Oriana Fallaci escreve sobre a violência do Islã – Segunda parte

ORIANA FALLACI – Conflito entre duas culturas II

… Masoquistas, sim, masoquistas. A propósito, vamos falar um bocadinho daquilo a que chamam Conflito-entre-duas-culturas? Pois, se quereis realmente saber, mete-me nojo até falar de duas culturas: pô-las no mesmo plano como se fossem duas realidades paralelas, duas entidades de igual peso e igual medida. Porque, santo Deus!, por detrás da nossa civilização está Homero, está Sócrates, está Platão, está Aristóteles, está Fídias! Está a Grécia Antiga com o seu Partenon, a sua cultura, a sua arquitetura, a sua poesia, a sua filosofia, a sua descoberta da Democracia, etc. Está a Roma Antiga com toda a sua grandeza, com o seu conceito da Lei, a sua literatura, os seus palácios, os seus anfiteatros, os seus aquedutos, as duas pontes, as duas estradas. Está um revolucionário, aquele Cristo morto na cruz, que nos ensinou (e paciência se ainda não o aprendemos!) o conceito do amor e da justiça. Está também uma Igreja que, embora nos tenha dado a Inquisição — de acordo — que me tenha torturado e queimado tantas vezes na fogueira, me tenha oprimido ao longo de séculos e ao longo de séculos me tenha forçado a esculpir e a pintar só Cristos e Senhoras; uma Igreja que quase me matou Galileu Galilei, que o humilhou, o neutralizou e o calou. Porém, apesar de tudo isso, também deu uma grande contribuição à História do Pensamento, esta Igreja. Nem uma atéia como eu poderá negá-lo. E, depois, há o Renascimento. Há Leonardo da Vinci, há Miguel Ângelo, há Rafael. Há a música de Bach e de Mozart e de Beethoven até Rossini e Donizetti e Wagner e Verdi and Company. Aquela música sem a qual já não conseguimos viver e que é proibida na sua cultura ou suposta cultura. Ai de ti se assobiares uma canção ou trauteares o coro do Nabucco!… (“Quando muito, posso permitir-lhe alguma marcha militar”, disse-me Khomeini). E, finalmente, está a Ciência e a tecnologia que dela deriva. Uma ciência que em poucos séculos fez descobertas de nos pôr a cabeça à roda, realizou maravilhas dignas do Mago Merlin! Copérnico, Galileu, Newton, Darwin, Pasteur, Einstein (e só digo os primeiros nomes que me vêm à cabeça), estes benfeitores da humanidade, não foram sequazes de Maomé, por Deus. Ou estarei enganada? O motor, o telégrafo, a electricidade, o rádio, o telefone, a televisão não se devem, de modo nenhum aos mulás e aos ayatolás. Ou estarei enganada? E o mesmo se diga dos barcos a vapor, do comboio, do automóvel, do avião, das astronaves em que fomos à Lua e a Marte e, bem depressa, chegaremos sabe-se lá onde. Ou estarei enganada? E os transplantes do coração, do fígado, dos pulmões, dos olhos; e os tratamentos do cancro, a descoberta do genoma, idem. Ou estarei enganada? E, mesmo que tudo isto fosse coisa de pouca monta — o que, de modo nenhum, me parece, — diz-me: por detrás da outra cultura, dessa tal cultura dos barbudos de túnica e turbante, o que está?

