No Sétimo Céu (Millôr Fernandes)
OU, A ALUCINAÇÃO ISLÂMICA (CM)
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Em euforia, cercado de luzes, o bem-aventurado do céu maometano atravessa os limites das sucessivas esferas ptolomaicas que circundam a Terra (central), vai mais alto, e aí chega às portas dos Sete Céus. Galga um, galga outro, até o Supremo.
Esses Sete Céus, firmamento último dos últimos, são possivelmente a mais desvairada visão da Glória Eterna em todas as religiões. Estão construídos em superposição contínua, até o cimo dos cimos:
O Primeiro Céu é de prata pura e nele as estrelas, cada uma com seu Anjo de Guarda, estão penduradas como lâmpadas, em correntes de ouro. Aqui residem Adão e Eva.
O Segundo Céu é de ouro puro. Domínio de João Batista e Jesus.
O Terceiro Céu é de pérola, e aqui mora José. Aqui está também Azrael, o Anjo da Morte, escrevendo eternamente, num livro enorme, o nome dos que nascem — e apagando o nome dos que morrem. Ele será o último a morrer: quando a trombeta do Arcanjo soar pela segunda vez.
O Quarto Céu é todo de ouro branco. Aqui mora o Anjo das Lágrimas, chorando interminavelmente pelo pecado dos homens.
O Quinto Céu é de prata. É de Aarão. Aqui habita o Anjo Vingador, que controla o fogo essencial.
O Sexto Céu é de rubi e granada, e é habitado por Moisés. Aqui moram também o anjo Guardião do Céu e da Terra, ele é metade-neve, metade-fogo.
O Sétimo Céu é formado pela Luz Divina, cuja descrição está acima das possibilidades da língua humana. É reservado para Deus e para a mais alta hierarquia dos Anjos, os chamados Ministros de Deus. Cada um desses habitantes do Sétimo Céu é maior do que toda a Terra e tem 70.000 cabeças. Cada cabeça tem 70.000 caras. Cada cara tem 70.000 línguas. E cada língua fala 70.000 idiomas diferentes (num total de 24010000000000000000), todos eles usados para cantar, para todo o sempre, as glórias do Mais Alto de Todos.
