A derrota consumada; Dilma vence. É a política, estúpido! (Luciano Henrique); Até ex-subordinados mais importantes falam mal de Obama
A nossa frustração nos leva a culpar o povo. Aquela historinha de que “cada povo tem o governo que merece”, etc. e tal. Isto não é verdade. A culpa é daqueles que não tiveram competência, coragem, energia, para o combater o PT no momento em que se percebeu o perigo que corríamos. Vamos retroceder aos governos FH, e depois a ele próprio durante a sua ridícula e irresponsável oposição ao impeachment de Lula quando estourou o Mensalão. Recentemente levou dois dias para concordar com a CPI da Petrobrás e somente deixou de elogiar o perigosíssimo líder do PT há pouco tempo, no máximo um ano. Nós tratamos esse sujeito medíocre como se fosse alguém excepcional. Cometemos um erro tremendo. A partir de sua personalidade, uma combinação de esquerdismo com uma vaidade intelectual sem limites, foi construída uma oposição absurda. FH enxergava sofisticações político- institucionais onde somente havia um grosseiro objetivo petista de ficar no poder a qualquer custo. Pagamos caro pela nossa miopia.
E também não fomos capazes de entender as medidas populares que os petistas implementaram e que funcionaram.
Criticar a nossa oposição tornou-se lugar comum – todo mundo diz que ela não existe. Como é possível termos a cúpula petista na penitenciária e assim mesmo não conseguirmos derrotar essa mulher que mal consegue falar ?
Talvez o nosso comportamento de inércia e conformismo mude, já que houve uma grande polarização nestas eleições e o ódio ao PT cresceu de maneira exponencial. Não sabemos se vai ser o suficiente para deter a máquina petista que nos leva para ditadura. Por definição o soldado existe para proteger os mais fracos. Nós e o povo somos os mais fracos. É isso.
O Globo : Aécio cumprimenta Dilma: ‘Prioridade agora deve ser unir o Brasil’
Nossa, quão elegante! Muito distinto, afinal o Brasil está acima de todas as disputas. Aécio está provando que não entendeu o que estava em jogo, mas Dilma sabe muito bem o que quer: uma ditadura socialista-petista. Nem citou o bom moço no discurso da vitória. É isso. Deu-lhe uma banana. Valeu, dona!
Com sua declaração Aécio mostrou não saber qual é exatamente o “bom combate”. Já o vovô era muito corajoso. As pessoas confundiam seu desejo de conciliação com vaselinagem. Um erro, porque ele tinha limites muito bem definidos. Teria perfeita noção do perigo que corremos e duvido que iria dar parabéns para a dona. Propos “reagir à bala” na deposição de Getúlio e, quando foi eleito, na redemocratização, estava disposto a enfrentar com tudo ao seu alcance (à bala outra vez) às ameaças ao seu direito de tomar posse. Foi muito feio o que o Aécio fez. Não entendeu o seu papel no drama-tragédia. Não se usa a palavra “libertação” para depois ir cumprimentar o suposto tirano. Imagino como a atitude hipócrita foi recebida pelos petistas: babaquice de um elitista derrotado. Quanto a nós, foi mais uma decepção, e para FH, que ele tanto elogiou durante os debates, deve ter sido o gesto perfeito para um exemplar comportamento político na adversidade.
O Globo : “O ex-governador José Serra, eleito para o Senado, afirmou que o PSDB não fará nunca uma oposição “destrutiva”. Legal, continuamos os mesmos. Enquanto isso…vejam a foto: observem a inconfundivel saudação comunista.
Depois da derrota é necessário que tenhamos coragem para não permitir que o PT continue trabalhando para instalar uma ditadura constitucional. Este é o ponto. Todo o resto é distração.
Com respeito aos intelectuais: Se o nosso comportamento for o mesmo destes 12 anos, com comentários exaltados na internet (!) denúncias e mais denúncias nos textos agradáveis de serem lidos ,e onde a ridicularização do PT parece um objetivo em si mesmo, estaremos ferrados.
O projeto de ditadura do PT vai ser mais cauteloso, principalmente porque terá que administrar uma economia adversa. Mas eles vão continuar de forma implacável as nomeações para postos fundamentais no Judiciário, nas estatais, e em todos os lugares onde for possível aumentar a máquina.
