Um leitor liberal comenta meus artigos e eu respondo
O e-mail do leitor e a minha resposta em vermelho em cima do texto
Meu caro:
A respeito de.Sarah Palin, liberais, etc. É curioso como você, tão informado e sofisticado em muitas análises, aí reduz o argumento básico a algo mais ou menos assim: os USA são o povo escolhido, com sua missão. Todo o poder a eles, sendo a guerra necessária e um meio para a missão sagrada se realizar. Para mim, o mundo de hoje é bem mais complexo e exige raciocínio também mais complexo, não mais se aceitando “temos nosso destino e saiam da frente”. Não é bem assim. O que eu defendo é que temos um país que salvou o mundo do comunismo, tanto em pequenas guerras espalhadas por todos os continentes, quanto no caso global da queda da URSS. Salvaram a Europa em duas guerras mundiais. Nosso tempo de vida é curto, então tivemos, desde o nosso nascimento até o que será nossa despedida, uma nação que influenciou definitivamente para melhor o nosso tempo aqui no planetinha. Não termos sido, nós dois, escravos dos comunistas, e não exagero, digo escravos mesmo, já basta para que nosso olhar sobre esse país seja diferente, muito diferente. Enquanto durante 45 anos(!) os pobres habitantes da Europa Oriental viveram aterrorizados, perderam suas vidas em um inferno, nós por aqui tivemos toda a liberdade e sempre achamos que isso veio assim, naturalmente, caído do céu. Nunca paramos para pensar que isso se deve aos Estados Unidos. Eles continuam sua trajetória. Agora nos defendem do terrorismo. Não tenha nenhuma dúvida. Trata-se do único país do mundo que tem condições de sustentar guerras e derrotar o terror. Se não fosse pelo que já fizeram teríamos bombas atômicas nas mãos muçulmanas, e é facílimo imaginar o que isso seria para o mundo e, consequentemente, para nós dois. O que estou escrevendo pode parecer escandalosamente ingênuo, principalmente para um liberal que pensa, como você disse acima ” o mundo de hoje é bem mais complexo e exige raciocinio também mais complexo” Esta é uma frase maravilhosa e poderia ser perfeitamente o título de um artigo explicando o liberalismo. Tudo é complexo, tudo é relativo, tudo que parece simples é apenas aparência, e quanto mais escolaridade a pessoa tiver mais perto estará da “verdade”. Não existe mais o certo e o errado, o mocinho e bandido, ao invés disso temos uma zona de sombra. Com essas complexidades é que devemos trabalhar,ou então seremos petistas. Extraordinário como vocês chegaram ao Bush = Lula.
Outra coisa é o que são os USA. Seu raciocínio, como o de outros amigos meus, é que há, ali, um grupo fundador, a verdadeira tradição do país, o único pensamento que tem direito de sobreviver e sobrepujar a todos os demais. Algo assim como o “saiam da frente”, que usei acima. De fato, acredito que houve um grupo fundador excepcional, um fenômeno raríssimo na história da humanidade, que, tendo por sorte uma imensa quantidade de riquezas naturais em seu país, conseguiu fazer através de princípios que protegem a privacidade e a liberdade, algo inédito até agora. Por liberdade, eles a entenderam de forma bem diferente daquela que os liberais nos oferecem. Esses, embora não saibam, querem a liberdade fascista, o estado imenso cuidando de nós, feito Obama está tentando impor aos americanos. Eu continuo com os fundadores, que fizeram uma revolução maravilhosa. Por consequência, discordar deles já me traria enorme desconfiança.
