Ódio aos EUA – considerações sobre uma das maiores irracionalidades de todos os tempos

 

Ódio à América. Por quê ?

Bryan Appleyard analisa, para o Sunday Times, o odio à América. “Os Estados Unidos salvaram a Europa dos nazistas, derrotaram o comunismo na Guerra Fria e fazem o Ocidente próspero”. As raízes da aversão à potência americana, expressa da forma mais extrema no terrorismo suicida, é apresentada neste seu artigo, escrito logo após o 11/9:

Vimos paquistaneses brandindo fotos de Osama bin Laden e usando camisetas que comemoravam a morte de 6 mil americanos. Vimos palestinos dançando nas ruas e disparando seus Kalashnikovs em júbilo. Ouvimos Harold Pinter e amigos instando o Ocidente a parar uma guerra que nós não começamos. Alguns de nós lemos um editorial do New Statesman que chegava perigosamente próximo de sugerir que corretoras do World Trade Center desejavam a guerra.

Ou consideremos o que Elisabetta Burba, jornalista italiana, relatou para o Wall Street Journal a partir de Beirute. Ela viu profissionais  bem vestidos em seus ternos e coifas comemorando nas ruas. Em seguida, foi até um café da moda. “A sofisticada clientela do café estava comemorando, rindo, aplaudindo e fazendo piadas enquanto os garçons serviam hamburgueres e Diet Pepsi. Ninguém parecia estar chocado ou abalado. Eles estavam entusiasmados, muito entusiasmados”, escreve ela. “Noventa por cento do mundo árabe acredita que os Estados Unidos receberam o que mereciam”, disse ela. “Um exagero?”, ela comenta. “Ao contrário, uma atenuação”.

É horrível, mas não inteiramente surpreendente; já vimos isso antes. Eu, certamente, sempre vivi num mundo impregnado de antiamericanismo feroz. Em minha infância, os adultos estavam todos convencidos de que o aparentemente inevitável holocausto nuclear seria  culpa dos americanos. Em meus anos de estudante vi a guerra do Vietnã ser usada como desculpa para uma violência e intimidação que tornariam Mao Tsé Tung orgulhoso – de fato, meus contemporâneos brandiam seu Livro Vermelho, seu guia para o assassinato em massa, enquanto tentavam atacar a embaixada americana. Vi muitos daqueles que hoje choram lágrimas de crocodilo queimando bandeiras dos EUA.

Que estranho, pensei eu, mesmo então. Eles usavam jeans Levi’s, tomavam Coca-Cola, assistiam à televisão americana e ouviam música americana. Algo dentro eles amava os Estados Unidos, ainda que algo fora deles odiasse aquele país. Eles eram como peixes que odiavam o próprio mar em que nadavam – o uísque, nas palavras de Samuel Beckett, que guardava rancor do tonei.

Como a elite de Beirute, eles queriam ter seus hamburgueres e os comer; morder a mão ianque que os alimentava. Mas há aqui algo mais terrível, mais gravemente injusto do que a estupidez dos estudantes dos anos 60, mais ainda do que a dança dos palestinos e libaneses.

Ponderemos exatamente o que os americanos fizeram neste que foi o mais terrível de todos os séculos, o século 20. Eles salvaram a Europa do barbarismo em duas guerras mundiais. Depois da Segunda Guerra mundial, eles reconstruíram o continente a partir das cinzas. Eles enfrentaram e pacificamente derrotaram o comunismo soviético, o mais sanguinário sistema já concebido pelo homem, avigorando com isso o lento desmantelamento – esperamos – do comunismo chinês, o segundo mais sanguinário. Os Estados Unidos, principalmente, expulsaram o Iraque do Kuwait e nos ajudaram a expulsar a Argentina das Falklands. Os Estados Unidos fizeram cessar o morticínio nos Bálcãs enquanto os europeus titubeavam.

As melhores universidades

Agora ponderemos o que exatamente são os americanos. Os Estados Unidos são um país livre, altamente democrático e imensamente bem sucedido. Os americanos falam a nossa língua e uns dez deles a escrevem muito, muito melhor do que qualquer um de nós. Os  americanos fazem filmes extremamente bons, e a cultura e o estilo de seus melhores programas de televisão expõem a vulgaridade dos nossos melhores. Quase todas as melhores universidades do mundo são americanas e, como resultado disso, a vida intelectual americana é a mais vibrante e culta do mundo.