O perigo de quase ter sido derrotado vai ajudar o PT a melhorar sua estratégia. Precisamos descobrir se vamos conseguir criar uma. Temos que trata-los com a toda a inflexibilidade que conseguirmos – não é admissível que ainda acreditemos que os seus líderes sejam pessoas honestamente influenciáveis pelo diálogo. As regras democráticas, tão elogiadas nesse país de bananas, foram desrespeitadas durante os 12 anos petistas no poder. O objetivo deles é claro: querem tirar a nossa liberdade, querem o socialismo. Foram ajudados pelo crescimento da esquerda em todo o mundo. Estamos sozinhos e vamos continuar assim.
Teremos que aprender a levar os protestos ao nível de rua, precisamos adotar outros comportamentos que temos desprezado até agora. São “eles contra nós”, o que Aécio criticou, mas que deve ser o sentimento que precisamos carregar na alma. Todo o resto é ilusão. O PT espera que nós voltemos ao estado letárgico que sempre nos caracterizou, que recuperemos a calma e joguemos o entusiasmo pela janela, que a indignação baixe de nível, que sejamos o que sempre fomos: uns galinhas mortas que aceitam tudo, desde que não nos falte o computador e uma rede social. Eles esperam, eles têm certeza: vamos continuar sem nenhum diálogo com os militares, a nossa última linha de defesa, a esta altura desmoralizada por nossa exclusiva culpa. Não deveria ser assim, é loucura.
DEU NO GLOBO : “Governo brasileiro paga quase US$ 1 bi a mais pelos 36 caças suecos
Investimento anunciado era de US$ 4,5 bilhões, mas contrato assinado foi no valor de US$ 5,4 bilhões”
O próximo escândalo é o reequipamento das Forças Armadas. Só na compra dos jatos, podemos ter uma idéia. Já roubaram UM BILHÃO DE DÓLARES! O blog há vários anos vem falando no assunto. Por que não compraram os aviões americanos, infinitamente melhores? Os Estados Unidos vivem em guerra, seus aviões são testados quase que diariamente pelo mundo afora. Não compraram porque:
1) o governo petista-comunista considera os americanos seus inimigos mortais, exatamente como no passado da Guerra Fria. Justamente para antagoniza-los apoia todos os governos bandidos do mundo.
2) roubar, roubar, roubar, e as empresas americanas não podem propor suborno. Os dirigentes vão para a CADEIA, o Congresso fiscaliza.
Até ai tudo bem, estamos acostumados com roubos espetaculares. A novidade importante, aterrorizante, é que neste caso do reequipamento, os oficiais- generais se corrompem, e assim estamos MAIS DO QUE PERDIDOS. Entenderam?
(oficiais-generais são: generais, no Exército ; brigadeiros , na Aeronáutica; almirantes, na Marinha)
Dilma vence. É a política, estúpido!
POR LUCIANOHENRIQUE on 26 DE OUTUBRO DE 2014 • ( 2 )
Enfim, Dilma venceu as eleições por ligeira margem: 51,63% a 48,37%.
E eu já avisava dias atrás que independentemente dos resultados, estas eleições seriam as mais fascinantes da história da política nacional. Discutiu-se “tecnicamente” o que ocorria nessas eleições muito mais do que no passado. Eu particularmente fui bastante focado neste quesito.
Se nosso nível de conscientização política aumentou, também é fato que vimos o quanto precisamos evoluir no que diz respeito a entender a política como uma guerra. A partir de agora, teremos que ser muito mais incisivos diante de pessoas do nosso lado que se recusem a entender isso.
Se Aécio Neves tivesse sido eleito, seria um mérito dele (especialmente por sua participação nos debates) e de nossa capacidade de apoiá-lo, nas redes sociais. Sua derrota foi mérito de uma campanha política irretocável, do PT, e de uma campanha que se recusou a entender a política como uma guerra, a do PSDB.
Acompanhar o programa eleitoral do PSDB foi uma agonia durante vários dias. Víamos o PT marcando posição atrás de posição e, enquanto isso, do outro lado só omissão.
A derrota não é responsabilidade do povo, mas dos formadores de opinião de cada lado.
