Tortura ( Charles Krauthammer)

Esse artigo é antigo, de 2009, mas continua atualíssimo. Coloca o problema da tortura e algumas das hipocrisias dos liberais americanos. O leitor pode também ler o que eu escrevi: ” Você torturaria um terrorista ?

Charles Krauthammer é prêmio Pulitzer de 1987 para melhor comentarista, sendo considerado o mais importante colunista conservador dos Estados Unidos. É MD pela Harvard Medical School

 

Tortura é um mal intolerável. Exceto sob duas circunstancias. A primeira é a bomba marcando o tempo.Uma vida inocente está em risco.O cara mau que você capturou possui  a informação que poderia salvar essa vida. Ele se recusa a falar. Nesse caso, a escolha é fácil. Até John McCain, o mais admirável e estimado opositor a tortura, diz abertamente que nessas circunstancias, “ Você faz o que tem que ser feito”. E depois se responsabiliza.

Entretanto, algumas pessoas acreditam que jamais se tortura.Nunca.Eles são parecidos com os discordantes conscientes que jamais lutaram em qualquer guerra, sob nenhuma circunstancia,e por quem nos certamente mostramos respeito isentando-os do dever da guerra. Mas nunca faríamos de um deles um comandante do Comando Central dos Estados Unidos (Centcom). Os princípios pessoais são admiráveis, mas não se incumbe tal pessoa de decisões militares das quais depende a segurança da nação. É similarmente imprudente ter uma pessoa que repudiaria a tortura em todas as circunstancias tomando decisões sobre a segurança nacional das quais depende a proteção de 300 milhões de compatriotas.

A segunda exceção à regra de não-tortura é a extração de informação de um inimigo poderoso em posse de informações de alto valor, que provavelmente salvariam vidas. Nesse caso, não se tem clareza da conjuntura da bomba relógio.Sabemos pouco sobre a  extensão do detonador ou da natureza do próximo ataque. Mas sabemos sim, que o perigo é grande. ( Um dos “memorandos da tortura”citava que a CIA havia avisado que uma fala terrorista havia atingido níveis pré-11 de setembro). Sabemos que precisamos agir, mas não temos idéia de onde e como – e não há uma maneira de saber,até termos a informação. Um círculo vicioso, sem saída. (Catch-22)

Nessas circunstancias, faz-se o que tem que ser feito. E isso inclui simulação de afogamento- waterboarding. (Chamar  alguns outros  exemplos de “técnicas avançadas de interrogatório” – bofetadas nas faces, interrupção do sono, – é esvaziar a palavra ‘tortura’ de qualquer significado).

E funcionou? As evidencias atuais são razoavelmente fortes. George Tenet (ex-Diretor da CIA) disse que só o  programa do “interrogatório avançado” rendeu mais informação do que tudo que foi obtido  “do FBI, da CIA e da Agencia de Segurança Nacional juntas”.

Michael Hayden, diretor da CIA depois que os afogamentos foram suspensos escreve (com o ex-advogado geral Michael Mukasey) que “até 2006 … pelo menos metade do que o governo sabia sobre a estrutura e as atividades da Al-Qaida vinham desses interrogatórios”. Até Dennis Blair, diretor de inteligência nacional de Obama, concorda que esses interrogatórios revelam “informações de alto valor”. É demais para a indolente e estúpida declaração de que tortura nunca funciona.

Não poderíamos, como o presidente afirmou repetidamente em sua entrevista de quarta-feira, ter obtido a informação por meios menos moralmente nocivos? Talvez, se tivéssemos falado gentilmente e sinceramente com  Khalid Sheikh Mohammed (KSM), poderíamos igualmente, ter obtido “informações de alto valor”.

