro ; Preocupação de um pai com a doutrinação do filho na escola

Obama é a cafonalha, Romney é finesse.  Quando citou  Romney em um dos seus últimos discursos, e vieram as programadas vaias, o moleque interrompeu os ” búuuuuus” para dizer : ” O voto de vocês vai ser a VINGANÇA !”   Que coisa horrivel. Do outro lado, Romney parece “presidenciavel”, tem classe, uma certa ingenuidade, e  uma linguagem um tanto poética, que reflete exatamente o que os Estados Unidos precisam: voltar aos valores antigos de Deus, família, e amor ao país.  Obama é a encarnação do ódio. A esta altura o grande e arrogante demagogo está de crista baixa. Deve ganhar , mas dia e noite sofre a humilhação de saber que fracassou nos quatro anos de governo. Julgava-se extraordinariamente competente, e descobriu-se um amador, um homem sem talento, uma fraude até para si mesmo. Resta-lhe a ideologia  e… o ódio. Quando fala em vingança está pensando na sua vingança para os próximos 4 anos. Mesmo ganhando por pequena margem  vai tentar reformas que ferem no coração os patriotas. Uma delas pode ser a anistia geral, total, completa, incomensuravel, para todos os ilegais que estão explodindo com os Estados Unidos.  Se tiver, e (vai ter) a Suprema Corte na palma da mão, tudo é possivel, até abrir as fronteiras.   

Obama fracassou, mas o liberalismo, ou seja, o anti-americanismo, o sustenta, e os que se orgulham de seu país vão ter que engoli-lo outra vez.  Seus votos são também da juventude que sempre abraça a bandeira da rebeldia – não fosse milenar o conflito de gerações – são os votos dos hispânicos ignorantes, dos negros que não se envergonham de gritar  “racismo!”, mesmo quando sabem que não é verdade, e, se estão fracassando, os brancos ao seu lado também estão, só que estes não têm nenhuma desculpa. Também conta com o voto dos funcionários públicos, e de todos os que não querem trabalhar e anseiam pelo estado que os sustente, que vá bater em suas portas com o cheque na mão. Até pouco tempo também era dele a maioria dos votos das mulheres, que , sabemos, inclinam-se pelos gastos, querem mais creches, mais colégios, mais hospitais, ignorando que o governo não cria, mas aloca recursos. Vou repetir: Se as mulheres não votassem todos os presidentes americanos a partir de 1950 seriam republicanos, com exceção de Barry Goldwater.  O que se espera para hoje, terça-feira, é que seguramente Obama vença no Colégio Eleitoral. O voto popular ainda é uma incógnita, com Obama menos de 1% á frente.

Eu disse que Mitt Romney deseja os valores que repousam em Deus, família e amor ao país. Infelizmente sou ateu, isto é, perdi a fé, apesar de ser neto e bisneto de pastores presbiterianos, aquelas figuras notáveis que nada têm a ver com os atuais “evangélicos”.  Quando criança ia domingo de manhã à Escola Dominical aprender sobre a Bíblia, depois assistia ao sermão, que eu achava chatíssimo,e mais tarde, já adolescente, assistia aos cultos domingo de noite. Gostava de cantar os lindos hinos, alguns ainda do século dezenove, quase todos originários dos Estados Unidos, ou da Inglaterra.  Toda a liturgia era uma cópia do presbiterianismo praticado pelos americanos. Por volta dos 18 anos de idade deixei de acreditar em Deus.    

Meu grau de ativismo na esquerda só ficou abaixo do engajamento na guerrilha. O que eu fiz está em um ou outro artigo neste blog. Mas, posso dizer que fui indiciado em IPM ( Inquérito Policial-Militar), fugi de Brasília, e terminei  anistiado. O leitor interessado pode ler a crônica ” Crimes contra o Estado”, clicando em cima deste título. Quando por fim abandonei a esquerda, o que POUQUÍSSIMOS conseguiram fazer, não tive dificuldade em me identificar com o conservadorismo americano. Por isso contei, acima, a minha curta passagem pela igreja presbiteriana. Acho que posso entender muito bem o que Mitt Romney deseja, e pela forte experiência na esquerda também posso ver com clareza o desastroso caminho fascista (socialista) trilhado por Obama.

No caso da derrota de Romney, o que parece inevitável, acho que sendo bastante otimista TALVEZ o governo  Obama possa ter sido bom para os Estados Unidos. Cheguei a esta conclusão somente nestes últimos dias. A sua administração foi tão radical, que alertou os conservadores americanos para o risco de perderem a excepcionalidade de seu país.  Por isso o discurso de Romney está tão fortemente ligado aos valores que construiram a sociedade americana. Espero que o republicano que vier a ser candidato em 2016 seja o próprio Romney, ou algum outro disposto a desfazer, na medida em que for possivel, as barbaridades de Obama. Algumas coisas serão terriveis, a começar da composição da Suprema Corte, toda ela liberal, como eu disse acima. E essa gente não dá moleza. Vejam: o obtuso plano Obamacare passou na Suprema Corte apenas por um voto, o de minerva (o do presidente da Corte), dado por um juiz re-pu-bli-ca-no, nomeado por Reagan. Se esse sujeito não fosse tremendamente honesto, votando de acordo com a sua consciência,  o famoso plano de saúde teria sido REVOGADO, e Obama jamais conseguiria se reeleger depois de tal desmoralização. Nunca um juiz liberal teria esse comportamento. Todos eles interpretam politicamente a lei. 

É dificil a luta com  os liberais porque para eles os fins justificam os meios; o poder de mobilização é muito superior ao dos conservadores já que contam com a maior parte da juventude;  são extremamente agressivos e sempre na ofensiva; mas, sobretudo e principalmente: toda a imprensa está ao seu lado, com exceção da FOX NEWS. Os republicanos precisam recuperar o poder em 2016 para evitar que os Estados Unidos fiquem presos numa espiral descendente.  O Império Romano se desfez em virtude da corrupção de costumes e declínio guerreiro, culpa dos próprios romanos. 

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O EX – MINISTRO DA EDUCAÇÃO,  EDUARDO PORTELLA, PUBLICOU NO ESTADÃO UM HINO DE AMOR A DARCY RIBEIRO.  RESOLVI CONTAR A MINHA EXPERIÊNCIA PESSOAL COM DARCY, USANDO APENAS UNS POUCOS PARÁGRAFOS DO LONGO ARTIGO.

 

 

 

Darcy Ribeiro (Montes Claros, MG, 26 de outubro de 1922-Brasília, DF, 17 de fevereiro de 1997) foi o menos convencional, e talvez o mais destemido, dos nossos intelectuais. Lutou energicamente em várias frentes. Como antropólogo, professor, político, escritor de perfil plural, ensaísta, romancista, poeta, memorialista. Foi igualmente um bem-sucedido gestor cultural e educacional. Jamais pode ser visto como um conformado. Pertencia à família, não muito numerosa, dos militantes da esperança. Muito bem. Meu primeiro contato com Darcy foi em 1962, nos primeiros meses da  Universidade de Brasília. O campus ainda era um canteiro de obras, nosso entusiasmo enorme, e tínhamos vindo de todos os recantos do Brasil. A confraternização entre os professores e alunos era total, achávamos que construíamos alguma coisa notável, ímpar. Estávamos revolucionando o ensino universitário, éramos a vanguarda de tudo o que poderia haver de bom no Brasil.

Os alunos que gostavam de política já tinham uma tarefa:  Tornar realidade na UnB a palavra de ordem da UNE, ” Os estudantes exigem participar da gestão das universidades, na proporção de 1/3 na composição da sua diretoria”.  Que eu me lembre todas as universidades recusaram-se a sequer discutir a reindivicação estudantil. Ora, em nossa euforia e ingenuidade, supunhamos que conosco seria diferente, facílimo.  Acreditávamos que não havia no campo intelectual, em todo o país, uma entidade tão de vanguarda quanto a nossa, e, ademais, o reitor era nada mais, nada menos, do que Darcy Ribeiro.  Imagine só, se ele não ia dar pulos de alegria e imediatamente concordar conosco. Estava dificil levá-lo ao auditório Dois Candangos, ainda em construção, mas supúnhamos que ele era muito ocupado, apenas isso. 

