As passeatas e o golpe branco petista

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Após as passeatas:

Dilma dando lições de como a União Européia deve resolver os seus problemas ficou muito além do ridículo;   a imagem da prosperidade brasileira, o grande país emergente, foi para o espaço;  a Copa do Mundo perdeu o seu charme e tornou-se um estigma de corrupção;  o Itamaraty deve esquecer por muito tempo o sonho de ocupar uma cadeira no Conselho Permanente de Segurança  da ONU;  O discurso triunfalista do PT acabou.  As imagens da televisão correram o mundo, e a esta altura o prestígio internacional “do operário que chegou ao poder” deve ter se evaporado.  Obama não repetiria o “você é o cara”. O Brasil aparece com sua verdadeira face, e a juventude mostrou que não estava  alienada e  domesticada.

 

A rapidez com que o Congresso e o governo correram atrás do prejuízo mostrou a importância do movimento, isto é um fato inegável. Não está na hora de chamar os manifestantes de ingênuos. Eles criaram uma nova e importantíssima variável no processo politico brasileiro. Instalou-se o medo de que sempre possam sair às ruas.

 

Acho um tanto severas as considerações do inteligente Guilherme Fiúza:

Se o movimento que encanta o país fosse minimamente lúcido, cercaria o Palácio do Planalto depois desse pronunciamento. Poderia anunciar, pacificamente, que só sairia de lá com a extinção de pelo menos cinco ministérios inúteis, mantidos para alimentar correligionários. Ou com o compromisso da presidente de voltar a respeitar a meta de inflação. Ou denunciando o escândalo da “contabilidade criativa”, pelo qual o governo do PT passou a fraudar seu próprio balanço – seguindo a escola Kirchner-Chávez –, escondendo dívidas para poder gastar mais com cargos e propaganda.

Será que os heróis das ruas não percebem que é isso o que mais infla o custo de vida (e as passagens de ônibus)?”

É querer muito. Cercar o Palácio do Planalto, e “só sair de lá” depois da extinção de “pelo menos cinco ministérios” passou a ser obrigatório para o movimento ser considerado “mínimamente lúcido”. Nossa. Também é injusto o sarcasmo da última frase, onde se exige dos  ” heróis das ruas”, que saibam o que seja contabilidade criativa, e de que maneira é inflado o custo de vida.

 

O Brasil ficou melhor, ou não, depois das passeatas ?  Pelo que temos lido,  muitos vão responder que ficou até  pior, porque criou-se para o governo a oportunidade de através de plebiscito, referendum, ou seja lá o que for, implantar um regime de exceção. Esse é um raciocínio distorcido. A capacidade do governo em tornar a seu favor um movimento que foi contra ele, é mérito de quem está nesse governo. A Oposição deve procurar neutralizar as manobras governamentais, tanto no Congresso quanto através do seu discurso para a população.  Ah, mas nossa Oposição é inoperante.  Bem, isto não é culpa de quem foi para as ruas.

 

Na hipótese de enveredarmos por um governo de consultas populares, uma ditadura constitucional, o que já foi amplamente denunciado por este blog durante vários anos, vamos nos deixar levar como cordeirinhos para o matadouro ? Não sei, pode ser que sim. As passeatas, muito bem sucedidas em vários aspectos, abriram um flanco para o que sempre foi o maior objetivo dos governos petistas ?  Talvez, mas esse perigo sempre existiu, e é nesse contexto que deve ser visto. O que está sendo denunciado pelos que discordam das passeatas (como se os manifestantes tivessem alguma culpa) é um jogo pesadíssimo articulado pelo PT.  E se o pior acontecer, hipótese na qual ainda não acredito, espero que não fiquem de braços cruzados berrando: ” Eu bem que avisei!  Esses manifestantes de araque fizeram exatamente o que o PT queria! “.  O caminho é outro. A escolha da arena foi do governo, então vamos em frente. Sabemos muito bem aonde estão os árbitros do que é , ou não, constitucional, e eles não se encontram no Supremo.

 

Houve um salto de qualidade na opinião pública. Seria melhor que o medo do golpe não inibisse a correta observação do que aconteceu nestes dias.