Há dois problemas com a técnica do “bom policial”. KSM, o idealizador do 11 de setembro, que sabia mais sobre mais conspirações do que qualquer outro, não parecia muito inclinado a responder à indagações corteses sobre planos futuros. O homem que se gabou de ter pessoalmente decapitado Daniel Pearl com uma faca de cozinha respondeu a perguntas sobre conspirações com um  “logo vocês saberão” – o que significa, quando contarem os corpos no necrotério e encontrarem vitimas queimadas, horrivelmente desfiguradas nos hospitais, vocês saberão então o que estamos planejando agora.

O outro problema é o tempo. A tarefa do “bom policial” pode levar semanas, meses ou anos. Não tivemos esse luxo no pós  11 de setembro quando a simulação de afogamento por exemplo, estava em uso. Fomos pegos totalmente cegos.  Sabíamos que havia mais conspirações por aí e não sabíamos quase nada sobre elas. Precisávamos descobri-las muito rapidamente. Descobrimos um monte.

“Temos pessoas andando por aí nesse país que estão vivas hoje por causa desse processo”, afirma o predecessor de Blair, Mike McConnell. Naturalmente, a moralidade da tortura depende se naquela  época, a informação era suficientemente importante,o perigo era grande o bastante e nossa cegueira sobre os planos do inimigo,grave o suficiente para justificar uma exceção a proibição moral da tortura.

A julgar por Nancy Pelosi (Presidente da Casa de Representantes (deputados federais)) e outros membros do Congresso que foram informados na época, a pergunta parece ser sim. Em dezembro de 2007,após uma noticia no The Post de que ela tinha conhecimento desses procedimentos e não fez objeção, ela admitiu que tinha sido “informada sobre essas técnicas de interrogatório que a administração estava pensando em usar no futuro”.

Hoje Pelosi protesta “ nos não fomos  – repito – não fomos avisados de que a simulação de afogamento ou qualquer outro desses métodos avançados de interrogatório foram usados”. Pelosi acredita que essa distinção entre passado e presente, ‘Clintoniana” em sua análise, a absolve.

Pelo contrario. É auto-incriminante. Se você é informado sobre tortura que já ocorreu, pode-se justificar o silêncio em termos de que ‘o que foi feito, foi feito’ e você esta simplesmente sendo usado em um exercício retroativo para encobrir a retaguarda da CIA. O tempo de objetar à tortura, se você esta realmente indignado como agora finge estar, é quando a CIA te conta o que esta sendo planejado para se fazer “no futuro”.

Mas Pelosi não fez nada. Nem protestou. Nem se moveu para cortar fundos. Não enviou nenhuma mensagem para o presidente ou para o chefe da CIA ou qualquer pessoa dizendo “Não faça isso”.

Pelo contrário, cita Porter Goss, o então chefe do Comitê de Inteligência da Casa de Representantes: “Os membros informados sobre essas técnicas não apenas abstiveram-se de objetar,mas “em uma base bipartidária, perguntamos se a CIA precisava de mais suporte do Congresso para conduzir a missão contra a AL-Qaeda”

Mais suporte, percebam vocês. O que faz do atual espetáculo de condenação auto-justificada não somente covarde, mas vazia, insincera. Era para  ter discordado na época e falado. No entanto,é totalmente desprezível, ter silenciado então e surgir agora “em um dia seguro, claro e ensolarado em abril de 2009” (as palavras são de Blair) para denunciar aqueles que nos mantiveram seguros nestes angustiantes últimos 8 anos.

TRADUÇÃO: Célia Savietto Barbosa

Vejam uma charge mostrando a insensatez liberal.  O juiz está dizendo: E você teve o que consideraria um JULGAMENTO JUSTO ? E a figura ( provavelmente Khalid Sheikh Mohammed) responde: Sim, absolutamente!


9 julho, 2010 às 23:31

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Categoria: Artigos

Comentários (1)

 

  1. Osmar disse:

    Bom artigo. Eu não sabia que o Krauthammer era médico. Excelente a tradução, Mafra !! Um abraço.

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