“As pessoas deveriam pensar”, diz o escritor David Halberstam na destruída cidade de Nova York, “em como estaria o mundo sem o pano de fundo da liderança americana, com todas as suas falhas, ao longo dos últimos sessenta anos”. Provavelmente, penso eu, parecido com o inferno.

Há muita coisa errada nos Estados Unidos e coisas terríveis foram feitas em seu nome. Mas, no final das contas, todas as coisas mais importantes estão certas. Em 11 de setembro, fecharam-se as contas.

Os americanófobos foram odiosamente estúpidos demais para entender a mensagem. Nem 48 horas depois de milhares de americanos terem sido assassinados, vemos o programa Question Time da BBC, com sua plateia de mentecaptos escolhidos a dedo dizendo a Philip Lader, ex-embaixador dos EUA, que “o mundo despreza os Estados Unidos”. O estúdio fervilha de ignorância e abominação. Lader parece prostrado.

Ou vemos a elite metropolitana no Newsnight Review escarnecendo de Dubya Bush. “Tão distante”, sibila a jornalista Rosie Boycott, “que não havia nenhum senso de seu sentimento pelo povo”. Alkarim Jivani, o escritor, interrompe, fazendo pouco da resposta de Bush à pergunta de como se sentia: “Bom, sou um sujeito amoroso; e também tenho um trabalho a fazer”. Jivani acha que aquilo não basta, falta emoção.

Espere aí; pensei que a esquerda bien pensant quisesse comedimento de Bush.

E aquela citação do “sujeito amoroso” foi a coisa mais bela que foi dita desde 11 e setembro. Poeticamente concisa, enraizada em seu dialeto natal, evocou dever e estoicismo. Mas estes não são grandes valores em Islington.

Ou então vem George Monbiot, no Guardian: “Quando bilhões de libras de gastos militares estão em jogo, Estados dissidentes e chefes de guerrilhas terroristas tornam-se ativos justamente porque são passivos”. Entendo, então, os Estados Unidos, a vítima desse ataque, deve ser condenada por, de alguma forma tortuosa, ganhar dinheiro com isso. Hastearei essa bandeira no mastro, George, mas suspeito que  somente o público do Question Time irá saudá-la.

Ou aparece Suzanne Moore no Mail on Sunday: “Neste sombrio momento, meu coração está com os Estados Unidos. Mas minha cabeça sabe que não apoiei muito daquilo que foi feito em seu nome no passado. Por mais duro que seja, muitos sentem da mesma forma. Agora
não é hora de fingir o contrário”.

Então, Suzanne, quantos cadáveres são necessários para que seja uma boa hora de fingir o contrário? Você ri dos funerais de pessoas de quem você discordava?

Ou aparecem duas vozes virulentas, ambas citadas no Guardian. Patrícia Tricker, de Bedale: “Agora eles sabem como se sentem os iraquianos”. E Andrew Pritchard, de Amsterdã: “Se a grande derrota dos EUA em tempos de paz resultar na derrubada do presunçoso ego
dos Estados Unidos de única superpotência remanescente do mundo terá sido uma conquista altamente produtiva”. Seriam essa conquista as crianças mortas, Andrew, ou os bombeiros esmagados?

O antiamericanismo vem de longa data sendo a ideologia global viciosa e irracional de nossa era. “Ela combina”, diz o historiador Sir Michael Howard, “os mais detestáveis elementos da direita e da esquerda”. É perigosa e estúpida e, depois de 11 de setembro, de um mau gosto chocante.

O líder mundial

Em nome de Deus, mais de 6 mil não combatentes estão mortos, mais de 6 mil famílias enlutadas. De que escuros poços de malevolência brota esse pavoroso desejo reflexo de dançar sobre suas sepulturas?

Da história, diz Michael Lind, membro da New America Foundation, em Washington: “Existe um tema antiburguês, anticapitalista e, em última instância, antimoderno que sempre surge para criticar o atual poder dominante. Esteve direcionado para as cidades do norte da Itália, depois para a Holanda no século 17, depois para a Grã-Bretanha quando ela empunhou a tocha do capitalismo, e agora para os EUA”.

