Os Liberais, as Ciências Humanas, e a Matemática

Esse pomposo título seria adequado para um livro de 600 páginas, para uma obra de fôlego, seminal. Resolvi usa-lo para um pequeno texto, nada mais.

Todas as pessoas ao nosso redor têm como verdades inapeláveis: a bomba em Hiroshima foi uma barbaridade; a tortura no combate ao terrorismo é crime; a invasão do Iraque foi um erro do burríssimo presidente Bush. Elas podem afirmar, com toda razão, que os indivíduos mais talentosos e inteligentes do mundo pensam dessa maneira. Nós, os que discordamos, somos uma ínfima minoria, e nos falta auto-crítica para admitirmos que infelizmente o nosso despreparo é grande, e que temos o cérebro um pouco maior do que o de um lagarto. Ainda por cima, não seria exagero dizer que aqueles que em número expressivo, importante, falam a nossa linguagem, nem sabem que nós existimos, habitamos mundos diferentes. Eles são os caipiras americanos do meio-oeste. Essa é a grande massa que não aceita os falsos conflitos morais criados pelos liberais. São o repositário da lucidez. A figura esteriotipada nos mostra que vivem com um raminho de capim na boca, tocam banjo, não gostam de política, mas acham a Sarah Palin inteligente e gostosa. É claro que consideram esnobe e desagradavel o forasteiro que vier com questões éticas sobre o que aconteceu com os japas, em Hiroshima.

Nos Estados Unidos ainda temos do nosso lado alguns PhD novaiorquinos, e também outras minorias na costa Oeste. E assim, por incrivel que pareça, em todos os lugares existe gente feito nós, que pode até conseguir enganar as massas e chegar ao poder. Por exemplo: Berlusconi na Itália, Sarkozy na França. Mas sabemos que a maioria dos que elegeram candidatos de direita, ou centro-direita, também acreditam na imoralidade da bomba em Hiroshima, em tortura-jamais, e outros ícones dos nossos tempos. Temos alguns pontos em comum, mas não mais do que isso. Portanto somos tão solitários que precisamos ter cuidado para não “dar bom dia prá cavalo”, se é que me entendem, quando uso essa perspicaz expressão antiga.

Você conhece um engenheiro, ou pessoas que tiveram formação onde foi necessário a matemática. Pelo fenômeno do contato humano elas também professam aquela crença nas falsidades que se tornaram verdades universais. Muito bem, se você apresentar argumentos baseados em um encadeamento lógico que aprendemos no curso primário, colocar números sobre a mesa, der exemplos triviais do dia a dia, elas poderão em cinco minutos descobrir que tudo que lhes disseram não passa de balela. Não terão a menor dificuldade para romperem os laços com suas antigas crenças. Mas, no caso daqueles com formação em Humanidades, um cientista político, um sociólogo, psicólogo, ou um assíduo leitor de jornais, ligadão em notíciários da TV, você será visto como uma pessoa muito excêntrica, que se recusa a aceitar o que eles imaginam serem conquistas intelectuais irreversiveis. Vão achar demoníaco você pensar que a bomba em Hiroshima não foi um monstruoso crime contra a Humanidade, e a sua conversa vai se transformar num suplício. Se você topar com um desconhecido, um encontro casual em alguma reunião, a pessoa logo estará perdida no emaranhado dos seus argumentos e arranjará uma maneira de ficar bem longe da sua desagradavel presença, e ainda vai avisar aos amigos que encontrou esse espécime raro: um direitista perfeito e acabado, ou seja, um idiota que consegue se expressar.

Nesse segundo círculo as pessoas, estão comprometidas com o pensamento liberal, embora muitas vezes não saibam o que isso quer dizer. Foram moldadas por uma sociedade anti-americana e, se tiveram o privilégio de estudar, seus professores foram de esquerda. A imprensa, toda ela solidária com o que se tornou uma religião, faz sua parte através das notícias e dos formadores de opinião. Em um nivel mais elevado na escala social esses indivíduos zombam dos que acreditam no preto e branco (“isso é ignorância!”) e apoiam-se no conceito da linha de sombra. Seu código de ética exclui o absolutamente certo e o absolutamente errado. A consequência é afirmarem o que presumem ser o máximo da sofisticação: “não existem mocinhos e bandidos!”. Dessa maneira pensam humilhar e emudecer a nós, os medíocres do infantil radicalismo. Em suma, tornaram-se relativistas para todos os assuntos na vida.

Coloquei um vídeo logo abaixo. Ele me chamou a atenção porque é pura matemática. Engenheiros, técnicos, e operários trabalhando na construção de uma ferrovia. São essas as pessoas que não se desligaram do bom senso e podem acreditar que a bomba em Hiroshima foi muito bem jogada, se conseguirmos provar que ela salvou diretamente mais de 10 milhões de vidas. Vivem no rígido e exigente mundo do raciocínio lógico, não podem cometer enganos ou tudo vai dar errado. Não são muito admiradores da conversa sobre política. Acima de tudo, não acham que exista espaço para o relativismo. Muitíssimo pelo contrário. Se não colocarem os dormentes na posição correta o trem vai descarrilhar.