A meta agora é atacar a ingenuidade política daqueles que estão ao nosso lado. Chega de infantilidade política diante de oponentes. Chega da arrogância de se recusar a entender a política como uma guerra. Chega de deixarmos de ver a realidade como ela é.
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Repito: a responsabilidade da vitória do PT nesta eleição é da campanha de TV e rádio do PSDB. Além, é claro, da militância virtual, muito mais orientada a pensar em termos de guerra política. Mas quem ditou o tom foi a campanha oficial. Lembremos uma análise que fiz em 10/10, a respeito do horário eleitoral em 09/10:
“Nos quesitos técnicos (de acordo com os paradigmas de guerra política), o programa de Dilma foi um espetáculo. O marqueteiro de Dilma não precisou nem sequer utilizar Lula. Bastou usar símbolos de medo e esperança o tempo todo, intercalando propostas novas com ataques contundentes à Aécio e o PSDB. Em alguns momentos, os ataques vinham sempre em sincronia com símbolos de esperança. Exemplo: “Eu represento X, ele, ao contrário, representa Y; eu fiz Z, ele, ao contrário, fez W”.
“Acho que os números são claros. Por uma opção deliberada da campanha do PSDB (que incluiu 2 minutos de musiquinha, lembre-se), foi dado à Dilma um potencial de ataque fabuloso. João Santana pode ser um Goebbels, mas está de parabéns.”
“Mas é claro que a falta de ataques é imperdoável. Em um dos aspectos mais importantes da guerra política, simplesmente não foi um bom começo do uso do horário eleitoral.”
“Não é motivo para desespero, claro, pois o estado atual das coisas é sinistro para Dilma, com o aumento da inflação e as notícias mostrando as delações premiadas de Youssef e Costa. E mesmo com uma ótima campanha, as notícias da mídia podem ser suficientes para derrubar o PT. Mas um alerta deve ficar claro para a campanha tucana: a campanha de Dilma hoje deu um show de competência.”
E a coisa não melhorou a partir daí. Ao contrário, piorou.
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Como devemos nos sentir em relação à campanha de TV e rádio do PSDB?
Vamos fazer um exercício mental e voltar à era do nazismo, onde temos um partido que defende que os judeus sejam respeitados, lutando contra o partido de Hitler, que quer o preconceito contra os judeus.
Imagine-se em uma reunião de campanha:
X: Hitler está usando discursos cada vez mais fortes, usando divisionismo, apelando ao coração e atacando o tempo todo. Precisamos fazer algo contra isso!
Y: Nós vamos usar musiquinha!
X: Musiquinha? A cada programa de rádio, o Hitler redobra a intensidade, usando a técnica do “shock and awe”, e aumenta nossa rejeição.
Y: Para cada ataque, faremos uma proposta!
X: Mas e os ataques que ele não pára de fazer?
Y: No fim a verdade prevalecerá!
X: Isso é um absurdo! Ele definiu a estratégia de aumentar nossa rejeição, o que vai ajudá-los. A nossa imagem está piorando.
Y: Nós vamos usar musiquinha!
Agora basta visualizar as consequências de alguém se recusando a entender que política é guerra. Neste exemplo, são as afirmações de Y em direção a X.
Como você encararia a postura de Y? A meu ver, isso é crime moral. Y foi a campanha de TV e rádio do PSDB nestas eleições.
No fim das contas, é claro que falamos de uma derrota merecida. Não para Aécio, que foi muito bem nos debates. Não para nós, das redes sociais. Mas um crime moral cometido por quem teve tempo suficiente para jogar a guerra política no horário eleitoral. A prática de um crime moral de tamanha dimensão não poderia ficar impune.
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Mas se a campanha do PSDB foi desastrosa, nós também não devemos sair ilesos de críticas. Precisamos melhorar a forma de a política.
Várias pessoas chegaram em meu inbox durante essas eleições e diziam: “Olha, Luciano, veja o que o PT fez”. Se essas mensagens fossem apenas informativas, tudo bem. (Tive várias dicas de boas postagens dessa forma)
O problema é que as mensagens vinham em tom de espanto e indignação. Em outras palavras, o sujeito está no meio do campo de batalha e se espanta quando o outro lado atira. (Estou sendo metafórico, é claro)
Era assim: “Olha o meme que o PT está usando! Olha o que eles fizeram no programa! Olha o que a Dilma acabou de falar!”. E minha resposta quase sempre era a mesma: “Eles estão fazendo a parte deles.”
