Alguns “gênios da raça” estão no Itamaraty

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Muitas pessoas pensam que em política externa não deve existir a mesma dignidade que rege nossa vida pessoal, o que é um passo rápido para se convencerem de que o pragmatismo deve atropelar tudo feito um trator , e que palavras cínicas não têm importância. A História já mostrou que não é bem assim. O comportamento da França e da Inglaterra em Munich foi covarde em nome do realismo, e ficou famoso o cinismo da frase em referência à Thecoslovaquia: “por que vamos lutar por povos distantes dos quais nem sabemos o nome? ” Dessa maneira, Daladier e Chamberlain mancharam seus nomes para sempre. Churchill, quando se tornou primeiro-ministro, fez o contrário. Recusou-se a aceitar a paz com Hitler, que lhe foi oferecida em termos aparentemente vantajosos. Os nazistas se comprometiam a não tocar no império britânico. Hitler tinha admiração pelos inglêses, e seu primeiro objetivo era tomar a Russia e transformar os eslavos em um sub-povo. Ele não queria brigar com a Inglaterra, queria brigar era com a Russia. Naquele momento, a Inglaterra recusar a paz, estando completamente sozinha depois da derrota acachapante da França, parecia o cúmulo do irrealismo. Parecia suicídio. Se Churchill fosse “pragmático”, “realista”, teria feito a paz desonrosa, e deixado apenas um front para Hitler. E sabemos que Churchill era tão anti-comunista quanto Hitler, havia feito uma cruzada contra a Russia, era odiado por Stalin. Depois de dominar facilmente a Russia, Hitler imporia condições severas para a sobrevivência da Inglaterra, partiria para a bomba atômica, talvez conquistasse o mundo. Quando se luta “pela vida e pela honra”, o moral se eleva, é diferente. Essas são palavras bem-humoradas de Churchill: “Se este hábito — ditaduras militares entrando pelas terras de outros povos com bombas, cartuchos, e balas, roubando a propriedade e matando os proprietários  se espalhar, nenhum de nós vai poder pensar em férias de verão por um bom tempo.”

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Agora ficam esses “pragmáticos” tupiniquins brazucas, apoiando tudo que não presta no mundo. Acham que vão se impor politicamente frente a americanos e europeus, com a estratégia de bajular regimes condenados, sejam africanos, árabes, ou asiáticos em geral, não se importando em dar seu apoio até para aqueles que promovem genocídios, ou são escandalosamente corruptos, ou mesmo terroristas. Na ONU, sempre estão votando contra a condenação desses regimes e, no máximo, para não se tornarem motivo de curiosidade internacional, votam abstenção. Se julgam espertíssimos, pensando que vão aproveitar essas oportunidades para abrir novas frentes de comércio com os marginalizados, ou colocar uma cunha brasileira de poder no solo desses países. Na Améria Latina, dão nostálgico e importantíssimo apoio a uma raça de perigosos ditadores, que julgávamos extinta. Dessa maneira, e somente dessa maneira, pensam conseguir um tipo de liderança que colocaria o Brasil no seu devido lugar, aquele negócio de país do futuro. Exemplificando, vamos paparicar a China, assinando tudo que os déspotas esclarecidos colocam na frente: o Tibet é parte integrante do território chinês; os uigures são terroristas; a China respeita os direitos humanos. O que for que eles pedirem os presidentes brasileiros assinam. E a China não dá a menor bola para o Brasil. A China só se interessa pelos ricos. Faz a política inversa do PT.

Algum tempo atrás, Lula não conseguiu se encontrar com o presidente Hu, e já havia tido uma péssima experiência em sua primeira visita. Os chineses não queriam saber dele. Eu estava soltando minhas pipas na Praça da Paz Celestial, quando percebi que, lá longe, havia um montinho de gente numa solenidade qualquer. Era o Lula com os chineses. O que? Mas, quando chega qualquer presidente de outro país eles fecham a praça toda, colocam as bandeiras dos dois países, o trânsito fica bloqueado. Com o Lula era apenas aquilo, tão mixuruca, vindo logo da companheira China? E os embaixadores brasileiros mal conseguem ser atendidos pelas autoridades chinesas de segundo escalão. Eu sei, porque vi. Eles não passam da portaria. É vexatório.

