Você torturaria um terrorista?

Em entrevista na televisão o governador Jarbas Passarinho colocou a seguinte questão: um terrorista encontra-se preso no vestiário do estádio. Ele já confessou que colocou bombas nas arquibancadas . Elas vão explodir em 15 minutos e matar 10 mil torcedores. Recusa-se a dizer onde estão. É lícito torturá-lo para conseguir a informação?

Eu já fiz essa pergunta para um scholar famoso, que me respondeu com um e-mail desaforado, dizendo para eu ir perguntar para o Pol-Pot, ou para o camarada Mao Quando protestei, ele se desculpou: “também você faz cada pergunta” e… continuou sem responder. Propus em um salão de fisioterapia . Todos levaram um choque, e ficou evidente que nunca haviam pensado a respeito. Logo começaram a colocar hipóteses sobre hipóteses, tentando ignorar os dados muito claros e a pergunta muito objetiva. Com a minha insistência terminaram se rendendo a uma definição. Dos seis consultados, cinco disseram que torturariam.

Trata-se de mais um fenômeno típico dos dias que estamos vivendo. As pessoas podem ler nos jornais que a CIA, que Bush, estão sendo acusados de haver torturado e, instintivamente concordam que eles estão errados, posicionam-se do lado dos acusadores e viram a página. A recusa em torturar é visceral, portanto, não há o que discutir. Vamos passar para o caderno de Esportes.

No entanto pode-se responder simplesmente: “Não, eu nunca mandaria torturar. Não interessam os números. Poderiam ser milhões a serem sacrificados. Poderia ser o fim da raça humana, mas eu prefiro que ela se extinga a vivermos em um mundo onde os fins justifiquem os meios”. Muito bem, é uma posição, é uma resposta. O que não se pode ficar é falando em Guantânamo, ou nos “métodos da CIA”, sem enfrentar o grande problema que é o da morte de milhares, ou milhões de inocentes. É com essa questão moral que se debatem civis e militares que combatem o terrorismo. Todos precisam se colocar no lugar deles para, então, se definirem. Se fazemos isso com a maioria das questões que nos são propostas por que essa resistência em encarar o problema de frente? Usar o argumento que a tortura não é eficaz é o completo desconhecimento da realidade. Vai contra o bom senso. A dor insuportável leva à revelação de segredos. Por isso, espiões carregam cápsulas de veneno para o suicídio, no caso de serem apanhados. Discutir esse aspecto é perda de tempo.

Na década de 70 começou-se a falar no perigo das “bombas atômicas de bolso”, e bombas bacteriológicas jogadas por terroristas sobre grandes cidades. Bem, de conjecturas sobre esse fato extraordinário chegamos, agora, o momento em que pode acontecer. Existem arsenais atômicos mal guardados, e pior ainda, os guardas podem de um momento para o outro se bandearam para o lado do terror. O Paquistão é o melhor exemplo. Outro grande risco é a Coréia do Norte vender suas bombas ou exportar “atalhos” para sua fabricação, já que existem muito poucos segredos sobre a tecnologia nuclear. Os foguetes coreanos já alcançam o Alaska e também podem ser vendidos. Por que não? E também não está afastada a hipótese de Kim Jong-il, completamente maluco, resolver encerrar sua carreira da mesma maneira que Hitler fez com a Alemanha, ou seja, depois dele, o caos absoluto, e assim destruir a Coreia do Norte em uma guerra nuclear.

