A enorme gafe de Obama – imperdivel artigo de Charles Krauthammer no Washington Post
A grande gafe na Universidade de Hofstra
A gritaria de Obama e sua falta de resposta sobre a questão da Líbia voltará a assombrá-lo. Da noite da disputa em Hofstra, com os dois lutadores confinados no meio de uma arena de espectadores – circulando, dissimulando, insultando, com olhares perturbadores um para o outro – surge varias vezes em meus cálculos, não mais do que uma provocação fora dos confrontos reais, daquelas semelhantes as que acontecem em certas ocasiões no parlamento tailandês. Imagine isso: o Serviço Secreto invadindo o ringue, segurando Mitt Romney nas cordas enquanto Candy Crowley administra a contagem até dez. O verdadeiro desenrolar foi de alguma forma mais sem graça. O presidente Obama ganhou com uma margem estreita de pontos, como foi confirmado por varias pesquisas. A margem foi pequena em comparação com a de Romney que ganhou com 52 pontos o primeiro debate. Em Hofstra, Obama emergiu do seu coma anterior para pontuar golpes suficientes para compensar o golpe fatal de Romney, sua ofuscante rasteira na ficha do presidente, quando respondendo a um desapontado eleitor de Obama em 2008.
Aquela questão poderia representar o fato de que em duas rápidas pesquisas anteriores Romney bateu Obama em questões de economia por 18 pontos em uma pesquisa, e por 31 pontos em outra. Sendo esta a grande questão, o debate provavelmente terá o mínimo efeito na dinâmica da corrida presidencial.
A única coisa que o desempenho de Obama realmente consegue é reenergizar a sua base desmoralizada – a imprensa, em particular. Mas a um preço caro.
O obstáculo, o tropeço, a dificuldade para Obama vem, por mais irônico que seja, do maior erro de Romney no debate, ou seja, a questão da Líbia. Esse erro impediu que Romney ganhasse a noite definitivamente. Mas a resposta de Obama o deixou refém da sorte. Não aproveitada por Romney, perdida pela audiência e pela maioria dos comentaristas, foi a maior gafe de todo o debate: substituindo maciez por argumento, Obama declarou-se ofendido pela sugestão de que qualquer um em sua administração, inclusive o embaixador das Nações Unidas, “iludir” o país em relação à Líbia.
Esse tumulto – não desafiado por Romney – ajudou Obama a cair fora da questão da Líbia ileso. Infelizmente para Obama, há mais um debate – na próxima semana – tratando só de política externa. O efervescente assunto será a Líbia e o desfile escandaloso de ficções ditas por essa administração para explicar de vez o desastre.
Ninguém enganou ninguém? O seu embaixador nas Nações Unidas foi a nada menos do que cinco apresentações matinais para inventar a trama de que o ataque ao consulado e o assassinato dos quatro americanos aconteceu devido uma demonstração motivada por um vídeo, e que ficou feia: “As pessoas se juntaram do lado de fora da embaixada e então, a violência cresceu e aqueles com ligações extremistas se uniram à desordem e vieram com armas pesadas.”
Mas não houve aglomeração. Não havia pessoas. Não havia arruaça. Tudo estava totalmente calmo lá fora até que os terroristas invadiram o prédio e mataram nosso embaixador e outras três pessoas.
O vídeo? Uma completa irrelevância. Foi um coordenado e sofisticado ataque terrorista, encorajado pelo sucessor de Osama Bin Laden, dando ordens do Paquistão para se vingarem a morte de um jihadista líbio.
Não querendo admitir que nos fomos atacados por afiliados da Al Qaeda, talvez respondendo ao sucessor de um homem, Osama Bin Laden, em cuja sepultura Obama e os democratas têm festejado por meses, a administração atual expos, incansavelmente, o conto da turba (o vídeo) para desviar a atenção do verdadeiro fato.
E não foram apenas os seus subordinados a enganar a nação. Uma semana depois do ataque, o presidente mesmo, perguntado por David Letterman sobre o assassinato do embaixador, disse que aquilo começou com o vídeo. Mentira de novo. Romney estará pronto na segunda-feira.
Sr Presidente, o senhor está ofendido por essa acusação. O país está ofendido porque a sua Secretaria de Imprensa, seu embaixador nas Nações Unidas e o senhor mesmo, todos têm repetidamente enganado a nação sobre a origem e a natureza do ataque em Benghazi.
O problema não foi o vídeo, mas foram sim, as atitudes políticas pelas quais o senhor se encontra responsável agora. Então, aceite isso Sr presidente. Perguntaram-lhe no último debate por que foi negada mais segurança ao nosso povo na Líbia, apesar do fato de eles terem pedido por ela. O senhor nunca respondeu a essa pergunta, Sr presidente. Ou você vai culpar a sua Secretária de Estado?
Esprit de l’escalier é um termo francês para aquela resposta devastadora que alguém deveria ter dado no jantar para o qual foi convidado, mas só se lembrou dela no último degrau da escada, quando ia embora. Sorte para Romney que está convidado para mais um jantar. Se ele conseguir desta vez, a vitória apertada de Obama no segundo debate ( alcançada pela turba ressentida que o resguardou de ser acusado de dar informação enganosa), vai lhe custar caro.
Foi uma gafe enorme. Ela é inapagável das gravações. Ela vai mostrar que essa justificativa dada pelo Presidente vai ter um preço muito alto.
TRADUÇÃO: Célia Savietto Barbosa