A extraordinária declaração de Hillary Clinton sobre o ditador sírio Bashar al-Assad (imperdivel artigo de Charles Krauthammer) W. Post

“Muitos dos membros do Congresso dos dois partidos que têm ido a Síria nos últimos meses disseram acreditar que ele é um reformador”.

Hillary Clinton falando sobre Bashar AL-Assad, 27 de Março/2011

Poucas coisas ditas por esta administração durante seus dois anos podem se igualar a esta por causa de sua falência moral e incompreensibilidade estratégica.

Primeiramente, é comprovadamente falsa. Esperava-se que o Presidente Assad fosse ser um reformista quando ele herdou a ditadura de seu pai há uma década. Por ser um doutor de olhos educado em Londres, ele recebeu o tratamento “Yuri Andropov” por inteiro – a presunção de que tendo sido exposto aos modos ocidentais, ele teria sido ocidentalizado. Errado. Assad vem exercendo um estado policial Alawite com mesma rigidez que seu pai.

Bashar Assad prometeu reformas durante a curta primavera Árabe de 2005. As promessas foram quebradas. Durante os atuais protestos que foram brutalmente interrompidos, sua porta-voz fez novas promessas de reforma. Daí na quarta feira, ao aparecer perante o parlamento, Assad foi surpreendentemente desafiador. Ele não ofereceu nenhuma concessão. Nem uma!

Segundo, a declaração de Clinton é moralmente obtusa. Aqui estão pessoas se manifestando contra uma ditadura que repetitivamente usa fogo vivo em seu próprio povo, um regime que em 1982 matou 20,000 em Hama, e  em seguida colocou asfalto sobre os mortos. Aqui estão pessoas incrivelmente corajosas exigindo reforma – e a secretária de Estado dos EUA disse para o mundo que um bandido ordenando o fuzilamento de inocentesé um reformista, assim endossando efetivamente a linha do partido Baath – “Nós somos todos reformistas,” Assad disse ao parlamento – minando a causa dos manifestantes.

Terceiro, é estrategicamente incompreensível. Às vezes você aceita um aliado repressivo porque você precisa dele para a segurança nacional dos EUA. Daí as nossas palavras silenciadas sobre Bahrein. Daí a nossa resposta lenta sobre o Egito. Mas existem raras vezes em que o interesse estratégico e a imperativo moral coincidem completamente. A Síria é uma desses casos – um estado policial monstruoso cujo regime trabalha constantemente para frustrar os interesses dos EUA na região.

Durante os piores dias da guerra do Iraq, esse regime enviou terroristas para lutar contra as tropas americanas e aliados iraquianos. Está pingando sangue libanês também, estando o governo sírio por trás dos assassinatos de jornalistas independentes e democratas, incluindo ex-primeiro ministro Rafik al-Hariri. Este ano, Assad ajudou a derrubar o governo pró-ocidental do filho de Hariri, Saad, e coloca virulentamente libaneses sob controle do anti-ocidental Hezbollah. A Síria é parceira da Coréia do Norte na proliferação nuclear. É agente do Irã e aliada dos vizinhos árabes, concedendo-lhes uma saída para o Mediterrâneo. Aqueles dois navios de guerra iranianos que atravessaram o Canal de Suez em fevereiro atracaram no porto Sírio de Latakia, uma longa-e-procurada penetração iraniana no Mediterrâneo.

No entanto, aqui está o secretário de Estado dando cobertura para o ditador Sírio contra sua própria oposição. E não adiantou que Hillary tentasse voltar atrás dois dias depois dizendo que ela estava simplesmente citando outros. Foi um lixo. Das mil opiniões sobre Assad, ela escolheu citar precisamente uma: reformista. Isso é um endosso, não importa o quanto mais tarde ela tente fingir o contrário.

E não são somente as palavras; é a política por trás delas. Esta iguaria oferecida à Assad é desanimadora e lembra a reação do presidente Barack Obama quando da insurreição iraniana de 2009, durante o qual ele foi escandalosamente relutante em apoiar os manifestantes, enquanto repetidamente reafirmava a legitimidade da teocracia brutal que os sufocava.

Por quê? Porque Obama quis ficar “envolvido” com os mullahs – para que ele pudesse fazer a cabeça deles contra o uso de suas armas nucleares. Nós sabemos como isso acabou.

O mesmo conceito entusiasma sua política na Síria – manter boas relações com o regime a fim de que ele possa ter conversas amigaveis com seu aliado Iran, e com o Hezbollah, um outro parceiro sírio.

Outra falha desprezível. A Síria tem desdenhosamente rejeitado os agrados de Obama –  as visitas obsequiosas do presidente do Comitê de Relações Exteriores, John Kerry,  e o retorno do primeiro embaixador dos EUA à Damasco desde o assassinato de Hariri.  nota do blog:  na diplomacia, o retorno de um embaixador ao seu posto, após ter sido chamado ao seu país “para consultas”significa que as divergências foram sanadas. Qual foi a resposta de Assad? Uma aliança ainda mais apertada e mais ostensiva com o Hezbollah e o Irã.

Nosso embaixador em Damasco deveria procurar encontrar os manifestantes e visitar os feridos. Se isso fosse recusado, ele deveria ser chamado de volta para Washington. nb: a explicação dada acima.E ao invés de “lamentar a repressão”, como Hillary Clinton fez em sua caminhada de volta, deveríamos estar denunciando-a com linguagem forte em todos os fóruns disponíveis, incluindo o Conselho de Segurança da ONU.

Ninguém está pedindo por um resgate do estilo da Líbia. Basta uma simples apuração da verdade. Se Kerry quiser fazer papel de bobo ao continuar a insistir em que Assad é um agente de reformas, bem, é um país livre. Mas Hillary Clinton fala pela nação.

Tradução: Andrea Borges

not do blog: Não deixem de ver o meu artigo A mulher do presidente Bashar Assad e pasmem como é que esse sujeito tem tempo para perder com política. Também vejam:  Dois cartoons que valem por muitos artigos, uma verdadeira obra de arte.

13 abril, 2011 às 12:32

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Categoria: Artigos

Comentários (1)

 

  1. Maurício Alves disse:

    É verdade, você sempre acha que está convicto em relação a Verdade. Alguma vez relendo seus comentários já sentiu isso? Pois, a primeira vez que dei uma olhadela neles, foi a primeira impressão que senti. Em “verdade”, talvez, eu esteja “mentindo”.

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