O que isso nos mostra? Que agora é a hora de mudarmos nossa estrutura mental. A forma de como reagimos aos estímulos do mundo está errada quando tratamos de questões políticas.
Essa cena, que já postei dias atrás, resume tudo:
Não podemos mais tolerar a ingenuidade política daqueles que estão ao nosso lado.
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As próximas metas devem ser derrubar o Decreto 8243 e os projetos de censura de mídia do PT.
Mas para isso, será preciso entender que essa eleição demonstra o fim de um ciclo: a derrota moral daqueles que se recusam a entender a política como uma guerra. É preciso, antes de tudo, que essa parcela da oposição entenda o recado das urnas.
Na guerra política, o agressor geralmente prevalece. E a política é uma guerra de posição, onde posições são conquistadas através de símbolos de medo e esperança.
Foi só isso que o PT fez, mentindo à rodo, enquanto a campanha do PSDB se recusou a entender algo tão básico.
O PSDB realmente tinha a verdade em mãos, enquanto o PT mentia. Mas de nada adianta você ter a verdade em mãos se não joga a guerra política.
Ter a verdade em mãos, ao mesmo tempo em que se recusa a jogar a guerra política, também é uma forma de desprezo pela verdade.
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Me perguntaram: “Como você está com isso?”
Bastante chateado por estar certo no que eu havia dito há muito tempo. Vemos um partido, o PT, entendendo a política como uma guerra. Enquanto isso os outros brincando de fazer musiquinha.
Toda a eleição foi uma torcida para que eu estivesse errado. Infelizmente, não estava.
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Observem como Horowitz se sentia na abertura de A Arte da Guerra Política, escrito em 2000:
Durante o debate sobre o impeachment, o povo americano sabia que Bill Clinton era corrupto e o desprezava como pessoa, mesmo que não o quisessem afastado do cargo. A maioria dos americanos sabia que ele era culpado de perjúrio, mas estavam relutantes em vê-lo cassado. Clinton escapou do julgamento porque baseou sua defesa em princípios conservadores, e também porque os republicanos ficaram em silêncio por oito meses decisivos, o que permitiu-lhe definir os termos do debate. Quando os republicanos finalmente encontraram sua voz coletiva, eles ignoraram as preocupações imediatas do eleitorado americano e basearam o seu julgamento em questões que eram demasiadamente complexas para serem digeridas pelo público.
É a política, estúpido.
Hoje é o dia em que me sinto um Horowitz.
Alguém que vê um partido tomar decisões erradas atrás de decisões erradas, na hora da campanha, e depois ainda terminar vendo muitas pessoas surpresas dizendo “Como isso pôde acontecer?”. Na verdade, era muito previsível que fosse acontecer. Lembremos que eu apenas torci para estar errado. Não aconteceu.
Bastaria prestar atenção em como o PSDB agiu em algumas questões nesse segundo turno
- Não reagiu ao frame “desaprovado em seu estado”, usado pelo PT magistralmente desde o primeiro dia das eleições. (Aliás, Aécio perdeu em MG de novo)
- Parecia catatônico enquanto o PT acusou Aécio de “agressivo contra as mulheres”, enquanto o mesmo partido tem em seu histórico o apoio a um pedófilo estuprador de meninas (Eduardo Gaievski) e o endosso ao governo venezuelano que quebrou o nariz de Maria Corina Machado. E nada disso foi usado pelo PSDB na campanha. Não me perguntem o motivo.
- Não defendeu Armínio Fraga, trucidado pelo PT. Enquanto isso, Mantega e Mercadante saíram ilesos.
Isso é só para citar alguns exemplos.
É a política estúpido!
Se finalmente aprendermos algo, agora no momento de lutarmos contra o Decreto 8243 e o projeto de censura de mídia, essa derrota terá valido algo.
