O maior jogador de futebol do mundo
Ao meio-dia eu estava andando pelo campus da universidade de Brasília.Pisava naquele pó macio onde os meus pés penetravam até o início dos cordões dos sapatos. Aprendi a conviver com esse pó, que era diferente dos outros. Sempre olhava para baixo para ter a sensação de não me importar. Às vezes procurava os lugares onde ele era alto, mais fofo, para vê-lo se espalhar, limpo, avermelhado, uma pequena nuvem subindo pela barra da calça. De repente, alguém passou e disse que o grande Ademir Menezes estava jogando uma pelada ali perto. Estou me referindo ao Pelé dos anos 40/50, o maior centro-avante que o mundo já vira. Saí correndo, mas quando cheguei o jogo havia acabado, e o maravilhoso craque estava sentado em um banquinho, tirando as chuteiras. Ao seu redor meia dúzia de pessoas em completo silêncio, olhos grudados em todos os seus movimentos. Fiquei algum tempo emocionado, consumindo a imagem que eu só conhecia de fotos. Queria ouvir sua voz. Então fiz um esforço para ser casual e perguntei : -“E aí, Ademir, como é que foi na pelada? Tudo bem ?”Ele levantou a cabeça , olhou para mim, sorriu, e deu a resposta carregada de melancolia : -“Quem não viu não acredita, e quem viu sente pena”. Quatro, ou cinco segundos, para entender o que ele dissera e as pessoas ensaiaram uns risinhos amarelos. Eu fiquei perplexo.”Quem viu sente pena”.Pena dele, mas também de si mesmo, porque o tempo passou para quem o viu jogar. Uma nostalgia imensa.
Ao contrário de quase tudo na vida aprende-se pouco no futebol, o grande jogador nasce sabendo. É talento puro.E ali estava ele, tão simples, velho aos quarenta anos de idade, inesquecivel, dramaticamente ligado para sempre á derrota de 1950.