De modo que, em seu nível mais básico, os Estados Unidos são execrados simplesmente porque estão no topo. O líder mundial é sempre detestado simplesmente por ser o líder. Os termos da abominação são notavelmente coerentes. Os alemães do século 19, destaca Lind, responderam ao domínio da Grã-Bretanha dizendo, efetivamente, “eles podem ser ricos, mas nós temos alma”. E exatamente isso que  muitos europeus e todos os antiamericanos estão dizendo agora: temos Deus ou cultura ou o que for contra a riqueza. Isso é inexato – os Estados Unidos têm mais alma, mais cultura e muito mais Deus do que qualquer de seus críticos, mas é a retórica previsivelmente banal da inveja.

Esta forma de antiamericanismo “espiritual” tem estreitas ligações com o antissemitismo. “O antiamericanismo e o antisemitismo estão estreitamente interligados em termos históricos”, diz Tony Judt, professor de história da Universidade de Nova York. “Não porque haja tantos judeus aqui (nem sempre houve), mas porque ambos, em parte, têm a ver com o medo da abertura, a falta de raízes, a mudança, o anômico mundo moderno: os judeus como um povo sem lugar, os Estados Unidos como uma terra sem história.”

Conforme Jon Ronson demonstrou recentemente em seu livro Them: Adventures with Extremists, quase todas as seitas radicais do mundo acreditam que existe uma conspiração judaica global orquestrada por Hollywood e Wall Street. Esses pensadores tagarelas são todos, estou certo disso, racistas, mas eles estão nadando em águas mais profundas e mais escuras do que imaginam.

A palavra de Judt, “abertura”, é importante. O fanático – de Islington ou de Cabul – odeia a abertura porque ele se vê ligado à própria sociedade que permite sua liberdade de expressão, e dependente dela.

George Orwell observou em 1941: “Na medida em que dificulta o esforço de guerra britânico, o pacifismo britânico está do lado dos nazistas, e o pacifismo alemão, se ele existe, está do lado da Grã-Bretanha e da União Soviética. Uma vez que os pacifistas têm mais liberdade de ação em países onde sobrevivem traços de democracia, o pacifismo pode agir mais efetivamente contra a democracia do que a favor dela. Objetivamente, o pacifista é pró-nazista”. Ele ainda escreveu a respeito da “não admitida motivação” do pacifismo como sendo o “ódio da democracia ocidental e admiração do totalitarismo”.

Um antiamericanismo tão corriqueiro no mundo desenvolvido é uma sombria e irracional combinação das fantasias de ódio ao pai/líder com as fantasias infantis de rebelião e controle. É um ódio reflexo do lar – o lugar que dá socorro, ou, neste caso, a calça Levi’s. Mas, naturalmente, há nuanças locais. Os franceses, em contraste com os ingleses, têm sido sistematicamente antiamericanos nos níveis governamental e diplomático.

“É um antigo ressentimento nascido em 1940”, diz Judt. “Um senso de que um dia a França foi a referência ou modelo universal moderno e agora é apenas uma potência de segunda classe e uma língua internacional em declínio. Há uma analogia livre com os complexos britânicos em relação aos EUA – nós em declínio, eles superpoderosos -, mas na França ele se torna mais complicado por uma camada de hiperrevolucionismo entre a classe instruída entre os anos 1947 e 1973, precisamente a época em que a ascensão dos EUA ao domínio mundial estava se tornando desconfortavelmente óbvia.”

Sem Saríres e Derridas

Na Inglaterra não tivemos Sartres e Derridas para nos guiar a extremos políticos e filosóficos. Mas membros da esquerda britânica tinham algo mais simples: um ódio ardente dos Estados Unidos por refutar quase tudo em que eles acreditavam. Eles queriam tanto que a América desenfreadamente capitalista estivesse errada que nem mesmo Stalin os fez esfriar seu entusiasmo em relação à Rússia.

Houve, reconhecidamente, uma pausa nesta forma crua de antiamericanismo.

Quando Bill Clinton foi eleito presidente, a esquerda britânica construiu uma fantasia da América como copioneira da Terceira Via. Os novos mandarins – Martin Amis, Salman Rushdie – diziam que os Estados Unidos estavam onde tudo acontecia. Foi uma fantasia porque Clinton, até para si mesmo, estava fazendo tipo. A América capitalista e religiosa havia meramente colocado essa máscara sorridente. Quando Bush foi eleito, a esquerda sentiu-se traída.

