Sobre a Síria; O presidente do Supremo ficou bravo; Dilma- Yoani Sanchez
É interessante o comportamento da imprensa, do pessoal de direitos humanos, e da ONU a respeito da Síria. Ninguém está a favor da ditadura de Bashar al-Assad, é claro, mas seria melhor deixar de mentir adoidado sobre o número de baixas civis. Quando eu estava em em Damasco assistia a televisão em meu quarto de hotel, e era noticiado pelas televisões CNN, BBC, e AlJazeera que as mortes já estavam por volta de 5.000, 7.000, e colocavam os mesmos vídeos que não mostravam coisa alguma. Naqueles dias era proibida a entrada de repórteres e eu estava meio que escondido, mas mesmo assim circulei o suficiente para ter certeza de que os números divulgados eram mentirosos. Depois que a Liga Árabe foi autorizada a fiscalizar o país as tvs conseguiram enviar alguns correspondentes, entre eles Nick Robertson da CNN, que entrou em uma ou outra confusão, mas nada muito diferente do que eu mesmo fiz, e na entrevista concedida à sua própria emissora disse exatamente o que eu havia enviado para o Estadão: Damasco estava levando sua vida normalmente, com uma intensa vida noturna. Como era a CNN, pôde filmar alguns soldados sírios exaltados, e até mostrar um cadaver, mas não conseguiu entrar em Homs. Logo teve a capacidade de se locomover diminuida e saiu do país.
Todos continuam martelando nos 5 ou 7 mil mortos, o que é estranho porque o número é o mesmo, não aumentou desde os idos de dezembro, quando eu deixei o país. A entrevista de Nick foi um tanto constrangedora porque a CNN queria pintar um quadro negro para Assad e o máximo que conseguiu foi o repórter dizer que o melhor momento para o diálogo já havia passado para o presidente.
O problema é que embora a maioria queira ver Assad fora do poder, porque afinal nem árabe gosta de ficar sem liberdade por 41 anos (o general Hafez al-Assad, seu pai, assumiu o governo em 1971) existe uma parcela da população que o apoia e não sabemos o seu grau de importância. Ela pouco se manifesta, e quando no dia das eleições tentou mostrar sua solidariedade ao ditador foi um verdadeiro fiasco. Mas, acho que também poderemos ter os “silenciosos” que podem reagir, e o país entrar numa guerra civil. O exército, poderoso, bem treinado, está inteiramente ao lado de Assad, e o ditador participou de um rally na capital junto com sua esposa, Asma, mostrando que não corre perigo de vida. Portanto, a imprensa exagera tanto o número de baixas quanto a instabilidade do governo. Ao contrário do Egito e Líbia, não houve defecções entre os militares, o que dificulta muito a reação popular. Ainda em Damascus, em um dos e-mails para o editor internacional do Estadão, eu disse que de maneira alguma acreditava em uma “queda brutal” do ditador, como aconteceu no Egito e Líbia.
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Gostei muito de ler no editorial do Estadão que : ” Exprimir-se, como se sabe, é uma peleja para a presidente-talvez por isso seja tão avara com as palavras em público (Há quem diga que quem não fala bem não pensa bem, mas esse, quem sabe, é outro assunto)” . Ótimo.
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E o presidente do Supremo , todo bravinho, pensando que é de fato um grande nome, um magistrado da mais alta corte de um país civilizado, quase que deu uns murrinhos na mesa, defendendo os desmoralizadíssimos juízes. Ele disse : ” Só uma nação suicida degrada o Judiciário” . É mesmo ? Então estamos todos condenados ao inferno porque concordamos em que a maioria de vocês sejam “bandidos de toga”.
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E a chatíssima Yoani Sanchez se mostrou ” decepcionada” porque a Dilma evitou o debate sobre os direitos humanos no campo de concentração. Ora, Yoani, seria melhor você escrever sobre a humilhação suprema dos prisioneiros quando viram de que forma reagiram os árabes, morrendo nas ruas para derrubar seus governos. Para ler artigo a esse respeito clique no título: “ A queda dos ditadores árabes: humilhação para os cubanos
Nota colocada um dia depois do artigo publicado: Vamos derrubar o Assad, mas seria bom parar de mentir. Está passando dos limites. Agora, na CNN, vem uma reporter mocinha dizer que meninos estão sendo torturados e estuprados pelos soldados sírios. Que são tratados de maneira pior do que os adultos. Todos queremos que o ditador se mande – por mim ele pode até ser enforcado em praça pública – * mas assim já é demais. Não duvido que comecem a mostrar garotos chorando diante das câmeras. Estão morrendo crianças ? Claro que sim, mas daí a dizer que os adultos que estão lutando estão sendo melhor tratados do que elas, é um pouquinho demais. Vale tudo para prender a atenção do telespectador.
*minha preocupação é com a sua mulher, a maravilhosa Asma Assad