A blogueira cubana Yoani Sánchez e as ditaduras de esquerda e direita

Yoani agora tem seu blog publicado no Estadão. Em seu último artigo, ” Tão longe do Cairo”, ela se pergunta, referindo-se ao Egito : ” Por que não ocorre algo assim em Cuba?” E encerrando :  “Eles gritavam contra Mubarak, mas do lado de cá da tela muitos sentimos que eles nos intimavam, que nos faziam sentir vergonha de nossa inércia” . Ora, Yoani, não fique deprimida. As ditaduras de esquerda são feitas de aço, chegam para ficar muitas e muitas décadas. O desprezo pela condição humana e a crueldade superam, em muito, o que acontece nas ditaduras de direita. Elas se julgam predestinadas, possuem uma “causa”, que supostamente é a redenção total do homem. As de direita geralmente existem em função de impedir as de esquerda. Ditaduras longas, como a de Franco, na Espanha, explica-se porque veio após uma extraordinária, sangrenta, guerra civil. Os ódios originários da luta fratricida, e o medo de uma Europa comunista, sustentaram o franquismo. O salazarismo, mesmo sem uma guerra civil, embarcou também no medo do comunismo. As ditaduras de direita não se julgam predestinadas. No Chile, a famosíssima ditadura de Pinochet surgiu para impedir um golpe de estado comunista, que estava sendo elaborado por Allende. Pinochet colocou o Chile nos trilhos, promulgou uma constituição que levou o país de volta à democracia e se submeteu a um referendum popular para saber se devia ou não permancer no poder, e tendo sido derrotado por pequena margem ( em eleições limpíssimas), respeitou o resultado e transmitiu o poder a seu sucessor eleito. É bom observar que ele obteve 43% dos votos.   

A ditadura brasileira foi extremamente light. Também não dizia que iria trazer a felicidade, o paraíso para nosso povo. O golpe para impedir o comunismo foi necessário, mas infelizmente os militares gostaram do poder e foram ficando por lá. Não foi, nem de longe, nada parecido com os banhos de sangue que se verificam nos países assolados por golpes de esquerda. É preciso compreender que a esquerda é uma espécie de religião onde também existe, como eu disse, a salvação do homem. A compaixão, no entanto, é nenhuma, a causa se justifica sobre o que for. Lenin ensinou que matar inocentes é bom porque intimida os culpados. É preciso dizer mais ?

Durante a existência da URSS vários países no mundo, governados por ditaduras comunistas, tentaram se rebelar e todos fracassaram. Não me recordo de nenhum caso em que tenha havido sucesso sem que houvesse uma intervenção americana. Assim mesmo isso aconteceu apenas em países pequenos e sem importância. Já as ditaduras de direita rapidamente ( comparadas com as comunistas) chegam ao fim. Embora Mubarak tenha sido um ditador por 30 anos, o regime era um jardim de infância comparado ao comunismo. Quem foi ao Egito ontem mesmo, e quem foi ao leste europeu antes de 1989, ou quem vai à Cuba, ou Coreia do Norte, e mesmo, QUEM VAI Á COMPANHEIRA CHINA, pode perceber que não existe a menor chance do povo se revoltar. A mão de ferro comunista impede. Alguém ficou surpreso com a inclusão da China ? Pois é, mesmo com a “modernização do comunismo”, é preciso passar algum tempo morando lá para se perceber a ditadura implacavel. O chinês é um zumbi.  ( Ver meu artigo:  “Cinco anos na China”)  

Yoani diz uma coisa curiosa : ” A teoria de povos valentes e povos covardes é, no minimo, simplista. Não há uma genética da rebeldia e tampouco se pode prever em que momento o inconformismo atinge seu ponte de ebulição”. Nunca ouvi falar nessa teoria de povos valentes e povos covardes, mas é evidente que alguns são mais aguerridos do que outros. Foi um ato falho da moça, logo contornado pelo “políticamente correto”. Mas o momento em que os povos se revoltam, realmente, é dificil de ser determinado. O desmantelamento da União Soviética de uma hora para a outra foi a desmoralização dos sovietólogos, para não dizer de uma quantidade imensa de articulistas e experts em ciências humanas.

Neste blog existem vários artigos sobre Cuba, onde estive por 4 vezes. Em quase todos explicito minha irritação com o comportamento de intelectuais e governantes que protestam contra a ditadura cubana, enquanto tomam bons vinhos entre salgadinhos e canapés. Existe uma constante nesses textos: não acredito que sem a ajuda externa os cubanos possam se libertar. Nesse sentido o artigo da Yoani deve ser lido nas entrelinhas.

13 fevereiro, 2011 às 10:20

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Categoria: Artigos

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