Bem, afinal, um dia, lá estava a grande estrela, diante de não mais do que uns 20 estudantes. Logo descobrimos uma de suas características: não parava de falar. Parecia perder-se em voluptuosa admiração pela própria voz, pelos conceitos que emitia, em suma, estávamos descobrindo, devagar, que o homem gostava muitíssimo dele mesmo. Pior: depois de uma hora de verborragia percebemos que recusava-se a dizer qual era o organograma da direção da universidade. Prá que ? dizia Darcy.  Quem mandava era  ele, o reitor, tudo estava em sua cabeça, nós não tínhamos que nos preocupar com nada, apenas estudar. Qualquer problema era só procurá-lo. Fomos ficando perplexos. Esse era o famoso Darcy Ribeiro ?  Demorou, mas foi crescendo uma primeira fissura de desapontamento, e começamos a descobrir com quem estávamos tratando. Completamente acuado, afinal admitiu que havia uma tal de Mesa Executiva da Fundação Universidade de Brasília,  e lá ESTARIAM, não se sabe quando,  os gestores da universidade. Nesse momento levantou-se Rubem de Azevedo Lima, naquela época jornalista da Folha de São Paulo:  ” Professor, nós queremos participar da Mesa Executiva na proporção de um terço”.   Nossa, Darcy ficou apoplético. Jamais me esquecerei da cena. Gritando disse que:  ” O dia em que os estudantes participarem da Mesa Executiva eu largo a Universidade !!!”  Espantoso para nós. Saímos da reunião como adversários. E foi só o começo. 

Logo formaram-se pequenos grupos políticos de esquerda. O Partido Comunista, que em pouco tempo tornou-se fortíssimo como em nenhuma outra universidade no país (em virtude de Darcy ser, ou ter sido, comunista), a AP, Ação Popular (Serra), e a Polop (Política Operária). Todo mundo contra Darcy.

Continua o artigoCerta vez escreveu, com aquela pulsação vital que era bem sua:

“Fracassei em tudo que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei uma universidade séria, não consegui. Mas meus fracassos são minhas vitórias. Detestaria estar no lugar de quem me venceu”. É o mais puro Darcy. Megalômano, atribuia-se poderes que nunca teve. Quando conseguiria alfabetizar todo o Brasil, passando meteóricamente pelo ministério da Educação, um trampolim para o que realmente desejava e conseguiu, a Casa Civil ?  E esta outra maluquice, a de salvar os índios ? De que maneira ? Com que meios ? Uma vez o famoso sertanista Orlando Villas-Boas me disse, rindo : ” O Darcy não entende nada de índio!” Vindo do Orlando é absolutamente definitivo. Faltou o Eduardo Portella completar, porque Darcy também afirmou : ” Não consegui fazer a reforma agrária” . A reforma agrária!  Nada mais, nada menos, do que a reforma agrária! Parece até que foi presidente da república por uns 20 anos seguidos! 

E, quando voltou do exílio jantamos juntos: Zanine e sua esposa Tereza, minha namorada e eu, Darcy e V… uma das suas ex-amantes, ainda completamente apaixonada.  Não havia mudado nada, nadinha. Em determinado momento (não parava de falar ) se interrompeu para esclarecer melhor o que estava dizendo: ” Vocês sabem que o AI-5 foi editado por minha causa, não ? ”  Assombroso. Os militares editaram o famoso AI-5 pensando nele!  Todos continuaram mudos, e eu pensei: “o mesmíssimo Darcy, não aprendeu coisa alguma no exílio”. Zanine e Teresa foram embora , V, em prantos, voltou para casa ( Darcy não lhe disse nenhuma palavra carinhosa), e terminamos, minha namorada e eu, junto com ele, lá no final do Leme, um restaurante chamado Fiorentino (?)  Não é que o homem começa a contar como havia seduzido a mulher do seu amigo, um antigo professor da Universidade ? (Acho que foi no Chile). Deu um tremendo azar porque minha namorada conhecia os personagens ( eu também), e começou a passar no boquirroto uma tremenda descompostura. Foi tão forte que me lembro haver pensado que, ou ele lhe dava um tapa, ou se levantava e ia embora. Estava me preparando para a primeira eventualidade. Pois bem, Darcy engoliu tudo, e quando fomos embora ainda ficou de longe, patético, abanando a mãozinha, que eu podia ver pelo retrovisor do carro.

Era uma vocação ditatorial que se consumou na universidade de Brasília. Tive reuniões com Aldo Arantes, ex-presidente da UNE, e Vinicius Caldeira Brant, que era o presidente. Os dois estavam ansiosos para neutralizar Darcy. O nosso reitor já era o inimigo público número um da UNE. Acreditem se quiserem.  São muitos os episódios em que ele se mostrava absurdamente “reacionário”.  Não podíamos almoçar no bandejão, que era destinado apenas aos professores !  Pusemos fim à questão da maneira mais simples. Invadimos o restaurante, comemos, e dalí para a frente não houve como nos deter. A universidade pagava pessimamente, e os professores também o detestavam, inclusive os membros do Partidão. Quando concedeu um aumento mixuruca, Vânia (?), esposa de Theotônio dos Santos Junior, um expoente da radicalíssima Polop, foi reclamar com o nosso ditador: ela não havia recebido. Por que ? Ora, respondeu Darcy, porque era mulher do Theotônio ! O aumento era para o casal! Claro que no campus houve indignação e gargalhadas ao mesmo tempo. E Darcy tinha o maior prestígio com Jango, que o julgava um tremendo intelectual. Conseguir dinheiro não era dificil. 

Assim que foi nomeado ministro da Educação as preocupações da UNE aumentaram. Para os nossos propósitos ele era muito pior do que o antecessor. Por outro lado a situação na universidade melhorou. Só não precisar aguentá-lo já era ótimo.  Aliás, suas preocupações com a sua grande criação desapareceram. Revelou-se completamente: queria apenas o  poder, e quanto maior melhor. Terminou Chefe da Casa Civil. Nos últimos dias do governo, quando todos nós, inclusive Jango, perdemos a cabeça, ele mandou chamar o Meirelles (AP) e a mim ( AP), para uma conversa urgente no Palácio do Planalto.  Estava cheio de bom senso. Pediu-nos que evitássemos que os estudantes do curso secundário – UBES ( Associação Brasileira dos Estudantes Secundários), concentrados na rodoviária, cumprissem sua ameaça de invadir o Congresso. Queria que fossemos lá, conversar com eles. Só posso dizer que foi delicioso negar o pedido. Embora estivéssemos preocupados e cheios de dúvidas se era, ou não, uma loucura dos estudantes, respondemos que não iríamos, e para irritá-lo dissemos que os meninos tinham o nosso apoio.  Saimos de lá muito satisfeitos.  ( Os secundaristas não marcharam contra o Congresso).

Sua última mentira para mim eu já contei em outro artigo. Houve o golpe, e nós em Brasília ouvíamos apenas uma emissora, acho que a Rádio Nacional. Ela martelava que tínhamos apoio militar e que Jango estava forte. Os golpistas seriam presos. Hoje pode parecer ingênuo acreditar, mas creiam-me, não era. Assim, fui ao Palácio, e já não havia muito gente por lá. Entrei sem nenhum problema. Acho que nem me identifiquei. Andando pelas salas quase vazias vejo Darcy cruzando uma delas, todo apressado. Antes que pusesse a mão na maçaneta da porta seguinte eu gritei: ” Professor, quem está ganhando ?” Ele parou,  olhou para mim, e não vacilou um segundo:  “Nós. Nós estamos ganhando.” Abriu a porta e fugiu de Brasília.

