QUALQUER golpe militar prejudica o processo democrático – eu acredito no voto, acredito em paz e amor para evitar guerras, acredito no coelhinho da Páscoa, mas, acima de tudo, acredito na Petrobrás

 
Escoltado por uma guarda de honra do BGP (Batalhão de Guarda Presidencial), comandada por um oficial do Exército, o notório meliante Renan Calheiros prepara-se para assumir a presidência do Senado. O que se passou na cabeça do oficial enquanto caminhava atrás do ladrão, com a espada desembainhada? Caminhava e ouvia os gritos das moças e rapazes: filho da puta ! ladrão!, fora! fora!  O que ele disse para sua mulher quando chegou em casa?  Alguma coisa assim : ” Você nem imagina! Que vergonha, eu fazendo papel de palhaço. A minha vontade era descer a espada na cabeça dele!” Ou não foi nada disso, e ele nem comentou o fato ?
 

 

Longe de mim dizer que a corrupção foi inaugurada com o PT . Quem acompanha o blog sabe disto. Se é para marcar alguma data, talvez a roubalheira tenha se tornado endêmica a partir de meados dos anos 70. Acontece que o PT chegou ao ponto extraordinário de roubar o dinheiro do Estado para modificar as leis do próprio Estado, o que é a essência do Mensalão. Mas, não foi tudo. O PT conseguiu “desmoralizar a honradez”. Ao mesmo tempo que ficava exposto em sua degradação, destruía a maior esperança já depositada em um partido pelas classes humildes durante toda a história republicana. O povo brasileiro tornou-se ainda mais cínico com respeito aos homens públicos – talvez de forma definitiva. Aqueles que chegaram com a missão apaixonada de corrigir as injustiças praticadas contra os pobres mostraram-se ladrões vulgares, escondendo o dinheiro roubado em peças de roupas íntimas. É evidente que um desapontamento desse tamanho deve ter afetado o comportamento das pessoas,  contribuindo para o desprezo por um maior sentido ético em suas vidas. O que já era ruím tornou-se péssimo.

Pois bem. O PT estava comprando congressistas, COM O NOSSO DINHEIRO, para forjar leis de seu interesse. É óbvio que este processo visava sua permanência no poder ad eternum. O partido já era dono de maioria simples no Congresso. Agregar parlamentares “especiais”, cujo número tendia a crescer, facilitaria a aprovação de “consultas populares”, prorrogação de mandatos, e medidas de exceção. Desta maneira, procurava-se alcançar uma ditadura “constitucional”. Os executores do plano, entre eles o presidente da República, formavam a elite do PT – pessoas com experiência na luta pela queda do regime militar de 1964, e por isso mesmo friamente conscientes da gravidade de seus objetivos. Descoberta a conspiração, Lula deveria ter sido deposto pelo Congresso sob acusação de peculato e tentativa de golpe de estado. Este seria o caminho constitucional por excelência.

Os deputados e e senadores falharam ao não propor o impeachment do presidente. Isto significou mais desmoralização para as instituições brasileiras. Se estivéssemos em período anterior ao golpe de 1964 seria possivel que os militares pressionassem o Congresso, sob a alegação de que teria havido uma tentativa de golpe branco, como está colocado no parágrafo anterior. Em nossos dias, por razões óbvias, nem lhes passou pela cabeça tomar esta atitude, mesmo sabendo que um governo petista deposto e desmoralizado estaria muito mais de acordo com o que julgam melhor para o País.

A intervenção militar, ou o golpe militar é ,ou foi comum, em países subdesenvolvidos. Não se imagina golpes na Nova Zelândia, Inglaterra, Noruega. A tomada da Argélia por um grupo de generais francêses, desafiando o governo do general De Gaulle, é um fato raro. No entanto vou dar um exemplo que pode parecer excepcional, mas é ilustrativo do golpe militar preventivo.

A esquerda considera abominável a intervenção militar contra governos que sejam…. esquerdistas. Já os governos de direita são considerados criminosos por definição, e devem ser depostos. Para dar um exemplo radical, e de um governo que realmente tornou-se criminoso: Lamenta-se que os generais alemães não tenham deposto Hitler após alguns anos do seu mandato de Chanceler eleito CONSTITUCIONALMENTE através do voto popular. A medida seria” justificada” porque a Alemanha caminhava para uma ditadura, com fortes indícios de preparação para uma nova guerra, irresponsável e suicida.

Imagino que em quase todo o mundo o papel dos militares é garantir o cumprimento da constituição e proteger as fronteiras de seu país. Por definição o soldado existe para defender os mais fracos. Os generais alemães estariam certos depondo Hitler ? Estariam defendendo os mais fracos? A esquerda alemã teria apoiado com entusiasmo a deposição, mesmo porque os comunistas haviam sido fragorosamente batidos na eleição. De fato, ela queria sua própria ditadura, a pior de todas, porque cumpriria ordens vindas de outro país. Mas, o que nos interessa nesta história é o limite entre a constitucionalidade e a ANTECIPAÇÃO à ditadura. Mais tarde, quando Hitler cercou-se de poderes ditatoriais e o desastre parecia certo, os generais alemães já estavam presos a ele por um juramento pessoal de lealdade, e a intervenção tornou-se quase impossivel. Embora seja fácil julgar os acontecimentos a posteriori, temos o sentimento de que os generais erraram ao não afastá-lo do poder enquanto podiam. Não se anteciparam à quebra do regime institucional e pagaram por isto.