Eu vos pergunto : O que vamos fazer agora, quando a dona vai ficar mais 4 longuíssimos anos no pudê ? Estaremos 4 anos mais velhos quando ela sair para o Lula entrar. Acho que devemos corajosamente enfiar a viola no saco, trabalhar por uma oposição melhor, ufa, ufa, lutar com bravura crescente no Congresso ufa, ufa, DENUNCIAR falcatruas do PT, ufa, ufa, ridicularizar os petistas, ufa, ufa, continuar xingando o Lula com todos os nomes idiotas que inventamos, ufa, ufa. Incansavelmente continuaremos demonstrando o quanto são incompetentes. Não vamos jamais esmorecer porque temos fh ao nosso lado, o herói do real, o nosso paizinho, o vibrante guerreiro, fonte de inspiração para a juventude e para a velhice. Lutaremos nas praias e nos pontos de desembarque, lutaremos nas colinas, lutaremos nos campos e nas ruas, jamais nos renderemos.
A repetição dia após dia, meses, anos, recebendo artigos que nos explicam de que maneira o PT pode ser tão malvado, vai levar a que numa bela manhã, sem aviso prévio, fiquemos histéricos, e lá vamos nós correndo nus pelas ruas, berrando, gargalhando, babando, abordando pessoas que apavoradas tentam escapar, mas conseguimos encurralar algumas que com os olhos arregalados nos escutam contar a respeito do mensalão, e de como eles – OS PETISTAS !!! OS PETISTAS!!! podem ser tão mentirosos, ESCUTEM, FOI O FERNANDO HENRIQUE QUEM CRIOU O REAL, FERNANDO ENRICO!!!, mas precisamos continuar correndo porque nossos filhos apavorados estão atrás de nós tentando nos pegar, ah, somos muito mais rápidos porque a loucura leva à determinação, e na próxima esquina descobrimos que existem outros como nós, já formamos uma pequena multidão, alguns estão pintados de vermelho, outros de azul, verde, engarrafamos o trânsito, os motoristas fecham as janelas depressa, mas ficamos em frente aos carros, e vejam, alguns passageiros dos ônibus estão rindo e aproveitamos para chegar correndo até eles e tentando aparentar seriedade explicamos que O PT FOI A FAVOR DO PLANO CRUXADO!!! DO CRUXADO!!! , enrolamos um pouco a língua mas não tem importância, VOCÊS CONHECEM O FORO DE SÃO PAULO ?????
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Obama está sob fogo cerrado de Hillary e de seus ex-Secretários de Defesa: Gates e Panetta
Deu no Globo: ( Perdi o nome da agência e dos repórteres)
WASHINGTON — Acostumado a arder na fogueira das críticas inclementes da oposição republicana e de analistas conservadores, o presidente dos EUA, Barack Obama, chega ao fim do sexto ano de governo contando as feridas abertas pelo fogo amigo de ex-subordinados de primeiro escalão. Nas mais de mil páginas combinadas de suas autobiografias e nas entrevistas para promovê-las, ao longo de 2014 os ex-secretários de Defesa Leon Panetta e Robert Gates e de Estado Hillary Clinton dispararam grosso calibre contra o ex-chefe e seu círculo mais íntimo de assessores. Numa inédita sequência, os desabafos questionam o estilo de liderança de Obama e suas decisões em temas-chave, como a batalha orçamentária com o Congresso e as políticas para Iraque, Síria e Afeganistão.
Das penas e línguas afiadas de Panetta, Gates e Hillary, reforçadas pelas memórias do ex-embaixador em Bagdá Christopher Hill, emerge um presidente inteligente e bem-intencionado, mas distante e relutante, com dificuldades de confiar nos subordinados; que confere poder excessivo à equipe da Casa Branca; é refém da promessa de acabar com as guerras da era Bush; hesita no engajamento com adversários; e subordina várias escolhas aos cálculos de política doméstica.
Os relatos tornam difícil tratar as opiniões como maledicência de quem jogou a toalha, como Gates e Panetta, ou tem interesse em se distanciar dos fracassos do presidente, como Hillary, em pré-campanha para a nomeação democrata à Presidência em 2016. Há uma grande coincidência nas narrativas — temperadas com doses generosas de frustração.
Muito poder a assessores próximos
As estratégias para Iraque, Síria e Afeganistão reservam algumas das críticas mais ácidas a Obama. Hill, no livro “Outpost”, revela um governo desengajado no Iraque, que pouco agiu para influenciar o quadro político e neutralizar o sectarismo do ex-premier Nouri al-Maliki, que teria sido subestimado, e pecou por falta de coordenação entre gabinetes e por intervenções atabalhoadas.