Quando voltou do exílio seu prestígio era imenso. Foi recebido em triunfo na PUC do Rio. Eu fiquei furioso, é claro. Ele havia sido nosso adversário, um sujeito detestado pela esquerda, e agora tratava-se de um herói. Liguei para um amigo, ex-professor, que ainda morava em Brasília. Relacionei vários episódios lamentáveis de Darcy e perguntei se aquilo realmente havia acontecido, ou se eu havia sonhado, uma pergunta retórica. Ele riu, disse que tudo era verdade, mas o passado era para ser esquecido. Eu não me conformei e decidi fazer uma loucura. Iria à PUC durante uma das suas palestras e o confrontaria. Depois fiquei com medo. Conhecia bem demais seu poder verbal, e vi que seria destroçado. Resolvi esperar uma oportunidade em que ele não fosse o orador. Um realismo meio acovardado. Melhor do que não fazer nada. Logo aconteceu, e lá fui eu para a PUC. Pedi a palavra, apresentei-me, e falei durante uns dois minutos. Não tinha muitas ilusões. Enquanto falava senti que o desconforto era geral. Com toda certeza eu estava passando por ser um agente do governo, um “provocador”.  Quem presidia a Assembléia,  ( o que eu havia feito muitas vezes em minha vida ), foi inteligente, moderado, e habilmente me cassou a palavra. Eu me dei por satisfeito e fui embora. 

Haveria muito mais que eu poderia contar, mas nem vale a pena. Darcy foi um embuste, uma fraude. Com respeito ao seu talento como escritor, eu o acho um chato, e um anti-americano de nivel mais baixo do que o Arnaldo Jabor. Um  dia minha mulher estava lendo o “Maíra”. Não gostei nada, e como não via a porcaria do livro há muito tempo abri ao acaso e caí logo numa página na qual  ele infantilmente destilava sua raiva em cima do Peace Corps, uma instituição americana criada por Kennedy para ajudar a A.Latina. Um blá, blá, blá insuportável.  Quanto a ser indianista, também é mentira. Citei, acima, o comentário do Orlando Villas-Boas, talvez o maior sertanista que o Brasil conheceu. Fui ao Alto Xingú inúmeras vezes, era seu amigo, e ele não me diria abobrinhas. De qualquer forma nem precisava da informação. Para quem conhecia Darcy ele seria sempre, em qualquer área,   ” um mar no qual se podia andar com água pela canelas”. Exceção na arte de pegar mulher, o que tem o seu mérito. Nesse campo também era famoso, mas com justiça.

O restante do artigo está aí embaixo. Muita bobagem de um desinformado. 

São palavras nunca de um conformista, porém de um indignado, se recolhemos hoje os ecos da Plaza Mayor, de Madri. Indignado com a “situação calamitosa” (são palavras suas) da rede escolar pública, oscilando entre a magnitude e a precariedade.

As suas memoráveis memórias, Aos Trancos e Barrancos, se mantêm à distância do ajuste de contas e da queima de arquivos, marcas obsessivas do nosso memorialismo hegemônico. Em Darcy o que é bem visível são os movimentos crispados da história, movida pela memória viva, sanguínea, enérgica, porém imune ao ressentimento e à miséria humana.

Os caprichos do destino, em dias remotos de uma “Abertura” para inglês ver, me concederam a honra e felicidade de anistiar Darcy Ribeiro. Participei de uma guerra sem quartel. A chamada comunidade de informação, desinformada por vocação e vontade, não se conformou. Solicitaram que desanistiasse. Resisti. Foi uma das poucas batalhas que consegui vencer. Ela e os seus protagonistas desapareceram. Darcy continua vivo.

Talvez possamos tomar O Povo Brasileiro (1995) como o seu livro mais emblemático da formação e do sentido do Brasil. É o corolário de um esforço que vem de longe, infatigável e coerente, destinado a reconhecer a heroicidade anônima de mulatos e caboclos, de “mamelucos-brasilíndios”, pela nossa parte mitigada, filhos de negros e índios, sequestrados prematuramente em nome da civilização. Esse livro foi preparado por cinco antecessores muito bem acolhidos em várias geografias: O Processo Civilizatório, As Américas e a Civilização, O Dilema da América Latina, Os Brasileiros: Teoria do Brasil e Os Índios e a Civilização. Deve ser considerado o corolário porque arremata e leva às últimas consequências, sob a forma de uma insólita crítica da razão apropriativa, as mazelas dos poderes concentracionários ao longo de sucessivas hipotecas históricas. A essas obras se juntam outras, como A Universidade Necessária, proposta pedagógica que reoxigenou o ensino universitário na América Latina.

Darcy Ribeiro percorre, atentamente, o interminável caminho da exclusão. Acompanha toda a movimentação humana, e inumana, que impulsiona os deslocamentos populacionais, as ocupações territoriais, as desfigurações culturais, conduzidos pela exploração, o arbítrio, a violência. Ele observa de perto, certamente a contragosto, a desindianização e a desafricanização. Mas não deixa de saudar, compreensivamente, a emergência de tipos inesperados como o crioulo, o caboclo, o sertanejo, o caipira. Entre os brasilíndios, os afro-brasileiros, os neobrasileiros, os brasileiros, Darcy indaga, o tempo todo, pelo ser brasileiro. Sem fechar a questão, é claro.

O Povo Brasileiro adquire, logo de início, o jeito de um diálogo, não sei se confortável, mas em qualquer caso amistoso, entre o político e o cientista Darcy Ribeiro. O primeiro, terrivelmente veraz, deixa de lado as conveniências da frieza expositiva, ou do distanciamento crítico, para assumir, de corpo e alma, a paixão. Talvez até para desmentir o boato de que a paixão é inimiga da razão. O segundo reconstitui e descreve, com precisão, a história dos vencidos, mas sem deixar de matizar o desempenho dos vencedores. O cientista reconstrói o passado; o político traz o passado para o presente. O livro se mantém muito fiel a Darcy. Decifra enigmas que ficaram para trás, porém com mais liberdade; imune às pressões ideológicas. Até porque Darcy Ribeiro nunca foi bem tratado nem pela esquerda predatória nem pela direita alucinatória – ambas predominantes, e tão afins. O que ele quer é viver, abertamente, declaradamente, o sonho precoce de “uma teoria geral, cuja luz nos tornasse explicáveis em seus próprios termos, fundada em nossa experiência histórica”. São suas palavras.

O itinerário de O Povo Brasileiro cobre um período extenso, que vai desde as determinações iniciais da Revolução Mercantil até a industrialização e a urbanização da modernidade tardia, no seio das quais as relações de trabalho nunca deixaram de ser mais ou menos aviltantes. Antes mais do que menos. O cativeiro dos índios e a sujeição dos negros, comprados e coisificados, distribuídos no litoral e progressivamente no interior, tornaram-se, com o passar dos tempos, a nódoa maior do nosso trajeto “civilizatório”. Não somente: também o lugar tenso, em que o extermínio e a gestação, gravados contraditoriamente nas cores da pele, foi abrindo passagem para o advento do novo. Os escravos índios e negros, subjugados até a crueldade, resistiam culturalmente. Não raro, politicamente. Jamais economicamente ou tecnicamente. Aí as armas eram extremamente desiguais.

Mas o livro de Darcy Ribeiro evita permanecer sob as ordens da memória, e acatar obedientemente os desígnios da tradição patrimonial, certamente tombada e cuidadosamente guardada, debaixo de sete chaves, nas gavetas de alguma Torre famosa. Se assim fosse, não seria Darcy, nem estaríamos falando de um livro-vida. Ele reconstitui, calorosamente, todo o processo da construção do homem tropical lusofalante, recorrendo aos documentos fornecidos pela Coroa e pela Igreja, e desde o momento em que se alternam, harmoniosamente, a razão de Estado e a ratio studiorum. E já nesse amanhecer era possível perceber, no espelho enviesado da colonização, não por acaso contemporâneo do maneirismo, as impurezas da razão. Mas o autor imprevisível, vez por outra reaproxima a generosidade da raiva, absorvendo as contradições do percurso. Nessa hora, os portugueses são distinguidos com um ou outro reconhecimento, do tipo: “O engenho açucareiro, primeira forma de grande empresa agroindustrial exportadora, foi, há um tempo, o instrumento de viabilização do empreendimento colonial português e a matriz do primeiro modo de ser dos brasileiros”. Esses instantes de armistício, vale lembrar, ocorrem sem muita insistência. Darcy prefere exaltar o reverso da medalha. O índio e o negro, pelo menos na cena colonial, e na reviravolta proposta pelo autor de O Povo Brasileiro, foram atores muito mais criativos do que poderia imaginar a montagem importada.