O golpe militar preventivo no Brasil:

O que dizer da intervenção do general Lott em 1955, depondo o presidente Carlos Luz, e assegurando a posse de Juscelino ? Foi um golpe militar, mas o general o chamou de “retorno aos quadros constitucionais vigentes”. Desta maneira Lott quis dizer que  a constitucionalidade já havia sido quebrada, quando, de fato, ele sim, rompera o processo institucional, antecipando-se ao golpe branco  preparado por um complô dos inconformados com a derrota nas eleições presidenciais. O povo aplaudiu o golpe, E A ESQUERDA TAMBÉM, já que os conspiradores eram de “direita” .

O que aconteceu em 1955 nos remete ao exaustivamente “amaldiçoado” golpe de 1964. Esta foi uma clássica intervenção militar dos tempos da Guerra Fria. Não vou analisar o que se passou porque é muito chato e já publiquei vários artigos a respeito. Clicando no título o leitor pode ler um deles : Quem será o herói que vai dizer que o golpe de 1964 foi necessário? (ou,como serão os militares hoje? ).O mais importante é dizer que o golpe, no seu início, na sua razão de ser, foi extremamente popular, ao contrário da história mentirosa que a esquerda escreveu. O problema é que os militares gostaram tanto do poder que não queriam mais sair dele. O final traumático é bem conhecido.

Por último:  Um governo com alto índice de popularidade não é necessariamente constitucional. Depende de que maneira a popularidade foi adquirida. Pode-se produzir um golpe de estado começando por convocar uma “consulta popular” (plebiscito), tendo o cuidado de antes dobrar o valor do salário mínimo. Todas estas questões correm no fio de uma navalha.

Concluindo: A intervenção militar não é palavrão, nem no Brasil, nem no resto do mundo sub-desenvolvido, como somos induzidos a crer. É matéria muito mais complexa do que nos fazem acreditar.

 

¨*Em 1965 fui indiciado em Inquérito Policial Militar instaurado pelo Exército. Eu era integrante da AP (Ação Popular, a mesma do Serra), e portanto estava em lado diametralmente oposto ao que me encontro hoje. Se houver interesse é só clicar em cima do título:Crimes contra o Estado”.

 

 

 

7 fevereiro, 2013 às 07:37

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Categoria: Artigos

Comentários (5)

 

  1. Marco Balbi disse:

    Parabéns, meu amigo! Acho que você produziu um texto estupendo! Difundi geral!

  2. oliveira disse:

    Grande Mestre,
    Indico, para entender o futuro do Judiciário Brasileiro, o acompanhamento de um jovem advogado muito “protegido” chamado Beto Vasconcelos. Embora novo e filho de um integrante da luta armada, mostrou-se muito influente na Casa Civil. Pode-se afirmar que foi o principal protagonista da “incrível” LAI (Lei de Aceso a Informação) do Brasil (também merece estudo essa lei muito estranha, que salvo outro juizo, afronta o inciso XXIII do artigo V da Constituição Federal). Consta na mídia que assessou diretamente nas recentes indicações dos ministros do STF e está “sendo preparado” para assumir uma cadeira naquele Supremo Tribunal, com as missões previsíveis de: defender os interesses do PT na suprema corte brasileira; legalizar o revanchismo e punir os que se oponham as “estratégias” do partido, e sabe-se Deus mais o quê…

    • claudiomafra disse:

      Meu caro, o Claudio Fonteles foi entrevistado pelo Estadão, ontem, dia 10. Eu sempre o considerei inteligente ( no bate-papo), mas veja o que disse com a maior tranquilidade, tentando agradar os militares : “As Forças Armadas são fundamentais em qualquer democracia. Não há democracia sem elas”. Ponto final. Puxa, aprendemos mais essa : Não existe democracia sem Forças Armadas!!! A audaciosa afirmação teria que ser explicada. O que dizer de Costa Rica que não tem Exército, Aeronáutica e Marinha ? As bobagens são ditas com tal impunidade que parece que somos um bando de debeis mentais. Lembra-se do Betinho? Também foi da AP, Coordenador nacional. Começou assim um artigo no JB : ” É sabido que quanto mais desenvolvido um país maior a corrupção ” . Dificil de aguentar, mas somos obrigados. Claro que ele pensava nos Estados Unidos. Vc tem razão, o Beto faz parte do plano de nos punir.

  3. Maia disse:

    Adorei o texo.

    Só uma correção, o Coronel é do BGP (Batalhão de Guarda Presidencial) e não do 1º RCG (Regimento de Cavalaria de Guarda “Dragões da Independência”)

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