Bem, o presidente dos Estados Unidos recebe diariamente informações sobre atividades terroristas no mundo. É possível que ele se defronte de uma hora para outra com o problema de que alguém foi preso e tem uma informação fundamental para a segurança americana, mas se recusa a revela-la. Provavelmente já deve ter acontecido. Segundo Dick Cheney, um nome maldito, alguns mega atentados foram evitados através de interrogatórios “não convencionais”. Alguns terroristas tiveram sua cabeça enfiada em um tanque com água (waterboarding), até que contassem seus segredos. Como vai se comportar o presidente Obama? Pedir para que não lhe contem detalhes do que está acontecendo? Deixar o terrorista ser torturado pelas polícias de outros países, porque “o que acontece fora dos USA não é do meu departamento?”. Fazer discursos bonitos é uma coisa, decidir que vai correr o risco de Nova Yorque ser varrida do mapa porque não permite torturar um preso é outra. Esse dia pode chegar a qualquer momento. Pode ser hoje mesmo. De que maneira Obama responderia ao caso proposto, o do estádio de futebol? É curioso, mas nunca eu consegui ver alguém fazendo essa pergunta para o homem mais importante do mundo, o homem cuja resposta é a mais importante do mundo. Provavelmente se esquivaria, dizendo, por exemplo, que não se pode deixar a questão evoluir até esse ponto, que as agências de segurança americanas têm que ser eficientes para que o presidente não chegue a se deparar com esse tipo de escolha. Qualquer coisa do gênero. Estaria embromando. Eu já vi um diplomata suar, responder com dezenas de outras perguntas, sempre para escapar do fato nu e cru, muito simples de ser compreendido. Ao final, não podendo mais se esquivar concordou. Torturaria. Que impressionante fenômeno psíquico-social! Pelo mundo afora estamos condenando comportamento de pessoas, onde, no lugar delas,  faríamos as mesmíssimas coisas!  Também é possível que eu esteja sendo muito simplista, ou mesmo simplório. A questão pode ser mais sofisticada, com variáveis que desconheço. Eu gostaria muito que me dessem essa versão. Até agora, por mais que eu procurasse, nunca a encontrei. Em nenhum artigo, nacional ou internacional. É espantoso como é evitada a discussão dessa matéria. E você, leitor? Cartas para a redação.

1 junho, 2009 às 18:40

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Categoria: Artigos

Comentários (3)

 

  1. Quando um jornalista perguntou capciosamente para um general americano após o 11 de Setembro o que ele pensava do perdão, e este respondeu que o perdão era com Deus, sendo o seu papel somente agendar o encontro entre Este e os terroristas, as pessoas de bom senso comemoraram, enquanto as pombas hipócritas acusaram-no de belicoso e truculento. É sempre assim. Muito mais fácil e confortável é o papel de somente criticar os que fazem algo concreto na luta contra o terror, quando se está protegido justamente pelos que são acusados. E os “pacifistas” críticos de plantão sempre poderão subir no altar das vítimas, condenando os demais.

    Isso fica claro no paradoxo à seguir: um terrorista é capturado pela polícia, que sabe da existência de uma bomba armada por este em local público. Mas o réu confesso se recusa a declarar a localização da bomba. Como a polícia deve agir? Se usar meios heterodoxos para obter a informação, tal como a tortura, será imediata e fortemente criticada pelos “pacifistas”, mas se nada fizer e deixar a bomba explodir, matando dezenas de inocentes, será acusada com a mesma violência pela sua incompetência e inoperância. É o caso prático dos que condenam a CIA e o governo americano pelo atentado do WTC, ao mesmo tempo que levantam-se contra qualquer medida que estes adotam para tentar evitar novos atentados.

    Na confortável posição de inação dos críticos românticos, protegidos pela hipocrisia, não há como perder. Basta sempre condenar, pregando a paz abstrata, como se esta caísse do azul. Não se importam com os árduos fatos da vida real complexa.

    Os fins NÃO justificam os meios, e aceitar isso abertamente é o caminho do caos. Mas existem alguns casos onde a decisão prática é, sem dúvida, bem mais complexa do que parece numa reflexão abstrata ou conversa de botequim. Parabéns por tocar nesse assunto polêmico, mexendo assim num verdadeiro vespeiro…

    Rodrigo

    • claudio mafra disse:

      Muito obrigado pela sua ótima reflexão. Eu fico espantado, e disse isso, que essa questão NUNCA seja levantada em lugar algum, TV, jornal, rádio.É um fenômeno, sem dúvida. Um forte abraço

  2. É claro que torturaria! Porque milhares de inocentes têm que morrer, por causa das crises ideológicas de um comunista de merda?Os fins justificam os meios sim! Queria ver ele aguentar um “saquinho de plástico na cabeça”, um “afogamento num balde”, Alguns “choques de 110 volts nos colhões, pendurado em um pau de arara!”Garanto que ele dava o ” serviço” rápidamente, da mesma maneira que Jenoíno fez no Araguaia. Só que lá nem precisou tortura. Ele heroicamente “mijou” nas calças e depois “entregou” todo mundo!

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