Darcy Ribeiro está empenhado em denunciar o dispositivo da exclusão. Ele fotografa os mecanismos de dominação em movimento, contesta a unidade forjada pela violência, e se espanta ao constatar a síndrome da feitoria perturbando a produção qualitativa da sociedade. Chega aos nossos dias, à mundialização de mão única, ao descalabro da cidade e, por consequência, do que deveria ser a vida urbana na comunidade de cidadãos.

Ao deparar-se com “o povo-massa, sofrido e perplexo”, o otimismo constitutivo, talvez até biogenético, de Darcy Ribeiro, parece experimentar ligeiro abalo. O radical esforço reflexivo de O Povo Brasileiro é confrontado com duas legendas dificilmente conciliáveis: a do “povo-nação” e de “povo-massa”. Tudo dependerá, sou levado a supor, da consistência do povo, ou da taxa de povo introjetada na massa, ou da nossa capacidade de, através da educação, desmassificar a massa. Darcy nos conduz para um debate que, pelo menos até aqui, continua em aberto. No primeiro movimento, ele se choca com a voracidade mundializadora; no segundo, abriga uma cisão interna que, justamente por causa da globalização e de seus correlatos comunicativos, tende a incompatibilizar povo e massa. É forte a tendência para admitir que perdemos as chances, os prazos históricos, para a realização da categoria povo, tal como emergiu e se plenificou em algumas de nossas matrizes ocidentais. Não é menos plausível a conclusão de que só nos resta a opção de reencaminhar singularmente esse fenômeno desconcertante a que batizamos com o nome de massa. Nesta hipótese, a massa, que seria o povo sem rosto, fatalmente anônimo, teria de ser reprogramada, pelos instrumentos insubstituíveis da cultura, da educação, da ciência, da comunicação.

Darcy Ribeiro permanece esperançoso, confiante no povo novo, e investe todas as suas energias vitais e intelectuais – e nele as duas coisas se confundem – na “vontade de felicidade” do povo brasileiro, na “Nação Latino-Americana sonhada por Bolívar”. A impressão de resvalar no psicologismo, apostando todas as suas economias na “felicidade” possível, logo se recupera no questionamento da cordialidade inata que, em dias mais radiosos, chegou a embalar o sono, e talvez o sonho, das aspirações nacionais. Darcy guardou, da história e de episódios recentes, exemplos sucessivos de ausência total de cordialidade. Uma conclusão alternativa, sem maiores compromissos, merece ser lançada: inexiste povo vocacionalmente avesso à felicidade, e congenitamente destinado à cordialidade? Não creio. O que existe é o caminhar do caminho. E ninguém melhor do que Darcy sabe de cor e de coração a cartografia dessa viagem.

O olhar interpretativo de Darcy Ribeiro, no seu afã de dar conta da complexidade, inscrita visceralmente na formação e no sentido do Brasil, recorreu à cooperação interdisciplinar. O seu saber, fortemente empírico, se relaciona com o seu viver. Nem por isso ele cede ao narcisismo biográfico. As pequenas digressões autobiográficas são logo abandonadas, ou porque se reconhecem públicas e notórias, ou porque não têm dúvidas quanto ao descrédito que envolve hoje os gêneros pessoais, submersos nas fantasias de memórias e diários pós-fabricados. Em Darcy, a vida o ajuda a ver. Daí que o seu livro contenha uma vibração existencial pouco frequente.

Em O Povo Brasileiro, a fluência narrativa com que as situações se encadeiam nos propicia a descrição precisa e sentida, do desenrolar sinuoso, da corrida de obstáculos, do infindável passar a limpo que, ainda hoje, interdita o trânsito, paralisa a circulação cidadã.

A qualidade do texto, nesta obra, se une e facilita a vida do trabalho crítico deliberadamente enraizado. O enraizado aqui tem o uso específico que lhe confere o próprio Darcy, sempre e sobretudo quando se abre para a ambicionada “nova romanidade”. Mesmo fazendo ficção, em Maíra ou em Migo, por exemplo, o escritor interpela, pergunta incessantemente pela nossa gente, sua identidade e sua diferença. E ninguém como ele conseguiu transformar, sob os auspícios da linguagem, a esperança em realidade – descobrindo Brasis, inventando mundos.

Nos campos da Educação e da Cultura as suas impressões digitais permanecem como indicações de caminho: o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, juntamente com Anísio Teixeira, o Ministério da Educação altivo, a Universidade de Brasília, os 500 Cieps implantados no Rio de Janeiro, a Universidade Estadual do Norte Fluminense, o Sambódromo, a Lei de Diretrizes e Bases, marcos da ação integrada de educação, ciência, cultura, a serviço da transformação social.

Assim como há os Darcys do Brasil, existem também os Brasis de Darcy. É uma constelação solidária e, apesar de todos os pesares, e de todos os maus-tratos, confiante.

Ele se empenhou em denunciar o dispositivo da exclusão, opondo-se com rigor à unidade forjada pela violência

 

ECONOMIA

E IDEOLOGIA

Notas de aula de um curso de

Introdução à Economia Política

 

Primeiro Capítulo

 

A ideologia econômica e a arte de encharcar esponjas

A opinião das outras pessoas vai se escorrendo delas,  sorrateira,  e se  mescla aos tantos, mesmo sem a gente saber, com a maneira da ideia da gente!” (Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas).

 

Meu filho está no nono ano do ensino fundamental. Estuda em uma escola particular de classe média. Eu não esperava que, tão precocemente, ele fosse sofrer uma grande pressão doutrinária, para não dizer lavagem cerebral (termo em desuso) por parte dos defensores da intervenção estatal como único caminho possível para solução de todas as mazelas sociais. Frases como “o maior economista de todos os tempos foi Karl Marx”, dita pela professora de história e “o capitalismo é o grande responsável pela destruição do meio ambiente e pela poluição no planeta”, dita pelo professor de geografia, causaram-me grande perplexidade. Não demorou muito para meu filho surgir com a pergunta que iria me levar para o paredão dos pais: pai, você é neoliberal?  Eu não acredito! Todo mundo sabe que é uma ideologia ruim para os pobres.

1.1.Uma pergunta constrangedora

 

É uma pergunta verídica. Não foi formulada exatamente com essas palavras, mas a ideia está nitidamente preservada nas três frase acima. Meu filho ainda não sabe, mas ele é keynesiano.

Sou um pai curioso. Iniciei a investigação dos motivos deste keynesianisno precoce. Como bom keynesiano meu filho estava muito confuso. Ele criticava as privatizações realizadas no Governo FHC, reclamava da globalização, dos imperialistas, da má distribuição de renda e do tal neoliberalismo. Desconfiei um pouco dessa versão keynesiana, pareceu-me um Keynes muito a esquerda. Não tentei demovê-lo de suas ideias. Pedi apenas que ele investigasse um pouquinho mais sobre economia antes de escolher seu “time”. De vez em quando conversamos sobre o assunto. Estou otimista. Ele está repleto de dúvidas sobre suas escolhas.