Muito da presente onda de antiamericanismo, e especialmente o terrível desprezo por Bush, provém desse senso de traição. Provém também da incapacidade de se livrar de atitudes pós Guerra Fria. “A ansiedade em relação ao comportamento americano agora”, diz Hugh Brogan, professor pesquisador de história da Essex University, ” é um remanescente da ansiedade do período da Guerra Fria em relação à guerra nuclear”.

O medo da bomba era tanto que provocou em alguns uma crença permanente de que a qualquer momento seríamos fritos ou irradiados por causa do erro de cálculo de algum americano doido usando seu chapéu de caubói – uma imagem gravada em muitas mentes pelo  apocalíptico filme de Stanley Kubrick, Dr. Fantástico.

De alguma forma, a União Soviética, provavelmente por motivo de ignorância, escapou de nossa desaprovação. Foi um completo erro, embora fosse compreensível, então. Agora, a questão de se saber identificar o amigo tornou-se um fracasso pernicioso e destrutivo.

Com o fim dos confrontos da Guerra Fria, os movimentos anticapitalismo e antiglobalização abandonaram as ansiedades potencialmente racionais, culturais e ambientais em favor de um monstruoso pacote aleatório de execração antiamericana. E, é claro, o Oriente Médio parecia fornecer um caso claro da superpotência arrogante e valentona perseguindo os pobres.

A ideia do valentão encaixa-se claramente numa das mais grotescamente duradouras de todas as crenças antiamericanas: que os americanos são todos ianques burros. O que é um desvario tanto da direita quanto da esquerda, que se iniciou com a absurda aspiração de Harold Macmillan, mais tarde adotada por Harold Wilson, de que, de alguma forma, a Inglaterra deveria desempenhar o papel de Atenas para a Roma dos Estados Unidos.

A ideia era que os Estados Unidos eram um grande e desajeitado trapalhão, e nós, os grandes e refinadíssimos pensadores. Precisamente a mesma atitude inspira o levantar de sobrancelhas e o desaprovador menear de cabeças das opiniões da esquerda de salão. Eles são tão ingênuos, dizem os tagarelas, tão inocentes — e isso tristemente os leva a fazer essas coisas terríveis.

Mais culto e inteligente

Bem, passei algum tempo entre a classe instruída americana e fiquei embasbacado e humilhado. Eles são, sem dúvida nenhuma, o povo mais bem educado, mais culto e mais inteligente do mundo. São também os mais humanos. Há 30 ou mais universidades americanas às quais nossas melhores e mais brilhantes teriam de lutar muito para se equiparar. Fora isso, como poderíamos ser tão burros de acusar a nação de Updike, Bellow, Roth, DeLillo, Ashbery, Dylan, de Terence Malick, Os Simpsons, Martin Scorsese e Francis Ford Coppola de estupidez, quanto mais de inocência?

As raízes disso são óbvias. Queremos que o valentão seja bronco pela mesma razão que queremos que a bela modelo seja bronca. Não podemos suportar a possibilidade de alguém ter força ou beleza e também cérebro.

Justiça seja feita, a acusação de estupidez é em parte alimentada por uma das mais estranhas formas de antiamericanismo: o antiamericanismo americano.

Sempre houve, dentro dos EUA, elites cultas da Costa Leste e da Costa Oeste que levam a sério a acusação de estupidez e sentem que precisam se desculpar pelo embaraço das massas não sofisticadas do Centro-Oeste ou do extremo sul.

Em seu melhor lado, isso produz a brilhante sátira de Randy Newman; em seu pior lado, a postura eurófila, de mandarim, de Gore Vidal. As massas se vingam com sua própria forma de antiamericanismo – um ódio pelas elites. O Rev. Jerry Falwell já se solidarizou com a causa dos terroristas ao culpar “os pagãos, e os defensores do aborto, e as feministas, e os gays, e as lésbicas” pelo ataque. Para Falwell, a América moderna realmente é o Grande Satã.

Todavia, é o antiamericanismo do Oriente Médio que é a questão efervescente do momento. Novamente, algo muito mal entendido pelos tagarelas do Ocidente.

Para eles, trata-se simplesmente da questão de Israel, aparentemente um caso claro de um sub-rogado mandando em nome dos Estados Unidos, e do petróleo, um caso claro da ganância americana engolindo todas as outras considerações humanas.

