A marcha suicida do Partido Republicano nas eleições para presidente continua (Charles Krauthammer)

A condenação é simples: o negligente gasto do presidente Obama tem aumentado  perigosamente o débito nacional e, ao mesmo tempo, aumenta o desemprego e deixa  a economia estagnada. Concomitantemente, ele tem aumentado enormemente o espaço  e o alcance do governo através de novos direitos e privilégios e regulamentação opressiva, com taxas maiores por vir (para compensar o gasto sem precedente).

Em 2010, essa narrativa levou os republicanos a um histórico sucesso eleitoral.  Por quase todo tempo em 2011, isso dominou o discurso em Washington. O ar estava cheio de conversas de dívidas: tetos, super comitês, Simpson-Bowles*.  * National Commission on Fiscal Responsibility and Reform. (N. do T.)

O que ele, Obama,  deve fazer? Ele admite que as atuais condições são ruins. Ele sabe que suas maiores iniciativas legislativas  – ObamaCare, o incentivo de aproximadamente um trilhão de dólares, (o rejeitado) comercio de emissões – são impopulares. Se você não pode prosseguir na administração ou política, como você ganha a reeleição?

Criando um assunto inteiramente novo. Empurrando um novíssimo ponto de debate. Mudando o assunto do seu registro e sua ideologia, de débito maciço e um governo se suporpondo a tudo, diretamente para: injustiça e desigualdade. Fazendo da eleição um  referendum sobre qual partido realmente se importa com você, qual partido irá defender os gananciosos ricos que têm pilhado os 99% e roubado a esperança da classe média. Essa imputação também é direta: os republicanos servem de protetores e catalisadores dos plutocratas, os exploradores que têm tido lucro enquanto a America sofre. Eles põem o partido acima da nação, doadores polpudos acima do povo, o poder político acima de tudo.

É tudo um tanto descomplicado, capturar sutilmente o centro maniqueísta do movimento Occupy – culpar os ricos. Mas a real beleza  dessa estratégia é a sua adaptabilidade. Enquanto seu primeiro alvo foi o congresso ‘não-faz-nada’, ‘proteje-os-ricos’, é perfeitamente talhado para adaptar, prover, qualificar os compromissos financeiros do republicano Mit Romney, que está na frente – plutocrata, capitalista, ‘um por cento’.

Obama multiplicou essa contra-narrativa de luta de classes em 6 de dezembro no seu “Teddy Roosevelt” discurso, e não governou um dia desde então. Cada ação, cada proposta, cada burla da Constituição tipo “não podemos esperar” –  tal como concessão de recesso quando o senado não está em recesso – é traçada para convir a essa narrativa de reeleição.

Consequentemente: aonde Obama ostensivamente aponta o dirigente do novo Consumer Financial Protection Bureau? Numa reunião no estado decisivo de Ohio, um cenário favorável para Obama se declarar tribuno da minoria, flagelo dos grandes bancos e de seus guardiões republicanos desalmados. Para as primeiras poucas semanas, a estratégia da inveja de classes teve algum efeito, elevando levemente os números de Obama. Mas a história ainda se arrasta, sofrendo em parte, pela sua associação com uma turba do Occupy que tinha amplamente abusado de sua hospitalidade.

Então, veio a guinada, a mais marcante surpresa política desde o meio termo de 2010: a forçada narrativa da luta de classes democrática de repente ganha vida e legitimidade através dos … republicanos! Newt Gingrich e Rick Perry defendem que capital privado como praticado pela Bain Capital** de Romney, não é nada mais do que capitalismo predador saqueando companhias e sugando-os até secá-los, enquanto destroem casualmente a vida dos trabalhadores.                                                                                                                                                                    ** Firma privada de investimentos. (N. do T.)

Richard Trumka da AFL-CIO*** acena aprovando. Michael Moore quer saber em altos brados se Gingrich roubou de seu pessoal. O ataque a Bain/Romney  instantaneamente muda a campanha de guerra de classes de Obama, de ataque partidário em queixa universal.         ***American Federation of Labor and Congress of Industrial Organizations. (N. do T.)

De repente, a riqueza, práticas e taxas de Romney tomam o centro do palco. E por que não? Se lideres republicanos estão denunciando capitalismo voraz, que enriquece o ‘um por cento’, enquanto empobrece todos os outros, isso não deveria ser assunto mais que importante
numa campanha que ocorre em meio a um tempo de angustia para a economia?

Agora, desigualdade econômica é um assunto importante, mas a idéia de que ela é a causa de nossos atuais problemas é absurda. Mas, de um golpe, os republicanos conseguiram transformar um ponto de interesse democrático – uma das últimas das últimas tentativas de salvar a reeleição, desviando de seu registro – em um foco central do discurso político da nação.

Quão rápido o espírito de época mudou? Na quarta-feira, o GOP se reuniu novamente para rejeitar o plano de Obama de aumentar em 1,2 trilhões de dólares o teto da dívida. (Apesar disso, na falta de concorrência no Senado, o teto do débito será aumentado). Ninguém notou. Estava na pagina A16 do New York Times. Todos os olhos estão voltados para a Carolina do Sul e para as taxas de Romney.

Isso não é uma conspiração da mídia do momento. Isso é uma manobra do próprio GOP diretamente no terreno de Obama.

O presidente é muito esperto. Mas se ele ganhar nesse outono, esta não será a razão. Será por sorte. Ele não podia ter escolhido adversários mais autodestrutivos.

22 janeiro, 2012 às 09:24

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Categoria: Artigos

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