Gostaria de poder dizer ao meu filho, utilizando uma citação de Almeida (2010), simplesmente, que:

A rigor, o neoliberalismo não existe, sendo apenas e tão somente um revival, ou renascimento, de uma velha escola de pensamento econômico e de orientações em matéria de políticas econômicas que se filiam ao antigo liberalismo doutrinal que surge na Grã-Bretanha a partir dos séculos XVII e XVIII. Aliás, nenhum “neoliberal” consciente e consequente se classificaria dessa maneira: ele apenas diria que segue os princípios do liberalismo (econômico ou político, não vem ao caso diferenciar aqui os dois sistemas, que não são idênticos, mas tampouco estranhos um ao outro) e ponto final; todo o resto seria dispensável. Neoliberal é, como já referido, um epíteto criado pelos opositores do liberalismo ou, se quisermos, um conceito que busca evidenciar, justamente, o retorno do antigo liberalismo, depois de um longo intervalo marcado por práticas e orientações claramente intervencionistas e estatizantes [ALMEIDA, 2008: p.3].

 

Farei um caminho mais longo. Não vai ser fácil convencê-lo de que o tal neoliberalismo é uma invenção. As ideias do meu filho fazem parte de uma ideologia presente no ensino fundamental e médio no Brasil. Acredito que no ensino superior não seja diferente. Ideologia é uma espoja que está na cabeça das pessoas. As ideias vão chovendo e encharcando a espoja. Quando você percebe, ela está encharcada e não tem espaço para mais nada, principalmente para ideias diferentes das originais. A maioria dos alunos que inicia o curso superior esta com a esponja encharcada. Ela é incapaz de absorver outros conceitos, outras ideias. Minha intenção é torcer a esponja e chover outras ideias. Não é uma tarefa fácil.

1.2 Como se encharcam as esponjas

 

Por que a maioria dos alunos tem uma ideologia econômica “keynesiana” ou, ainda, “marxista”? A resposta não é difícil. Foram essas ideias que choveram neles durante anos e inundaram suas esponjinhas. Vejamos a citação a seguir. Ela se refere ao período do 1º governo FHC. Foi extraída do livro de história do meu filho:

O governo FHC prosseguiu com o programa neoliberal iniciado no governo Collor. Pôs fim ao monopólio estatal sobre petróleo, telecomunicações, distribuição de eletricidade e de serviços de gás, serviços de saneamento e navegação de cabotagem. Levou a efeito a privatização da Light, Vale do Rio Doce, Telebrás e outras estatais. Determinou cortes nos gastos públicos (38% dos quais na área social) e alterações na legislação trabalhista [RODRIGUES, 2009: p. 284].

Percebe-se, claramente, a contrariedade da autora com a continuidade do programa neoliberal: fim de monopólios estatais, privatizações e corte de gastos, inclusive os gastos sociais. Ações que, caso eu confessasse concordar com elas, com certeza, seria suficiente para levar-me para o inferno dos pais. Bem, ainda não é hora de discutir o mérito dessas ações, nem a absurda afirmação de que houve um corte de 38% nos gastos da área social. Um corte nesse patamar inviabilizaria qualquer governo, por mais radicalmente “neoliberal” que ele fosse. Estamos, por enquanto, preocupados apenas com o processo de formação da ideologia ou como a esponja é encharcada.

Imagino as afirmações da citação sendo explicadas por um jovem professor de história, que estudou com os mesmos livros da autora. Ele ensina a dezenas de adolescentes com as esponjinhas ressequidas, ávidas por ideias. Vocês são capazes de imaginar que tipo de temporal de ideias “chove” durante essas aulas? Vejam mais uma citação do referido livro:

Para   equilibrar   as   contas   públicas,   objetivo   exigido   pelo   Fundo Monetário Internacional (FMI), foi aprovada, em 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal que proíbe os governos federal, estadual e municipal gastar mais do que arrecadam [RODRIGUES, 2009: p. 286].

É nítida a discordância da autora com a edição da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), um instrumento do neoliberalismo, assim como o FMI.   Embora, novamente, ainda não seja o momento de tratar do mérito das afirmações da autora, importante lembrar que a lei em questão é, sem sombra de dúvidas, uma das maiores vitórias do Estado brasileiro. Atualmente ela é uma unanimidade entre os economistas. Algo parecido com a LRF, que possibilite a disciplina fiscal dentro de uma federação, é a grande busca da União Europeia. A existência de tal instrumento na Europa teria, senão evitado, produzido uma crise bem mais amena que a atual, pois um dos principais problemas da União europeia é gerado pelo grande endividamento de alguns estados membros, ou seja, uma crise fiscal, produzido pelo orçamento desequilibrado desses estados. Vejamos um pouco mais do livro de história

Os neoliberais pregam a redução ao máximo da interferência do Estado na economia, o fim do controle de preços, a eliminação de subsídios, a venda de empresas estatais (privatização) e a abertura da economia aos investimentos estrangeiros (…). Também não concordam com os gastos sociais do Estado (seguro-desemprego, aposentadoria, pensões, auxílio- doença entre outros). Criticam a legislação trabalhista e defendem que as empresas devem ter liberdade de decidir sobre jornada de trabalho, 13º salário, licenças e demais normas (…). A política neoliberal provocou o distribuída, aumentou a distância entre ricos e pobres [RODRIGUES, 2009: p. 306].

 Imagine o conflito de um adolescente ao pensar, na remota possibilidade, que seu pai possa defender ideias tão absurdamente perversas. Escolher que ideias vão conduzir nosso comportamento econômico não pode ser um processo idêntico ao da escolha de um time de futebol, pelo qual você irá torcer o resto da vida. Não deve ser uma escolha emocional. Essa escolha deve passar por um processo racional. Vamos submeter os argumentos da citação acima a um processo de análise racional. Para tanto, vamos supor que exista alguma causalidade entre o neoliberalismo e a série de maldades de que ele é acusado.

Concordo em parte com o trecho “os neoliberais pregam (…) o fim do controle de preços, a eliminação de subsídios, a privatização e a abertura da economia aos investimentos estrangeiros”. Os liberais1 são contra o controle de preços, pois ele é ineficiente, não sendo mais adotado em países avançados. Também, quase sempre, são contra subsídios, que, na verdade, nada mais são que redistribuição de renda às avessas, dos mais pobres para os mais ricos. Os liberais também acreditam que a alocação de

recursos produtivos é realizada com mais eficiência quando os próprios indivíduos, enquanto empresários e trabalhadores, podem fazer livre uso dos fatores, mostrando capacidade e iniciativa para fazê-los render plenamente. Defendem que o estado deve concentrar esforços na produção do bem-comum e não na produção de bens e serviços. Acreditam que a livre iniciativa possui incentivos que conduzem a uma maior eficiência alocativa no processo produtivo. Quanto aos investimentos estrangeiros, em um país como o Brasil, onde a falta de poupança interna sempre foi um dos grandes limitadores do crescimento econômico, existe, afora os livros de história do nono ano, alguém contra o investimento estrangeiro?

A afirmação “os neoliberais pregam a redução ao máximo da interferência do Estado na economia”, que dá início ao trecho citado, deve ser relativizada. É verdade que os liberais acreditam que, quando um mercado funciona bem, não é necessária uma grande intervenção do estado. Essa é uma afirmação de deve ser apresentada de modo relativo.  A  autora  a  apresenta  de  modo  absoluto,  universal,  o  que  a  faz  ser compreendida em um sentido totalmente diferente.  O mesmo método é utilizado no trecho seguinte da citação: “também não concordam com os gastos sociais do Estado (seguro-desemprego, aposentadoria, pensões, auxílio-doença entre outros). Criticam a jornada de trabalho, 13º salário, licenças e demais normas”. Novamente, as afirmações da autora são verdade apenas de modo relativo. Não é verdade que os neoliberais não concordem com seguro-desemprego, aposentadoria, pensões e auxílio-doença. Esses direitos são fruto de uma longa construção da sociedade, portanto devem ser mantidos e, dentro das possibilidades, até ampliados. Também não é verdade que defendam que as empresas devem ter liberdade de decidir sobre as questões trabalhistas. O argumento liberal  é  que  a  negociação  entre  as  partes  (empresas  e  empregados)  pode  gerar incentivos melhores que a fixação de um contrato padrão, estabelecido por uma lei que não possibilite a flexibilização da relação de trabalho.