Na realidade, os Estados Unidos sempre tiveram mais aliados do que inimigos na região – muito embora, em se tratando do Oriente Médio, aliados tornem-se inimigos e vice-versa com estonteante rapidez. Nos anos 50 e 60, os EUA e seus aliados trabalharam no sentido de subverter o secular poder nacionalista árabe do Presidente Nasser do Egito por meio do apoio a grupos islamíticos. Ideia boa, tática ruim. Esses grupos começaram pró-americanos e se tornaram antiamericanos. O resultado indesejável foi a destruição mais ou menos total do nacionalismo e a criação do poderoso movimento religioso que hoje ronda a política árabe.

Israel é parte, mas não o todo desse quadro. O islamismo o torna uma parte maior por causa de uma inimizade antiga que remonta à história da traição do profeta por tribos judaicas e, mais recentemente, à derrota e expulsão dos mouros da Europa cristã.

Nesse contexto, os linha-dura árabes veem Israel como uma ofensiva adicional apoiada por cristãos contra o mundo islâmico. Mesmo em Israel, a ideia de tal ofensiva continuaria sendo uma força imaginativa poderosa.

As pessoas que sugerem que 11 de setembro jamais teria acontecido se os Estados Unidos tivessem retirado seu apoio a Israel estão quase que certamente erradas. Israel não está nem no primeiro plano da imaginação assassina de Bin Laden. Os palestinos até já reclamaram que ele não se importa com eles. Para Bin Laden e para muitos muçulmanos mais moderados, o marco foi a guerra do Golfo em 1990-91.

“Contrariamente à crença popular, essa foi a primeira estruturação real de forças militares americanas na região”, diz o Dr. Clive Jones, da Leeds University. “Isso ocorreu na Arábia Saudita, país onde estão os lugares mais sagrados do Islã, em Meca e Medina. E isso criou uma nova forma de antiamericanismo que não pode, de forma nenhuma, ser relacionada a Israel.”

Para esses antiamericanos mais recentes e mais selvagens, Israel é secundário. O principal crime é a blasfêmia contra o solo sagrado islâmico.

Uma foto amplamente veiculada de duas mulheres GLS num Jeep, com as blusas desabotoadas até a cintura, dirigindo pelo deserto árabe, bastou para inflamar a sensibilidade de milhares de devotos muçulmanos e lançar os mais instáveis deles aos braços dos extremistas. Eles tinham um motivo, mas não um motivo que justificasse o assassinato. O Islã, em sua essência, é uma fé tão pacífica quanto a cristã. A verdade sobre a guerra do Golfo é que os americanos salvaram um estado árabe, o Kuwait, de Saddam Hussein, o mais cruel opressor da região. Eles certamente teriam sido tão condenados por não fazê-lo quanto o são agora por fazê-lo. Agora eles são também condenados pelos tagarelas por manter a pressão sobre Saddam Hussein. Será que os tagarelas sabem o que Saddam ainda está fazendo? Eu sei, e estou com os americanos.

Fazer a coisa certa

É claro que os Estados Unidos cometeram erros terríveis no Oriente Médio. Muito ressentimento teria sido e ainda pode ser evitado por um acordo humanitário com os palestinos. Mas, de um modo geral, os Estados Unidos estavam tentando fazer a coisa certa, sempre com o acordo de grandes parcelas, senão a maioria, da população árabe. Conforme disse Winston Churchill, os americanos geralmente fazem a coisa certa depois de experimentar todas as alternativas.

No entanto, o antiamericanismo tornou-se o reflexo selvagem da região inteira. E o resultado da manipulação cínica principalmente da parte de apavorantes governos árabes e de extremistas que desejam reinstalar uma guerra medieval de civilizações entre a Cristandade e o Islã.

É este o antiamericanismo que informa os ignorantes convidados dos salões do Ocidente, os quais, em sua confortável estupidez, fingem ter mais em comum com teocratas fanáticos do que com a terra dos Simpsons e de John Updike.

Talvez o pior de tudo seja o profundo vazio dessa malevolência reflexa. Na verdade, pouco há que possa ser dito sobre o ataque contra os Estados Unidos. Nossos “pensadores” estão presos numa história que eles não entendem. Eles só conseguem apreender o conflito global como sendo uma série de confrontos entre ideologias humanistas concorrentes – mais obviamente o capitalismo e o comunismo. Mas isto é algo diferente. E um confronto entre civilização e uma selvageria atávica que não tem tempo para os delicados modos de vida que nós, a tão terrível custo, conseguimos construir.