Ora, outras matrizes influenciaram o país, às vezes até como consequência inesperada de ações desse grupo fundador. Por exemplo, trouxeram considerável massa de escravos negros, com consequências imensas para a história posterior. Abriram-se para abundante imigração, que encheu o país de irlandeses católicos, judeus de várias procedências, sobretudo do Leste europeu, italianos, chineses, japoneses, imensas massas latinas de chicanos, salvadorenhos, e outros.Concordo plenamente que os imigrantes enriqueceram os USA, ninguém de bom senso diria o contrário, mas existe um limite para o fluxo imigratório. Está claro que o país não aguenta mais gente, sobretudo na condição de mão de obra desclassificada. Esse tempo passou. Pior ainda, os imigrantes que estão chegando agora, de forma descontrolada, não mais de forma ordenada, estão tentando usufruir, usando de esperteza, das leis que amparam os justos. Deixaram de trazer uma contribuição em reciprocidade ao privilégio de habitarem os USA. Hoje consituem um serissimo probema de criminalidade. – Até colônias brasileiras já temos. Bad example. Sabemos como os brasileiros estão se comportando lá, ou em qualquer outro lugar do mundo. Querer fazer um apartheid, nessa altura, seria problemático… Não se trata de apartheid, mas de não deixar mais que a entrada nos Estados Unidos seja feita sem uma triagem rigorosa, levando-se em conta os interesses americanos e a piedade pelos que estão sofrendo. É necessário um equilíbrio. Não se pode deixar que entrem todos os haitianos simplesmente porque o Haiti é um inferno. Tony Blair disse muito bem, quando esquerda pressionava o governo babá inglês: “As pessoas não tem o direito de entrarem na Inglaterra“. E por falar nisso, o governo babá inglês é um espanto. Todos os aproveitadores estão fazendo uso de aluguel pago, médicos pagos, tudo pago, e ainda contam como são espertos. Tive exatamente o exemplo de um brasileiro vagabundo, meu conhecido, que vivia às custas do governo e se gabava disso. Agora, dois meses atrás em Londres, estive com uma amiga que tinha ao seu lado, no trabalho, uma pessoa igualzinha a ela em possibilidade de contribuir com impostos, etc, e essa pessoa mentia, se aproveitava das brechas na legislação inglesa para não pagar nada, inclusive aluguel. Essa minha amiga, liberal, desabafou: “É dificil você dando duro e ver ao seu lado uma pessoa assim, na boa vida”
Portanto, os USA de hoje resultam de uma confluência de visões do mundo, e de tradições políticas, entre elas a inteligente política social de “liberais” da aristocracia branca de melhor estirpe (Roosevelt). Aqui discordamos também. Roosevelt é um heroi para os liberais, não para nós. Não se trata de uma unanimidade como você pensa. Ele errou fundo na economia, justamente por ser liberal. Keynes, ao contrário do que os liberais propagam também não é uma unanimidade. Sua política equivocada lembra exatamente o que Obama fez agora. Os Estados Unidos sairam da recessão por causa da guerra, e não pelos incentivos.Vou transcrever um trecho do livro “Fascismo de esquerda”, de Jonah Goldberg, a respeito do fascista Roosevelt, e por favor não desligue o computador. Eu quero apenas mostrar que muito do que vocês, liberais, consideram sagrado, pontos pacíficos que não admitem discussões, é pura fantasia. A maioria nos Estados Unidos não acredita nesses mitos criados por vocês, mas, eu sei a sua resposta: ” esse são os caipiras – todas as universidades estão conosco”. É verdade, mas para explicar esse fenômeno seria gastar muito tempo e já escrevi sobre a questão em vários artigos.. Vamos ao pequeno trecho: ” De fato parece impossivel negar que o New Deal fosse objetivamente fascista. Sob o New Deal, capangas governamentais punham portas abaixo para impor políticas. Os agentes do FBI eram tratados como semideuses, mesmo quando espionavam dissidentes. Capitães de indústria escreviam as regras pelas quais eles seriam governados.Roosevelt secretamente gravava suas conversas, usava o serviço postal pra punir seus inimigos, mentiu repetidamente para conduzir os Estados Unidos à guerra e em diversas ocasiões solapou os poderes do Congresso de fazer a guerra. Em 1932, qundo alertado por Frances Perkins de que muitas disposições do New Deak eram inconstitucionais, ele simplesmente encolheu os ombros e disse que lidaria com o assunto mais tarde ( a solução que pretendia: encher a Suprema Corte com seus cupinchas). Em 1942, disse abertamente ao Congresso que , se não fizessem o que ele queria, ele o faria de qualquer modo. Ele questionava o patriotismo de qualquer um que se opusesse a seus programas econômicos, quanto mais à própria guerra. Criou o complexo industrial-militar que tantos da esquerda hoje denigrem como fascista”.
Então, o pensamento liberal faz parte da tradição, o que significa a defesa de uma série de coisas, entre elas a de que são necessárias políticas governamentais para impedir a extrema pobreza, promover o emprego, educar etc etc etc. As teses liberais podem ser discutíveis, mas achar que só tem cidadania a visão calvinista é uma opinião equivocada, não calçada nos fatos da vida do país. Bem, precisamos ter boa vontade e aceitarmos as divergências. Nós dois já temos opinião formada. Para mim os liberais representam o estado babá, o estado grande, fascista o desrespeito à individualidade e a falácia de querer através da distribuição igualitária da riqueza “acertar o país”. Como distribuição igualitária quero dizer o dogma da taxar os ricos e dar dinheiro aos pobres. Mas é preciso ficar claro que lutar contra pobreza, desemprego, etc. não é monopólio dos liberais. Nós diferimos nos métodos, e não queremos um welfare state. Novamente o livrinho: “É claro que se pode viver uma vida feliz numa sociedade medicalizada e psicologizada no qual o Estado é sua mamãe. Mas somente se você tiver sido condicionado a encontrar prazer nesse tipo de sociedade, e esse é o propósito de muitas instituições liberais; reescrever os hábitos que trazemos em nosso coração.