A confusão existe porque os liberais estão sempre batendo na mesma tecla. São uns chatos. Ficam lembrando-nos o tempo todo que os bens não são livres, que os recursos são escassos, que ainda não encontramos o gênio da lâmpada, que transforma todos os desejos em realidade. Em outras palavras, gastos sociais exigem recursos para serem  financiados.  Esses recursos  não  são  fornecidos  pelo  gênio  da lâmpada.  É  a própria sociedade que os fornece. Então, a discussão relevante é como financiar de modo sustentável os gastos sociais e não como acabar com eles.

O último trecho da citação é, com certeza, o mais preocupante, pois autora emprega  premissas  falsas  em  suas  afirmações.  Ela  acusa  a  política  neoliberal  de provocar o desemprego e aumentar a miséria.  Essas afirmações contradizem totalmente a realidade observada na economia real. No que se refere ao desemprego, comparações dos últimos cinquenta anos mostram que os níveis de desemprego em países que adotam políticas mais liberais são significativamente menores que as taxas observadas nas economias em que há forte intervenção e regulação estatal.

Também não há qualquer indício de que em países que adotaram politicas mais liberais2 houve aumento da miséria. Pelo contrário, a pobreza e a miséria quase sempre estão vinculadas a economias que possuam governos fortemente intervencionistas. Embora a famosa letra de uma música, do conjunto de rock nacional Titãs, diga que “miséria  é  miséria  em  qualquer  parte”,  podemos  afirmar  que  isto  não  é  verdade: misérias  são  diferentes.  Países  que  possuem  economia  de  mercado  solidificada  e arranjos institucionais que garantam a manutenção dos contratos foram mais efetivos na redução da miséria dentro de suas fronteiras. O problema da miséria não é gerado pelo excesso de mercado, mas sim pela falta de mercados. Então, o papel do Estado não deve ser acabar com os mercados,  mas proporcionar  condições para seu pleno funcionamento.

É bom esclarecer que mercados devem ser vistos como instrumentos de solução para os problemas econômicos. Eles não são milagrosos. Há inúmeros problemas que eles não resolvem.  Se sua plataforma não for sólida serão ineficientes. Mercados não são progressistas, ou reacionários, não são de direita, nem de esquerda. Os mercados são absolutamente neutros em relação a quaisquer escolhas individuais das pessoas; eles são apenas e tão somente um espaço de trocas voluntárias. Não devem ser reverenciados ou execrados. Entretanto, é necessário deixá-los operar onde forem úteis3.

Outra premissa errada, muito empregada para encharcar as esponjas, é a ideia de que  o  neoliberalismo  é  um  instrumento  da  globalização  e  que  esta  última  é  a responsável pelos males que afligem os países pobres. Voltando ao livro de história:

Devido à globalização, grande parte dos produtos industrializados deixou de ter nacionalidade definida. A integração de mercados levou, também, à interdependência econômica entre os países (…). Interessa às empresas e bancos transnacionais a livre circulação de mercadorias, serviços e capital pelo mundo e, portanto, a redução e a eliminação das taxas alfandegárias.  Daí  esses  grupos  defenderem  o  liberalismo [RODRIGUES, 2009: p. 306].

O interesse das empresas e dos bancos está vinculado apenas à concretização de negócios e consequente realização de ganhos. Afinal de contas é para isso que essas instituições foram criadas. A defesa da redução ou da elevação de tarifas alfandegárias por essas instituições depende do lado do balcão em que elas estiverem. Ou seja, se a maximização  dos  ganhos  depende  da  elevação  de  tarifas,  essa  será  a  política  da empresa. O contrário também é verdadeiro. Novamente, não vamos entrar no mérito sobre questões tarifárias. O ponto focal aqui é verificar a ligação que é feita entre o liberalismo e a globalização.

1.3. Correlações falaciosas: neoliberalismo, globalização, pobreza e desigualdade

 

Retornei a estante de livros do meu filho. Coloquei o livro de história em seu lugar. Saquei o livro de geografia do nono ano. Autores diferentes, a mesma chuva: Ao aumentar a concentração de renda, o processo de globalização elevou as desigualdades econômicas entre os países. Isso significa dizer que, de maneira geral, o mundo desenvolvido ficou ainda mais rico, e o subdesenvolvido, muito mais pobre [BOLIGIAN et. al, 2009: p. 57].

Agora são quatro geógrafos que vão nos ensinar todos os malefícios da globalização e da ideologia liberalizante que ela defende. A citação não deixa dúvidas: a globalização eleva as desigualdades entre os países.

A relação entre globalização, pobreza e desigualdade é um típico exemplo de uma falácia lógica, que os operadores de direito chamam de post hoc, ergo propter hoc. Pobreza e subdesenvolvimento possuem inúmeras causas, quase sempre construídas endogenamente,  relacionadas  à  incapacidade  de  construir  mercados  que  funcionem bem. O erro lógico é supor que se duas variáveis caminham juntas, existe uma relação de causalidade entre elas. Então, o raciocínio dos autores é: como houve uma expansão da globalização e a pobreza também cresceu: a globalização causa a pobreza. Esse argumento possui a mesma coerência de dizer que: cresceu a quantidade de lâmpadas destinadas para iluminação pública na cidade e, como também, cresceu o número de assaltos à mão armada, uma coisa causa a outra. Em outras palavras, não há argumento lógico que possa indicar claramente a relação causal entre globalização e pobreza.

Entretanto, por hipótese, vamos supor que seja possível que haja alguma ligação entre globalização e pobreza. Caso essa relação exista, ela ocorre no sentido inverso ao sugerido pelos autores. Será que não é nítido o que vem acontecendo no mundo nos últimos vinte anos? O enorme crescimento/desenvolvimento de diversos países, antes considerados subdesenvolvidos, entre eles o Brasil, a China, a Rússia e a Índia, para ficar apenas nos BRICS, não seria claro sinal de que existe um movimento no sentido de redução da pobreza? É evidente que este crescimento não é suficiente para acabar com as desigualdades. Em países de crescimento desigual, quando apenas uma parcela da população enriquece e outra grande parte não consegue melhorar sua renda ocorre, evidentemente, no curto prazo, uma elevação das desigualdades. Entretanto, isso pode não ser intrinsecamente ruim.

Para Sala-i-Martin (2005)4  as taxas de pobreza entre 1970 e 2000 caíram entre um terço e metade. Havia entre 250 e 500 milhões a menos de pobres em 2000 do que em 1970. Foram estimados oito índices de desigualdade para esse período. Todos mostraram  reduções  na  desigualdade  entre  a  renda  individual.  Para  Firebaugh  e Goesling (2004)5  a desigualdade de renda mundial tem diminuído nas últimas décadas como resultado da globalização econômica. Os principais argumentos de Firebaugh e Goesling giram em torno da rápida industrialização nas regiões densamente povoadas da China e da Índia como fatores responsáveis pela redução da pobreza.

Ortiz e Cummins (2011)6 publicaram, recentemente, um amplo trabalho sobre as desigualdades  mundiais.  O  estudo  ratifica  a  ideia  de  que  vivemos  em  um  mundo bastante desigual. Entretanto, assim como indicaram os demais autores, os resultados apontam para uma discreta redução das desigualdades de renda no mundo.

As duas tabelas apresentam a evolução da distribuição de renda, por quintil da população, nos períodos de 1990, 2000 e 2007. Divide-se a população em cinco partes iguais.  O primeiro quintil (Q1) representa os 20% mais pobres da população e assim sucessivamente até o quinto quintil (Q5) no qual estão os 20% mais ricos da população.