Incapazes de enxergar isso, os tagarelas precisam procurar alguma coisa para falar. “Não é à toa que eles são chamados de classes tagarelas”, observa Brogan.

Assim eles culpam a vítima. É um doloroso espetáculo de delírio transformado em selvageria. O que os Estados Unidos fizeram de errado? Nos dias posteriores a 11 de setembro, seu presidente e seu povo só fizeram demonstrar dignidade e contenção. Bush irá à desforra, disseram os tagarelas. Mas ele ainda não foi. Bush é um caipira desastrado, disseram eles com escarninho. Mas ele não é. Até
mesmo a CNN, aquele tumulto geralmente incompreensível de eventos indigeridos, tem se mantido equilibrada e calma, desprovida de qualquer traço de preconceito, xenofobia ou emoção oca.

Civilização? Ela está exatamente três mil milhas a oeste de onde escrevo e parte dela está em ruínas. Quisera eu que ela estivesse mais perto.

Estou farto da lamuriosa ingratidão da minha geração, da obstinada e infantil execração da grande, tumultuosa, sagaz e infinitamente inteligente nação que por tantas vezes nos tem salvado de nós mesmos. Mas estou animado com algo que minha filha de 19 anos me disse: “Os Estados Unidos sempre foram mágicos para nós; não entendemos por que vocês os odeiam tanto.”

O antiamericanismo nunca foi correto e espero que jamais venha a ser. Está claro que há momentos para a crítica, a sátira, até mesmo para a afronta.

Mas este não é um deles. Este é um momento em que nos está sendo feita uma pergunta tão simples que é quase embaraçosa – uma pergunta que deveria silenciar os mentecaptos do Question Time, os tagarelas escarnecedores e os remanescentes da Guerra Fria, uma  pergunta tão elementar, tão fundamental, tão cristalina que, na opulência de nossos salões, esquecemos que ela pudesse sequer ser feita. Portanto, vamos enfrentá-la, respondê-la, ergueria a mão e deixar que contem os votos. De que lado você realmente está?

 

29 novembro, 2011 às 12:21

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Comentários (9)

 

  1. Francisco Pompeu disse:

    Caro Mafra,
    Excelente artigo! Muito bom. Vc deveria mandá-lo pro Jabor que não se cansa de babar bobagens carregadas do mais rancoroso antiamericanismo.
    Cuide-se aí no Irã, Síria, onde quer que esteja.

  2. Jonas disse:

    Essa da Churchill foi boa: “os americanos geralmente fazem a coisa certa depois de experimentar todas as alternativas”.
    Se os americanos fossem menos mesquinhos e mais generosos com os demais povos talvez não houvesse tanta rejeição. Para não dizer que são apenas palavras, o PIB dos EUA é U$ 14,5 trilhões, seu orçamento militar de U$ 700 bilhões e a ajuda humanitária ao exterior de míseros U$ 11 bilhões, menos de um milésimo da renda anual.
    Mas de acordo com Churchill, ainda há esperança que eles façam a coisa certa.

    • claudiomafra disse:

      Grande Jonas,

      Infelizmente o cerebro do amigo eh um serio problema. Estah lavado, enxaguado e passado. A sua unica esperanca para encontrar a luz sou eu, mas jah faz tanto tempo que le o blog e nada acontece que chego a pensar tratar-se de um caso perdido.
      Acha pouco os americanos darem 11 BILHOES de dolares para ajuda humanitaria! Sabia que enviam alimentos para a Coreia do Norte, lugar aonde o carissimo seria considerado um fanatico pro-USA ? A suspeita eh que tudo seja desviado para o exercito. Sabia que ficaram um tanto malucos e ajudam a China??!! Jonas, Jonas, abra seu espirito para uma nova vida, livre das correntes terriveis que o transformaram em um zumbi. Mas, lembre-se, quase todos sao como voce, portanto nao se desespere. Veja, o comentario abaixo: O Francisco sugeriu que eu enviasse o artigo para o mediocre Jabor, mas nao o farei. Tenho muito mais interesse em pessoas feito o amigo que mesmo na mais completa escuridao conserva o bom humor. Escreva sempre, Jonas, vou acompanhar o seu tratamento com o maior cuidado. Duas providencias sao essenciais: 1) Nao deixar de ler o blog. 2) Providenciar uma tv a cabo que tenha a FOX NEWS. Nao adianta eu ficar cuidando de voce se as suas fontes de informacoes e comentarios sejam a CNN, a BBC, a ridicula Globo, e outras menos importantes. Aguardo, daqui, do fim do mundo, as suas melhoras. abraco e NAO DESANIME.