 

 

29 junho, 2013 às 23:44

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Categoria: Artigos

Comentários (5)

 

  1. Eduardo S. P. disse:

    Mafra,

    Sem reparos, again!
    Gostei da tua análise anterior. Gostei desta, também.
    E gosto do Fiúza… mas ele se atrapalhou.
    A gritaria das ruas, endossada pela maioria silenciosa pegou os “analistas” de surprêsa… saíram todos em revoada, aparvalhados… e ainda não sabem em qual galho pousar.
    E, para minha surpresa, alguns dos “oficiais” do estado petista, estão mais convincentes, vide Moreira Leite e Safatle.
    O Reinaldo Azevedo e o Constantino se enrolaram… o primeiro, talvez por fidelidade ao tucanato paulista e o segundo, quem sabe, por pressentir o desastre na bovespa.
    Mas gostei do FHC, que embora insista na já tradicional aversão a protagonismos, ganhou espaço.
    O Lula? Esse pode ser comprado com o engavetamento de inquéritos e processos e mais algum agrado.
    Sem novos players, os de sempre devem privilegiar algumas novas alianças em detrimento das tradicionais. Os sinais estão por aí.
    O Judiciário, o MP e a imprensa podem ganhar espaço. Ainda não perderam a batalha da opinião pública.

    Atte,
    Eduardo S. P.

  2. claudiomafra disse:

    Caro Eduardo,
    Os acontecimentos, totalmente imprevisiveis, confundiram os analistas, o que é compreensivel. Bom que você também traga sua contribuição para o blog. Gostei particularmente da referência ao tucanato e ao mercado financeiro. abraço

  3. Eduardo S. P. disse:

    Mafra,

    A incompetência do PT mainstream tem sido maior, inclusive, do que a notória condescendência dos brasileiros.
    Mesmo assim, me surpreende a aposta de Dilma no “melhor cenário”.
    Será ela, digamos assim, tão obtusa?
    Algumas questões já deveriam estar decididas e encaminhadas: os anéis a serem descartados e, no pior cenário, os dedos preservados.
    Mas não aposto meus centavos em uma guinada radical à esquerda… a perspectiva de desastre na economia saltaria aos olhos.
    Um acordo de cúpula me parece mais razoável, mas falta encontrar um Tancredo Neves ou coisa parecida.
    O ruim é melhor que o péssimo.

    Desde já, aguardando tuas reflexões pertinentes,
    Eduardo S. P.

    PS – E a nota do Clube Militar? Não li… só ouvi falar. Mas pelo que ouvi e vi das reações, me pareceu prematura.

    • claudiomafra disse:

      Caro Eduardo,
      Acho que esta é a nota do Clube Militar:

      “A leitura que os Clubes Naval, Militar e de Aeronáutica fazem das recentes manifestações populares é que elas expressam, majoritariamente, o grito daquelas que estão indignados com o descaso e, às vezes, com a conivência das autoridades governamentais, no que diz respeito às legítimas aspirações da sociedade, ressalvado o perigoso aproveitamenento por segmentos radicais que buscam interesses inconfessávéis.
      Quando o povo se convence de que antigos vícios e omissões se repetem, impunemente, percebe que é chegada a hora de se manifestar clamorosamente. Não mais aceita ser conduzido, resignadamente, como grupo ingênuo. Obriga-se a dar um basta à impostura e à impunidade.
      Estaremos sempre atentos e acompanharemos a evolução dos fatos.”

  4. Eduardo S. P. disse:

    Mafra,

    Agradeço a postagem da Nota do CM.
    Constato que ouvi besteiras… depois de ler, me pareceu razoável.
    Como informa a nota, é bom acompanhar “a evolução dos fatos”, vide a nomeação do General César Milani para o comando das FFAA argentinas, em processo de “refuncionalização” (WTF?).
    Cristina Kirchner está louca, como diz o Mujica? Que diabos ela pretende? A “provocação” era necessária? Não seria melhor não cutucar?
    Não me parece conveniente para as FFAA argentinas, qualquer atitude mais forte contra CK… o filme queimado das Falklands e o fracasso macro econômico recomendava distância.
    Mas CK perdeu a direção faz tempo…

    Agradecido pelas infos,
    Eduardo S. P.

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