Tabela 1.1 Renda Global

Distribuição da renda por quintil da população, em dólares de 2000

Quintil de renda

1990

2000

2007

Q5

87.0

86.8

82.8

Q4

8.1

7.5

9.9

Q3

2.8

3.2

4.2

Q2

1.4

1.6

2.1

Q1

0.8

0.8

1.0

Fonte: Ortiz e Matthew. Global Inequality: Beyond the Bottom Billion – A Rapid Review of Income

Distribution in 141 Countries. United Nations Children’s Fund (UNICEF), New York, April 2011, pg 3.

 

A Tabela 1.1 mostra a distribuição de renda, mensurada em dólares constantes do ano de 2000.  Observa-se que houve uma redução no percentual de renda do primeiro quintil de 87,0% para 82,8%. Em todos os demais quintis houve uma pequena elevação de sua participação na renda.

A Tabela 1.2 mostra a distribuição de renda medida pela Paridade de Poder de Compra (ou PPP-Purchasing Power Parity) de 2005. A utilização da PPP é a mais adequada para realizar comparações internacionais, pois um dólar tem capacidade de compra diferente nos EUA, na China ou na Índia. O conceito de PPP utiliza uma cesta única internacional de mercadorias e serviços que é periodicamente arbitrada a partir de pesquisas de preços e composição de gastos nos diferentes países analisados. Desta forma ela apresenta uma medida mais realista para comparações de renda7.

 

Tabela 1.2 – Renda Global

Distribuição da renda por quintil da população, em PPP constante 2005

Quintil de renda

1990

2000

2007

Q5

75.3

74.4

69.5

Q4

14.9

14.2

16.5

Q3

5.4

6.3

7.8

Q2

3.0

3.4

4.2

Q1

1.5

1.7

2.0

Fonte: Ortiz e Matthew. Global Inequality: Beyond the Bottom Billion – A Rapid Review of Income

Distribution in 141 Countries. United Nations Children’s Fund (UNICEF), New York, April 2011, pg 7.

 

Na Tabela 1.2 percebe-se, também, a continuidade da grande concentração de renda, pois, em 2007, 69,5% das riquezas estão nas mãos de um quinto da população. Entretanto, considerando a mensuração da PPP, quando comparada com a mensuração em dólares, a participação dos primeiro e segundo quintis multiplica-se por dois.

1.4.  O mundo real

 

Não existe fundamentação para a hipótese de que a globalização e o neoliberalismo sejam causadores do aprofundamento da pobreza e das desigualdades sociais. Caso exista alguma relação, o contrário parece ser bastante mais provável. Para Almeida (2008) quando examinamos dados econômicos relativos à renda, riqueza e prosperidade de um conjunto significativo de países, dividindo-os em os mais “neoliberais” (abertura ao comércio e aos investimentos, menor regulação estatal de atividades de produção e distribuição, fluxo livre de capitais e fixação dos juros e câmbio pelo mercado) e os menos liberais, teríamos uma correspondência quase perfeita entre maiores coeficientes de abertura, isto é, maior grau de “neoliberalismo”, e maior renda e prosperidade.

A constatação de que houve uma melhoria da distribuição de renda não é compartilhada pelos autores do livro de geografia do nono ano.

Ao longo deste capítulo, foi possível verificar como a globalização vem acentuando ainda mais as desigualdades entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos (…). Conclui-se então, que a globalização traz oculta a lógica da acumulação capitalista, baseada na crescente concentração da riqueza nas mãos de poucos e no empobrecimento da maioria. Assim, a globalização expressa à fase mais atual do processo de exploração – subordinação entre os países do mundo [BOLIGIAN et al, 2009: p. 59].

Agora temos uma informação importante que pode explicar o posicionamento dos autores dos livros do nono ano: “a globalização traz oculta a lógica da acumulação capitalista”.   Em outras palavras, o que angustia os autores é que eles estão “subordinados” a lógica de acumulação capitalista. Aprofundaremos essa discussão nos próximos capítulos.

Vamos encerrar, por enquanto, a discussão a respeito das relações entre globalização, neoliberalismo e pobreza utilizando outra citação de Almeida (2008):

Assim, considerar que a “acumulação” neoliberal ampliou a pobreza em todos os cantos do mundo, aprofundou as desigualdades e provocou o cortejo de misérias que são registradas em áreas jamais tocadas por políticas e práticas neoliberais – qualquer que seja o entendimento que se dê ao conceito em questão – configura um tipo de fraude que só consegue ser repetido impunemente em salas de aula universitárias porque a academia brasileira é pouco responsável no “controle de qualidade” dos cursos da área de humanas e nos métodos de avaliação de docentes manifestamente despreparados para cumprir o programa do qual são encarregados. Para sermos mais precisos, estamos em face de uma desonestidade intelectual que só encontra paralelo em apresentações de mágicos de circos mambembes [ALMEIDA, 2008: p.5].

1.5. Qual é a ideologia econômica dominante?

 

As escolas keynesiana e marxista são quase um consenso entre os responsáveis por encharcar as espojas. Para Carvalho (2002) esse consenso é originário do socialismo fabiano. Keynes seria, então, um socialista fabiano. O nome é inspirado no general Fabius Maximus, que salvou Roma evitando travar batalha em campo aberto com o comandante cartaginês Aníbal, recorrendo a métodos indiretos de guerra. Os socialistas fabianos são adeptos de uma estratégia politica gradualista, que se dedica a doutrinar o estamento superior da intelectualidade, apossar-se dos canais de difusão de ideias, do aparato estatal, da igreja, das artes, dos sindicatos e tudo que for útil para a implementação de um governo socialista.

A culpa das crises e de todos os problemas econômicos é dos empresários e especuladores. A solução passa por outorgar mais poder e dinheiro aos políticos e aos intelectuais que defendem o socialismo fabiano. Devemos retirar o poder do mercado e entregá-lo a onisciência e benevolência dos agentes públicos, incorruptíveis guardiões do bem-estar coletivo.

A questão é que o bem intencionado socialismo fabiano, que objetiva a melhor distribuição da prosperidade social e a melhoria de vida dos mais pobres através da distribuição, pelo Estado, da riqueza dos mais afortunados, produz menos resultados práticos do que os esperados. Para Carvalho (2002), todo socialismo é uma conspiração de elites pensantes com vistas ao poder político em beneficio próprio. A superioridade do fabianismo, em relação ao marxismo, reside em sua flexibilidade e adaptabilidade.

O  mercado  é  absorvido  e  incorporado  na  medida  em  que  permite  a própria sobrevivência do sistema, pois sua supressão é inviável. Mas não se trata de economia de mercado capitalista, e sim de um “setor privado” estritamente regulado e manietado, sujeito a altas cargas tributárias e uma miríade de regulamentos, licenças, subsídios etc incompatíveis com a liberdade econômica e a dignidade humana; e de um “setor público” gigantesco, tentacular, parasitário, que alimenta seu furor esbanjador confiscando riqueza produzida no “setor privado” [CARVALHO, 2002: p. 52].

 

Podemos, então, sem medo de errar, classificar os professores, autores de livros para o nono ano do ensino fundamental, como socialistas fabianos. Embora eles não acreditem que os políticos, de um modo geral, estejam preocupados com o bem estar da sociedade, curiosamente, eles creem que, esses mesmos políticos, quando assumem os poderes do executivo, quando controlam o estado, metamorfoseiam-se em agentes públicos oniscientes e benevolentes, assessorados por incorruptíveis guardiões do interesse público. Cabe a esses nobres cidadãos controlarem os impulsos do capitalismo (dos neoliberais), puxar as alavancas e acionar os botões da máquina macroeconômica keynesiana, perpetuando assim o equilíbrio com pleno emprego. Esses seres divinos são capazes de resistir às tentações de usar em causa própria o enorme poder que se concentra no governo. Evidentemente esse postulado deve ser rejeitado instintivamente por absurdo. Malgrado seja possível que um ou outro agente estatal atue de acordo com o que acredita ser o interesse social, há que reconhecer que essa não é a regra.