Sobre o Obama, cobram-lhe o não ter ignorado o Congresso, pois poderia elevar o teto usando uma interpretação de emenda constitucional. Tudo bem. Ele optou por um caminho mais consensual, é da índole dele. Não, teria sido um ato ditatorial. Penso que a arrogância de Obama é um fato comprovado. Está muitíssimo longe da índole dele qualquer gesto magnânimo. Sua formação é o inverso do que você diz. Foi criado no ódio aos brancos e aos Estados Unidos. Seu mentor durante 20 anos foi o pastor Jeremias Wright, que celebrou seu casamento e batizou suas filhas. Wright pronunciou a célebre “Deus amaldiçoe a América”, um sujeito cujo adjetivo correto para descreve-lo é hidrófobo. Obama não baixou o ato porque teve medo, teria sido um acinte, um grande erro político.
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Sobre o errado de suas políticas econômicas, prefiro pensar nas limitadas opções que teve, assumindo o país com uma imensa crise já explodindo. Não foi culpa do Bush, segundo você, porque, se bem entendi, os meios não estavam ao alcance dele. Estarão esses meios ao alcance do Obama? Obama com seus incentivos e ajudas piorou a situação que encontrou. No caso dele foi opção, no caso de Bush veio na crise mundial. Pode-se dizer que Bush tenha sido lerdo no início com o problema das hipotecas, mas sua culpa é pequena comparada com Obama e seu pensamento extremamente liberal, isto é, gastar com escolas, gastar com o meio ambiente, gastar com tudo, pensando que poderia usar um dinheiro que não tinha. Gostaria de citar a Ann Coulter: “Seria um país muito melhor se as mulheres não votassem. Isto é um fato. Na realidade, em todas as eleições presidenciais desde 1950 – excepto Goldwater em ’64 – os Republicanos teriam ganho, se apenas votassem os homens.”…”as mulheres não têm capacidade para compreender como é que o dinheiro é ganho. Elas têm muitas idéias de como o gastar… é sempre sobre dinheiro em educação, mais dinheiro para cuidados infantis, mais dinheiro para creches.” Acho que provavelmente Ann Coulter está certa. Mais do que os homens, as mulheres não sabem que o governo não cria recursos, e sim aloca recursos. Bom, aí é outro longo debate. Acho bem razoável, contudo, a ideia de uma “herança maldita” que, ele sim, recebeu… (descida desabalada pela escada de incêndio). Corra mesmo, gostei desse final.
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Como disse o Delfin Neto, no último domingo na Band: “essas meninas republicanas são maluquinhas…”
De qualquer forma tomara que os americanos criem juízo e arrumem logo a casa p/ o bem do resto do mundo. Nesta altura do campeonato, pouco adianta encontrar culpados, seja conservador ou liberal.
ótimas respostas Cláudio!
Nesta altura do campeonato…. me pergunto… pra onde vamos fugir?
Brasil ladeira abaixo!
dia desses, lendo uma reportagem em uma revista da net…
falava-se que o Brasil caminhava rumo a uma ditadura esquerdista,
num conjunto que englobava toda AL, e que tinha como eixo coordenador
o Foro de SP. Enfim, tudo aquilo que Olavo de Carvalho já diz a anos.
O pior é que na revista os fatos eram colocados como simples acontecimentos,
rumo natural da história… algo sem maiores desdobramentos.
Suspeito que os brasileiros pensem da mesma forma… é como se Brasil
socialista não fosse muito diferente do Brasil, sei lá, de FHC.
O grande mal é esse: depois de tantos anos de propaganda esquerdista…
ninguém liga pra mais nada.
Sem dúvida, Ari, caminhamos para uma ditadura petista, principalmente agora, com esse fato espantoso que passou batido pelos nossos colunistas: a intervenção petista nas Escolas Militares. Sempre foi o meu maior medo. Meus primeiros artigos no blog já tratavam disso. Sem os militares e seus tanques estamos perdidos. Os petistas devem achar incrivel que não tenha havido publicidade a esse respeito. Muitíssimo, incomensuravelmente mais importante que a anistia só para um lado, do PNH3. Nossa oposição é realmente de uma burrice piramidal. Não houve a menor sutileza por parte do PT, e até a escolha do Amorim foi uma imensa bandeira. Abraço.