Por exemplo, no debate sobre a lei eleitoral do Iraque, em 2009, as ligações feitas por Obama e o vice-presidente Joe Biden “aumentaram a percepção de que os EUA estavam muito desesperados pela aprovação da legislação para que as tropas pudessem ser retiradas”, minando a influência dos EUA, diz Hill.
Panetta também atribui à determinação de cumprir a promessa de acabar com as guerras do Oriente Médio o fiasco do Iraque após a retirada das tropas americanas, em 2011, que culminou no avanço assustador do Estado Islâmico e levou Obama a iniciar novo confronto na região. Ele diz, em “Worthy Fights” (“Lutas que valem a pena”), que a Casa Branca estava “determinada a se livrar do Iraque” e desprezou a avaliação militar de manter um pequeno contingente para “lidar com o ressurgimento da al-Qaeda e a violência sectária que tomou o país”.
Gates, em “Duty” (“Dever”), faz avaliação semelhante sobre o Afeganistão. Afirma que Obama debateu opções militares sem consultar a Defesa, permitia o questionamento dos comandantes por assessores diretos, passava pitos em oficiais de alta patente que discordavam da fixação de data para o fim da operação, como o general David Petraeus, e desdenhava do ex-presidente afegão Hamid Karzai.
“Eu pensei: o presidente não confia em seu comandante, não acredita em sua própria estratégia. Para ele, tudo é uma questão de cair fora”, escreve Gates, que revelou ter chegado a limitar o acesso a informações sobre opções militares a assessores do Conselho de Segurança Nacional, como a hoje embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Powers, para conter o atropelamento do Pentágono.
A tensão entre o círculo íntimo de Obama — que inclui Biden e o ex-chefe do Conselho Tom Donilon — e o primeiro escalão é evidente nas biografias. Num trecho que levanta dúvidas sobre se o presidente utilizava seus auxiliares diretos para “mandar recados” aos secretários, Hillary conta em “Hard Choices” (“Escolhas Difíceis”) ter sido “doloroso” ver Richard Holbrook, seu escolhido para assuntos de Afeganistão e Iraque, ser fritado por jovens assessores “que reviravam os olhos” em sua presença. Ela o manteve no cargo após desafiar Obama, em conversa com auxiliares do presidente, a pedir a demissão do diplomata diretamente a ela.
No caso da Síria, Hillary e Panetta afirmam que foram duas das vozes internas mais dedicadas a convencer Obama da importância de armar parte da oposição, de olho tanto na derrubada do presidente do país, o ditador Bashar al-Assad quanto na estabilidade regional. Animal político, Hillary limita-se a dizer na autobiografia que a decisão de não envolvimento — que provou-se equivocada e será uma pedra no sapato democrata em 2016 — foi de Obama. Nas entrevistas para promovê-la, porém, classificou o passo de “fracasso”, que permitiu “um grande vácuo, que os jihadistas agora ocuparam”.
Panetta acrescenta que o presidente também “vacilou” na reação ao uso de armas químicas por Assad. Obama anunciou e recuou de um ataque militar à Síria, o que, diz o ex-secretário, “foi um soco na credibilidade americana”, pois, quando o comandante em chefe “estabelece uma linha vermelha, é imperativo que aja se ela for ultrapassada”.
Para Hillary, de forma geral, falta a Obama uma política externa que tenha “princípios organizadores”, que tornariam os interesses americanos cristalinos e evitariam o dilema de “não fazer coisas estúpidas” — conceito que o presidente alega orientar seus movimentos no exterior.
As batalhas orçamentárias, que tiveram a Defesa como um de seus alvos, também renderam dissabores. Gates afirma que Obama “quebrou a confiança” ao tratar dos cortes na pasta. Panetta diz que o impasse de 2011 revelou “desdém” de Obama pelo Congresso. “Falta fogo” ao presidente, diz ele, e sobra “uma frustrante reticência a engajar adversários e obter apoio à sua causa”, o que Panetta considera a “mais notável fraqueza” de Obama.
Gates Panetta Petraeus