“A mídia desproporcionalmente atrai pessoas com origem em profissões de humanidades, que tendem a, muito inocentemente, serem politicamente liberais. Se elas viessem de West Point ou da  Faculdade de Engenharia, isto não seria o caso”. (Fred Barnes, comentarista da FOX NEWS). Acessem no blog: TODOS OS ARTIGOS e leiam:   Tortura“, de Charles Krauthamer,  e o que eu escrevi: Você jogaria a bomba atômica em Hiroshima ?” “Você torturaria um terrorista? eDe como eu aprendi a deixar de me preocupar e passei a amar a bomba“.

Agora assistam ao vídeo e sintam a força da lógica dos engenheiros. Imaginem um sociólogo nesse meio. Ele ficaria horrorizado com o barulho das máquinas, com o bitolamento dos que trabalham na obra (sem trocadilho), e concluiria penalizado que afinal alguém precisa se dedicar a esses serviços inferiores.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=qFE8nmKpmXY]

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19 agosto, 2010 às 08:35

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Categoria: Artigos

Comentários (6)

 

  1. Anderson Bortolai disse:

    Cláudio,

    Já há uns tempos que queria lhe escrever agradecendo pelos seus artigos.

    Talvez eu morresse e não tivesse a compreensão real de alguns fatos que você aborda, tal como a bomba em Hiroshima, pelo qual concordo plenamente com sua conclusão.

    São encadeamentos lógicos, racionais. E vou além, são “justos”. A maneira como você expôs alguns de seus pensamentos me serve de parâmetro para tudo que leio e ouço da grande imprensa e até mesmo dos atos cotidianos.

    Isso que estou falando aqui não serve de puxa-saquismo, realmente não preciso disso e acho que você também não. Até porque, meu agradecimento são às suas idéias. Nem lhe conheço e nem sei nada de sua história.

    E todo o meu interesse pelos seus escritos derivou-se da leitura casual de um post seu no Instituto Millenium, intitulado “Lula – os militares – Dilma”, onde expõe o medo do atual presidente do Brasil dos militares. É algo tão verdadeiro e tão importante de se saber, que me indigna como e por quê a imprensa maior não veicula isso.

    Enfim, acho que de forma rápida e apressada consegui passar ao menos a essência do que sinto.

    É isto e, por favor, continue escrevendo.

    Valeu.
    Anderson Bortolai

    • Claudio Mafra disse:

      Anderson, só continuo a escrever por causa do incentivo de pessoas feito você.
      Muito obrigado.

  2. Denis disse:

    Não há dúvidas que Hiroshima e Nagasaki foram os atos mais covardes e imorais da história da humanidade. Apesar de alguns americanos fazerem um terrível esforço de negação, a verdade é que a culpa pesa, e muito, tanto que tiveram medo de pisar em Hiroshima e olhar decentemente nos olhos dos japoneses. Parece que com Obama, os americanos buscam o caminho da reconciliação, admitindo a culpa, o que é salutar, ao enviar em 2010 representantes as comemorações do aniversário do evento mais vergonhoso da história.

  3. RH disse:

    Prezado Claudio,
    Cheguei no seu blog através do mises.org, e acabei de ler este artigo.
    Achei muito interessante a sua colocação sobre o pensamento lógico dos engenheiros…
    O que você descreveu foi exatamente o que aconteceu comigo.
    Em 2005 tive um breve contato com um colega de trabalho que dizia coisas revolucionárias tais como:
    “-Não me importa se o petróleo é brasileiro ou não, eu quero é a gasolina mais barata!!”
    “-O Chile saiu da crise econômica graças às políticas econômicas de Pinochet, que são muito melhores do que as nossas!!”
    “-O salário mínimo não deveria existir!!”
    e outras coisas que me deixaram inicialmente aterrorizado, até que comecei a ler um pouco sobre livre mercado e liberdades individuais, inicialmente no site do filósofo Olavo de Carvalho (honrosa exceção entre os “intelequituais” brasileiros), e acabei batendo no site do Ludwig von Mises Institute onde, após ler algumas páginas de Rothbard e Mises, meu castelo de cartas caiu para sempre!!
    Hoje dou graças a Deus por ter tido a oportunidade de entender essas coisas tão simples, porém que a maioria não quer entender.
    Pela minha posição no espectro político-econômico, sou considerado hoje em dia um “bicho esquisito” (no melhor dos casos)…
    Em tempo, parabéns pelo video, é um perfeito exemplo de coisas que jamais poderiam ser criadas ou produzidas por uma organização corrupta e incompetente como o Estado…
    Saudações Austro-Libertárias,
    RH – Eng. Mecânico – RJ

    • Claudio Mafra disse:

      Um depoimento igual ao seu é muito dificil de ser ver. Ilustra o blog. Eu disse ao Anderson que só continuo a escrever porque coisas desse tipo acontecem. Obrigado

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