Na embaixada brasileira em Pequim, eu conversava com um Conselheiro, quando chegou, eufórico, um Segundo-secretário. Ele voltava da embaixada da Coréia do Norte, onde fora ouvir a defesa dos norte-coreanos com respeito ao pedido de condenação da ONU por desrespeito aos Direitos Humanos. O Embaixador havia escolhido o pior diplomata possível para essa missão. Um militante do PT e com escudinho na lapela, o que é altamente irregular, já que se trata de um funcionário do Estado. A começar da sua informação, a embaixada tomaria uma posição que seria transmitida para Brasília. (Naquela época o embaixador brasileiro na China era também embaixador na Mongólia e na Coréia do Norte). O petista-diplomata estava feliz porque havia sido convencido pelos norte-coreanos de que o pedido de condenação era uma farsa para fins políticos, uma manobra satânica dos Estados Unidos. Sendo assim, muito contente, ia dizer ao embaixador que o Brasil deveria votar contra a proposta. Eu logo o puxei para um canto e disse que isso seria um absurdo, que, de fato, ele estava se deixando levar pelo ódio “ao seu torturador”, os EUA, esquecendo-se de que estava punindo o pobre povo norte-coreano, submetido a um regime que não encontra paralelo na história contemporânea. Ele ficou um pouco abalado com o argumento, mas não se convenceu. Na sua opinião, o “torturador” deveria ser a consideração prioritária, e o povo coreano que resolvesse seus problemas no futuro. Sendo assim, tomei a decisão de entrevistar o embaixador, caso aceitasse o conselho do petista-diplomata e, em seguida, enviar para o jornal uma matéria contundente. No ano anterior, o Brasil havia votado abstenção e, antes disso, havia votado CONTRA a proposta dos Direitos Humanos. Fui procurá-lo, e ele me disse que havia decidido repetir o voto do ano passado, e recomendar abstenção ao Ministério das Relações Exteriores. Muito corajoso. Percebi que não tinha a menor vontade de se atritar com a dupla dinâmica, o ministro Celso Amorim, e seu secretário-geral, Samuca Guimarães. Não era o suficiente para uma matéria. No fim, o Brasil votou mesmo pela abstenção, e ninguém pode imaginar o que a nossa política externa ganhou, já que a Coréia do Norte é o país mais isolado do planeta. Os pobre norte-coreanos não merecem isso.

O PT não está solidário com os oprimidos, ele quer os votos dos tiranos, ou de quem quer que seja, desde que, em seu delírio, pense que vai conseguir se sentar no Conselho de Segurança da ONU ou em outros cargos importantes. E assim, de fracasso em fracasso, a política externa vai desmoralizando o país, porque ninguém é cego o bastante que não perceba o oportunismo otário, o maquiavelismo de galinheiro. Também, de certa forma, compromete governos futuros, pois alguns males chegam para ficar. Os geniais cérebros itamaratyanos devem ter pensado que marcaram pontos com a China, o único interlocutor da Coréia do Norte. Pura ilusão. Se a China prestou atenção no voto brasileiro, o que é muito improvável, novamente deve ter visto que grande capacho é o Brasil. E chinês não respeita capacho, respeita quem fala grosso, essa foi a minha experiência quando vivi naquelas bandas.

11 junho, 2009 às 00:13

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Categoria: Artigos

Comentários (1)

 

  1. Hugo disse:

    irmao,

    Se X me mantém refém e Y me promete a liberdade, diga a quem apoio…

    Não entendo vocês, achando um regime melhor que o outro.

    O Irã já apoiou dezenas de ditaduras genocidas por aqui?
    Já jogou um bomba-atomica em alguma nção estrangeira?
    Já fez algum bloqueio comercial a alguma micro-nação?
    Porque não apoia-los?
    Se lá temos o Ayatholá, aqui temos um Papa pró-pedofilia.

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