Sol faz Hoffman dialogar com Haydn (João Luiz Sampaio) – vídeos

Autenticidade. Violoncelista, de 29 anos, celebra a liberdade de tocar aquilo que gosta


“Eu preciso ser autêntica, desenvolver uma relação especial com o que faço. Se não consigo isso, simplesmente não funciona, sou incapaz de me comunicar com o público.” Com esse credo, a violoncelista argentina Sol Gabetta, de 29 anos, tem construído uma carreira de destaque mundo afora, nos palcos e nos estúdios – e chega hoje a São Paulo, onde faz duas apresentações na Sala São Paulo, como parte da temporada da Sociedade de Cultura Artística.

Sol conversou por telefone com o Estado na semana passada, já durante a turnê com a Orquestra de Câmara de Basel, com quem se apresenta por aqui. Vai interpretar os concertos de Leopold Hofmann e Haydn. Se a peça de Haydn, ela lembra, é um dos pilares do repertório para o instrumento, o concerto de Hoffman é raramente ouvido. “É uma pena”, diz Sol. “E acho particularmente interessante ouvi-lo ao lado do célebre concerto de Haydn. O que acontece é que, de alguma forma, eles dialogam. E não apenas pelo fato dos dois terem vivido na mesma época. Hofmann trabalha de maneira diferente com o instrumento, já buscando um novo tipo de expressividade. É como se flagrássemos o violoncelo se transformando.”

Sol Gabetta nasceu em Córdoba, em 1981. Com pouco mais de 10 anos, mudou-se para a Espanha, onde estudou na Escola Superior de Música Rainha Sofia, em Madri. De lá, foi para a Suíça, estudar na Academia de Música de Basel com Ivan Monighetti. Lá também conheceu o brasileiro Antonio Meneses, com quem fez masterclasses. Curiosamente, há um ou outro ponto de contato entre a trajetória dos dois – como Meneses décadas antes, Sol venceria o prestigiado Concurso Tchaikovsky de Moscou, na edição de 2004. Logo em seguida, com o maestro Valery Gergiev, faria sua estreia com a Filarmônica de Viena. Não parou desde então.

“Diálogos como esse dão à música um caráter vivo”, diz ela, retornando ao programa dos concertos. “E são mais importantes do que a preocupação com a especialização. É claro que aprendemos muito com os movimentos de pesquisa histórica, mas eles não podem ser camisas de força, o importante é o artista encontrar a sua maneira de passar a mensagem da música. E isso passa pela escolha do repertório, as combinações que você faz e a necessidade da busca por liberdade individual, sem se preocupar muito com o que dizem os outros.”

Prêmios. Sua discografia parece prova disso. Seu primeiro CD, por exemplo, reunia peças de Tchaikovsky, Saint-Saens e Ginastera. Em seguida, um álbum todo dedicado a peças para violoncelo de Vivaldi, que lhe rendeu prêmios internacionais – o que aconteceria também com seu disco dedicado a Shostakovich, com o Concerto n.º 2 e a Sonata Op. 40, duas peças fundamentais em sua trajetória. Parada preciosa é Cantabile, em que ela recria árias de óperas e canções. As peças de Hofmann e Haydn ela gravaria em seguida, com a Orquestra de Câmara de Basel, ao lado de peças de Mozart. O CD mais recente traz a sua interpretação para o célebre Concerto para Violoncelo e Orquestra do inglês Edward Elgar. “Acredito que de alguma maneira a minha personalidade foi transformada por meio da música, de uma maneira positiva. Com a música, aprendi a necessidade de se libertar daquilo que os outros esperam de você, o que consideram ser o melhor caminho a seguir. Eu hoje me sinto bem comigo mesma, assumo as minhas escolhas, o que eu faço, e tenho prazer em compartilhar com as pessoas. E isso tem me gerado uma sensação encantadora de liberdade”, diz.

QUEM É SOL GABETTA, VIOLONCELISTA ARGENTINA

CV: De ascendência franco-russa, Sol Gabetta é natural de Córdoba, Argentina, onde nasceu em 1981. Fez estudos na Espanha (Escola Superior de Música Rainha Sofia, em Madri) e Suíça (Academia de Música de Basel, com os professores Ivan Monighetti e David Geringas). Seu último disco, lançado pela RCA, é dedicado ao Concerto para Violoncelo e Orquestra do compositor inglês Edward Elgar. /J.L.S.

(publicado no Estadão em 31 de maio de 2010)

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31 maio, 2010 às 23:21

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Categoria: Artigos

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