No  final  do  século  XIX,  o  historiador  inglês  Dalberg-Acton,  sabiamente, escreveu que quando se tem uma concentração de poder em poucas mãos, frequentemente homens com mentalidade de gangsters detêm o controle. A história provou isso. Todo o poder corrompe: o poder absoluto corrompe absolutamente. A despeito  da  miríade  de  professores  socialistas  fabianos  que  meu  filho  ainda  vai encontrar na sua longa jornada escolar, estou convicto: não posso desistir. Espero que a leitura deste livro possa fazer com que outras pessoas pensem um pouco melhor antes de se juntarem ao time dos socialistas fabianos.

 

1.6. Questões para discussão

 

1.6.1. O ensino de sociologia e filosofia é obrigatório nas escolas de ensino médio no Brasil. Essa obrigação não deixa de ser uma imposição de tipo autoritário, pois, essas disciplinas  deveriam  ser  opcionais,  sendo  essa  decisão  tomada  pela  instituição  de ensino,  considerando  as  peculiaridades  e  possibilidades  individuais.  Com  base  nas diretrizes  estabelecidas  pelo  Ministério  da  Educação,  cada  estado  elabora  o  seu currículo, no qual a maioria dos colégios privados também se espelha. A leitura atenta desse material traz à luz um festival de conceitos simplificados e de velhos chavões de esquerda que estão longe de se prestar ao essencial numa sala de aula: expandir o horizonte dos alunos. Não faltam exemplos de obscurantismo. Para se ter uma ideia, no Acre uma das metas do currículo de sociologia é ensinar os estudantes a produzir regimentos internos para sindicatos de trabalhadores. Um dos explícitos objetivos das aulas em Goiás, por sua vez, é incrustar no aluno a ideia de que “a constante diminuição de  cargos  em  empresas  do  mundo  capitalista  é  um  fator  estrutural  do  sistema econômico”. O sociólogo Simon Schwartzman acredita que tratar o ensino de sociologia e filosofia com superficialidade e viés ideológico, só tendem a estreitar, no lugar de ampliar,  a  visão  de  mundo  dos  alunos.  (Extraído,  com  inclusões  e  supressões  de: http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/ideologia-cartilha-547333.shtml). Pergunta-se:

Você concorda com a opinião de Schwartzman? Deveríamos transformar essas disciplinas em opcionais no currículo do ensino médio? Justifique seus argumentos.

 

1.6.2. O viés presente nas aulas de sociologia e filosofia tem suas raízes fincadas nas faculdades de ciências sociais, de onde saíram, ou a que ainda pertencem os professores responsáveis pela confecção dos atuais currículos. Desde a década de 70, quando se firmaram como trincheiras de combate à ditadura militar nas universidades, tais cursos se ancoram no ideário marxista, à revelia da própria implosão do comunismo no mundo

– e estão cada vez mais distantes do rigor e da complexidade do pensamento de Karl Marx (1818-1883). Diz a doutora em ciências sociais Eunice Durham, da Universidade de São Paulo: “Boa parte dessas faculdades propaga apenas panfletos pseudomarxistas repletos de clichês e generalizações, sem se dar sequer ao trabalho de consultar o original”.  Isso  se  reflete  agora, e de forma acentuada, nos  currículos escolares de sociologia  e  filosofia. Extraído, com inclusões e supressões de: http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/ideologia-cartilha-547333.shtml) Pedese:

Consulte livros  de filosofia e sociologia  empregados  em  escolas  de  segundo  grau.

 

Verifique se é possível identificar o viés sugerido pela leitura do texto. Para justificar seus argumentos utilize, pelo menos, quatro citações dos referidos livros.

NOTAS

Em  diversas  notas  é  sugerido  que  os  leitores  assistam  aos  vídeos  disponíveis  no YouTube. Os links aqui disponibilizados foram acessados no período de 20 de junho a 10 de julho de 2012. Ocorre que estes links costumam ser bastante instáveis. Caso os leitores não consigam acessá-los, sugiro que façam uma busca no YouTube utilizando o nome do autor e/ou do tema do vídeo.

1 Para efeito dessa introdução, trataremos liberais e liberalismo como sinônimo de neoliberal e neoliberalismo. Interessante lembrar que liberal, no contexto desse livro, não é o simpatizante de um determinado partido político, mas aquele que valoriza a liberdade individual e que está sempre atendo aos perigos das diversas formas de poder e autoridade.

2 Para entender melhor o que é liberalismo, assista ao vídeo do professor Rodrigo Constantino, disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=AT2KYuvLDQI&feature=related

3   Recomendo a leitura de McMILLAN, John. A Reinvenção do Bazar. Uma História dos Mercados. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 2004.

4   O  paper  The  world  distribution  of  income:  falling  poverty  and…  convergence period” de autoria de Sala-i-Martin, 2005, que trata da distribuição mundial de renda, encontra-se disponível em: http://www.columbia.edu/~xs23/papers/pdfs/World_Income_Distribution_QJE.pdf

5 Firebaugh e Goesling são pesquisadores da Universidade de Chicago. Ver artigo publicado em setembro de 2004, no American Journal of Sociology: “Contabilidade para o declínio recente da desigualdade de renda global”. Disponível em: http://www.journals.uchicago.edu/AJS/journal/issues/v110n2/080300/080300.web.pdf.

6 O paper  Global inequality: beyond the bottom billion. Social and economic policy” de autoria de Ortiz e Cummins, publicado no working paper, april, 2011, encontra-se disponível em: http://www.networkideas.org/featart/apr2011/Ortiz_Cummins.pdf.

7 Para entender melhor a construção da PPP sugiro o artigo “Paridade do Poder de Compra, renda per capita e outros indicadores econômicos”, de Samuel Kilsztajn, publicado em Pesquisa e Debate, SP, Volume 11, numero 2(18) p.93-106, 2000. Disponível em http://www.pucsp.br/pos/ecopol/downloads/edicoes/(18)samuel_kilsztajn.pdf.

 

Bibliografia Referenciada

ALMEIDA, P. R. Falácias Acadêmicas,  1:   O mito do neoliberalismo.  In  Revista Espaço Acadêmico, agosto de 2008. Disponível em http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/FalaciasSerie.html

BOLIGIAN, L; MARTINEZ, R; VIDAL, W. P. G.; BOLIGIAN, A. T. A. Geografia espaço e vivência: a dinâmica dos espaços da globalização, 9º ano. São Paulo: Atual, 2009.

CARVALHO, O. A teoria econômica de Lord Keynes e a ideologia triunfante do nosso tempo. Leituras recomendadas, 138, 2002. Disponível em http://www.olavodecarvalho.org/convidados/0138

6 novembro, 2012 às 03:01

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Comentários (3)

 

  1. Marco Balbi disse:

    Cara. Ótimo post! Longo, mas especial! Estamos nos 36 minutos do dia 7 e seu pessimismo talvez tenha sido exagerado. Dá-lhe Romney!

    • claudiomafra disse:

      Obrigado, e parabéns por ser um otimista. Já estamos com 0111 do dia 7 e … perdemos. Levantemos as mãos para os céus por havermos conservado a Câmara dos Representantes, porque no Senado parece que 2 foram embora. abraço

  2. Bruno Luiz disse:

    Oi Cláudio li seu artigo falando sobre o Darcy Ribeiro e o achei muito honesto e informativo. Você escreve muito bem e a leitura do seu texto é rápida e agradável. Mais ainda o o conteúdo do que você escreve – e como já havia dito – sobre o Darcy. Sempre o achei um fraude, um bom exemplo de embuste “made in Brazil”, contudo pouco se fala dele e o que se fala geralmente vem por meio de bravatas maiores u iguais as que ele escreveu (inventou) nos seus livros. Penso que o mal que o Darcy fez ao futuro do Brasil é notável no que agora chamamos de presente, pois pior que não ter “heróis” ou referências é os tê-los falsos.
    Abraço, virei seu admirador pela sua coragem em “desconstruir” um mito.
    Bruno.

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