  3. Jonas disse:

    Continue tentando Mafra. Acredite, gosto de ler seu blog de vez em quando.
    Sim, 11 bilhões não é nada para uma superpotência economico militar cujo PIB é de U$ 14 trilhões.

  4. Ari disse:

    Bravo Claudio!

    ótimo artigo! esse antiamericanismo que está pra todo lado é de doer a alma. Simplesmente todos, com raríssimas exceções, pensam um pouco diferente. Pior, eles são seus amigos, trabalham com vc… e simplesmente não entendem nada. Leram meia página de foucault e se acham pensadores. hum, sei…

    sobre os 11 bilhões.. rss.. sim, é muito .. muito dinheiro! engraçado, mas falando com diversos tipos de pessoas.. universitários ou não… é engraçado quando falamos na casa dos bilhões.. acho que a maioria das pessoas não entendem o que é isso. Eu sempre brinco e falo…
    bom, multiplica mil vezes um milhão..e tens 1 bilhão. Não estou brincando.. vc encontra muitos universitários que não tem esta dimensão. Claro, claro, não estou falando do Jonas acima.
    Mas, cabe perguntar ao Jonas o seguinte:

    1 – quando dá, se dá, alguma contribuição filantrópica ou assistencial… quanto geralmente isso representa da sua renda?

    2 – Os EUA ajudam o resto do mundo de várias outras formas, seja através de bolsas de estudos, convênios com “n” tipos de entidades ao redor do mundo, ou mesmo os imigrantes que lá trabalham e mandam dinheiro para suas famílias localizadas em outros países. Porque, afinal, se quisessem, poderiam simplesmente expulsá-los. Ambas as partes perderiam, mas quem perderia mais?
    Ou seja, podemos falar num certo multiplicador de “ajuda humanitária”… acredite, pode tirar as aspas no caso de Cuba.

    3 – Ah sim, isso é o que o Estado manda, certo? e os próprios cidadãos americanos, que sempre foram muito engajados em assistência e filantropia? tem que somar isso tbm.

    enfim,

    não podemos ser ingênuos e achar que todo rico tem que ser santo, e todo pobre tem permissão para ser errante na vida.

  5. Claudio Mansur disse:

    Olá amigos, esse negócio de pensar contra os EUA realmente é cansativo. Como alimentar a ira contra um sistema falido e fracassado? O mundo, hoje, está a buscar uma alternativa que seja menos insana e onde a humanidade seja o personagem principal. Amar ou defender os EUA é tão insano quanto odiá-lo. Prefiro pensar.

  6. paulo ricardo da rocha paiva disse:

    General Patrick Hughes, Chefe do Órgão Central de Informações das Forças Armadas dos USA, em 1998: -“Caso o Brasil resolva fazer um uso da Amazônia que ponha em risco o meio ambiente nos Estados Unidos, temos de estar prontos para interromper esse processo imediatamente.” Uma simples troca de Brasil por Índia nesta assertiva truculenta e seria fácil prever a reação dos mais de um bilhão de indianos escudados em seu poder nuclear definitivo. E é justamente com este ator suspeito que acertamos acordo na área militar neste ano em curso, isto em meio a uma estruturação prematura de um Conselho de Defesa Sul-Americano que pretende, sem ter alcançado ainda as condicionantes mínimas para tanto, estabelecer um sistema defensivo para o subcontinente.

  7. paulo ricardo da rocha paiva disse:

    Ah! Ahmadnejad escamoteia, ele quer é a bomba. Ele jura que não, mas não é crédulo de carteirinha. O Conselho de Segurança não sanciona também Israel, e aí, tratamento diferenciado? E se, de repente, israelenses ou americanos desencadeiam um ataque? A verdade é que Mahmoud já percebeu: a Coréia do Norte não teme mais Tio Sam, que não pagará o alto preço de ver uma esquadra de invasão ser destruída no Mar Amarelo por um, que seja, rudimentar artefato lançado por coreanos em legítima defesa de seu território.

  8. paulo ricardo da rocha paiva disse:

    O ano em curso, do acordo na àrea militar, é o de “2010”. Graças a Deus está, ao que tudo indica, no ostracismo.

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