Ponho-me à procura por aqui e por ali e encontro Maomé com o seu Alcorão e Averróis com os seus méritos de estudioso (os Comentários sobre Aristóteles) e o poeta Omar Khayyán. Arafat também encontra os números e a matemática. E lá vem ele a berrar e encher-me de perdigotos em 1972 e a gabar-se de que a sua cultura é superior à minha. Muito superior à minha (então poderá ele usar a palavra “superior”?), porque os seus antepassados tinham inventado os números e a matemática. Mas Arafat tem a memória curta, além de uma inteligência débil. Por isso, muda de idéias e desmente-se de cinco em cinco minutos. Meu caro Arafat (vá lá, por esta vez), os seus antepassados não inventaram os números de que também nós, os infiéis nos apoderamos. E a matemática não foram eles quem a conceberam ou, melhor, não foram somente eles. Foi concebida quase ao mesmo tempo por todas as civilizações antigas. Na Mesopotâmia, na Grécia, na Índia, na China, na Arábia, no Egipto, entre os Maias… Acabe lá com essa conversa, seu fala-barato: para qualquer lado que me vire eu acho que os seus antepassados não nos deixaram mais do que algumas belas mesquitas e uma religião que com certeza não contribuiu para a história do pensamento. E que no seu lado mais aceitável é um plágio da religião cristã e da religião judaica, para além da filosofia helênica. Esclarecido este ponto, vejamos quais são os méritos que se devem atribuir a este Alcorão que as cigarras de luxo respeitam mais do que o Das Kapital e os Evangelhos. Méritos verdadeiros? Desde o 11 de Setembro de 2001, os peritos do Islão não fazem senão cantar loas a Maomé; contar-me que o seu Alcorão prega a paz e a fraternidade e a justiça. (Até Bush o diz, pobre Bush. Para aquietar os vinte e quatro milhões de americanos árabe-muçulmanos, ele repete essa fala continuadamente como os franceses da Revolução e do Diretório repetiam o slogan Liberté, Égalité et Fraternité.) Mas em nome da lógica: se este Alcorão é tão justo e fraterno e pacífico, como explicar a lei do Olho-por-Olho-e-Dente-por-Dente? Como entender aquilo do chador ou, melhor, do burhah, isto é, o lenço alucinante que cobre o rosto de milhões de desgraçadas muçulmanas que, para ver o próximo têm de olhar através de uma espessa rede posta à altura dos olhos? Como entender a infâmia da poligamia e o princípio de que as mulheres devem valer menos do que os camelos, que não podem ir à escola, nem ao médico, nem tomar sol, nem deixar-se fotografar, etc., etc., ámen? Como perceber a proibição absoluta do álcool e a pena de morte para quem beber? Como entender a história das adúlteras lapidadas ou decapitadas? (e o homem co-responsável, nada). Como entender o fato de, na Arábia, cortarem a mão aos ladrões: no primeiro furto a esquerda, no segundo a direita, no terceiro um pé, e depois sabe-se lá o quê? Também estes horrores estão no Livro Sagrado? Sim ou não? E decerto isto não me parece justo. Decerto isto não me parece muito fraterno nem pacífico. E muito menos me parece inteligente. E, a propósito de inteligência: é verdade que na Europa os hodiernos santarrões da esquerda ou daquilo a quem chamam esquerda não querem ouvir o que eu digo? É verdade que, quando ouvem, ficam sumamente irritados e gritam inaceitável- inaceitável?  Ter-se-ão todos, talvez, convertido ao Islã e, em vez de freqüentar as Casas do Povo, vão agora às mesquitas? Ou, então, gritam assim para enfileirar com o seu novo aliado e cúmplice, o Papa, que sobre determinadas coisas só abre a boca para pedir desculpas ao Saladino que lhe roubou o Santo Sepulcro? Que coisa! Já tinha razão o meu tio Bruno ao dizer: “A Itália, que não teve Reforma, é o país que viveu mais intensamente a Contra-Reforma”.

Eis a minha resposta à tua pergunta sobre o Conflito-entre-as-duas-culturas. No mundo há lugar para todos. Em sua casa todos fazem o que lhes apetece. E, se nalguns países, as mulheres são tão estúpidas que aceitam o chador ou, melhor, o lenço através de cuja espessa rede à altura dos olhos lá vão espreitando o mundo, tanto pior para elas. Se são assim tão imbecis que aceitam não ir à escola, nem ao médico, nem tomar sol, nem deixar-se fotografar, etc., etc., ámen, tanto pior para elas. Se são assim tão patetas que se casam com um estafermo que quer quatro desgraçadas na sua cama, tanto pior para elas. Se os homens são assim tão idiotas que não bebem vinho ou cerveja, idem. Não serei eu quem vai impedir. Era o que faltava! Fui educada no conceito de liberdade e a minha mãe dizia: “O mundo é bonito porque é variado”. Mas, se eles pretenderem vir-me impor as mesmas coisas, ao meu país, à nossa cultura, se eles pretenderem tornar-nos Fiéis… E eles pretende exatamente isso. Osama Bin Laden afirma que todo o planeta Terra deve tornar-se muçulmano, que devemos todos em massa converter-nos ao Islã, que ele nos obrigará a bem ou a mal, nem que seja preciso massacrar-nos e continuar a massacrar-nos. E isto não pode agradar nem a mim nem a vós, defensores hipócritas do Islã. Tenho uma vontade enorme de trocar os papeis, de ser eu a matá-lo. O mal é que a coisa não se resolve, não acaba com a morte de Osama Bin Laden. Porque, chegados a este ponto, os Osama Bin Laden são dezenas de milhares e já não estão só no Afeganistão ou nos outros países muçulmanos. Estão por toda a parte e os mais aguerridos estão precisamente no Ocidente. A Cruzada às Avessas já começou há demasiado tempo, meu caro. E ela é sustentada demais para a fraqueza do Ocidente, para a timidez do Ocidente, para a não-violência do Ocidente, para o bem-estar do Ocidente, para a tecnologia e as oportunidades do Ocidente. Isto é, para os nossos computadores, a nossa Internet, os nossos celulares, os nossos esportes, os nossos princípios de hospitalidade, as nossas leis complacentes, a nossa demagogia ridícula, o nosso pacifismo covarde e hipócrita, o nosso (o vosso) medo. Os seus soldados, os seus Cruzados, já conquistaram as suas posições e defendem-nas como o fizeram os seus antepassados em Portugal e na Espanha do sec. IX até ao séc. XV. São sempre mais, serão sempre mais, querem sempre mais e quererão sempre mais, e aqueles que hoje moram na nossa terra podem considerar-se como pioneiros. Sendo assim é impossível negociar com eles. Raciocinar com eles, impensável. Tratá-los com indulgência ou tolerância ou esperança, é um suicídio. E quem pensar o contrário é um imbecil.

28 agosto, 2010 às 21:33

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Categoria: Artigos

Comentários (1)

 

  1. […] islâmica -Primeira parte- comentário do blog     e   em 28/08/10, clique em cima:     Oriana Falllaci escreve sobre a violência do Islã- Segunda […]

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