REFLEXÕES RADICAIS

A ingenuidade entusiasmada: Analisando o artigo “Radiografia da corrupção”, de Carlos Alberto Di Franco – dia 22-Estadão

O ESTADÃO – 22/08/11
Muitos leitores, aturdidos com a extensão do lodaçal que se vislumbra na onda de corrupção Puxa, isso é que é frase! Um extenso lodaçal (que é para baixo) na onda ( que é para cima) reiteradamente denunciada pela imprensa, manifestam profundo desalento. “Não vai acontecer nada. Os bandidos não estão na cadeia, mas no comando do Brasil.” O comentário foi-me enviado por um jovem universitário. É tremendo, pois reflete o sentimento de muita gente. Eu quase chorei

O governo de Dilma Rousseff, sustentado por uma coligação pragmática e aética que foi concebida por seu antecessor, é, rigorosamente, refém do crime organizado. O mensalão do PT, que dificilmente será julgado em tempo hábil pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi o primeiro lance. Representou o pulo do gato, o caminho das pedras de um projeto de poder autoritário, corrupto e corruptor. Muito bem. Apoiado.

A presidente da República, fustigada por escândalos no seu governo que brotam como cogumelos (bastante original e moderna a expressão), tem sido rápida na tomada de providências. Ao contrário do antecessor, Dilma não é, aparentemente, leniente com a corrupção. Como ? Coloca a Erenice em lugar especial durante a posse, insiste em manter Palloci, uma ratazana completamente desmoralizada, quer ser avisada antes que a Polícia Federal faça visitas aos seus amigos…O Ministério dos Transportes, por exemplo, foi palco de uma enxurrada de demissões. Mas uma coisa é o feudo do PR. Outra, bem diferente, são as capitanias hereditárias do PMDB. Aí, sem dúvida, o discurso de Dilma é diferente. Em vez de apoiar ação saneadora da Polícia Federal (PF), Dilma classificou como “acinte” a sua conduta em operação por suspeita de desvios no Ministério do Turismo. A presidente ficou furiosa ao ver a foto de um dos detidos chegando algemado a Brasília. Irritou-se também por, supostamente, não ter sido informada previamente da operação policial. Que coincidência, acabei de dizer aí em cima. 

Independentemente de excessos pontuais de alguns agentes da PF, que devem ser punidos, o que os brasileiros esperavam da sua presidente era o apoio ao essencial, e não o escândalo com o acidental. Mas não foi o que ocorreu, sempre em nome da governabilidade. E é exatamente isso que é preciso romper. A política é a arte da negociação, mas não pode ser a ferramenta da bandidagem. Muita preocupação churchuliana com as frases bombásticas.

O que você, amigo leitor, pode fazer para contribuir para a urgente e necessária ruptura do sistema de privatização do dinheiro público que se enraizou nas entranhas da República?  Bem, na alocação de recursos o dinheiro público PODE, e geralmente DEVE ir para a iniciativa privada. Roubo é outra coisa.

Em primeiro lugar, pressionar as autoridades. O STF, por exemplo, deve sentir o clamor da sociedade. Como ? O Supremo que libertou Daniel Dantas, o Supremo, um antro de incompetentes ordinários, que à cada nova indicação se torna mais petista é que vai nos ajudar ? Julgar o mensalão não é uma questão de prazos processuais. É um dever indeclinável. A Suprema Corte pode dar o primeiro passo para a grande virada.  Impagavel. Se os réus do mensalão, responsáveis “pela instalação de uma rede criminosa no coração do Estado brasileiro”, pagarem por seus crimes, sem privilégios e imunidades, o País mudará de patamar. É mesmo ? Diga-me você também acredita em Papai Noel e no Coelhinho da Páscoa ?

Não podemos mais tolerar que o Brasil seja um país que discrimina os seus cidadãos. Pobre vai para a cadeia. Poderoso não só não é punido, como invoca presunção de inocência,  submerge estrategicamente, cai no esquecimento e volta para roubar mais. Registro memorável discurso do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, quando assumiu a presidência do Tribunal Superior Eleitoral: “Perplexos, percebemos, na simples comparação entre o discurso oficial e as notícias jornalísticas, que o Brasil se tornou um país do faz de conta. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam – o que lhes daria uma carta de alforria prévia para continuar agindo como se nada de mau tivessem feito”. Mesmo o presidente do Supremo Tribunal Federal (é ao mesmo tempo presidente do STE), fazendo esse discurso “memorável” a coisa piorou ? Quem sabe o Judiciário está todo comprado e nós não sabemos?

De lá para cá, infelizmente, a coisa só piorou. A ausência de punição é a mola da criminalidade. Não diga! Nunca nos contaram isso! Mas não atiremos a esmo. Não publiquemos no domingo para, na segunda-feira, mudar de pauta. Vamos nos concentrar. Focar no mensalão. E você, caro leitor, escreva aos ministros do STF, Eu não acredito que alguém seja tão ingênuo assim. Escrever para os ministros do Supremo! Escreva, escreva, pressione, proteste, saia às ruas numa magnífica balada da cidadania. Magnífica balada da cidadania. Meu Deus, de onde saem essas coisas ?!

Em segundo lugar, exija de nós, jornalistas, a perseverança de buldogues. Ah, nós vamos fazer isso,  os jornalistas têm um tempo enorme para perder com perserverança de buldogue. Desculpe minha ignorância, fiquei muito tempo longe do Brasil, mas você já entrou em alguma redação ? Sabe como são respondidas as cartas dos leitores ? Por princípio quem escreve para jornal é considerado maluco. É preciso morder e não soltar. Puxa vida, eu vou até afiar os meus dentes. Os meios de comunicação existem para incomodar. É mesmo ? Pensei que fosse para dar PODER e dinheiro para o dono do jornal. Resgato hoje, neste espaço opinativo, uma sugestão editorial escreveu um editorial, é isso ? Não me diga que foi no Estadão! que venho defendendo há anos. Vamos inaugurar o Placar da Corrupção. (Meu Deus, não acredito…).  Mensalmente, por exemplo, a imprensa exporia um quadro claro e didático, talvez um bom infográfico o que é isso ?, dos principais escândalos. O que aconteceu com os protagonistas da delinquência? Como vivem os réus do mensalão? Que lugares frequentam? Que patrimônio ostentam? É fundamental um mapeamento constante. Caso contrário, estoura o escândalo, o ministro cai, perde poder político, mas vai para casa com a dinheirama. Depois, de mansinho, volta ao partido e retorna às benesses do poder, apoiado pela força da grana e do marketing. É preciso acabar com isso. A imprensa precisa ficar no calcanhar dos criminosos.Quase morri de rir. Você é assim mesmo ? Mas que entusiasmo! Sempre a mil por hora ? Sem dúvida é hilariante. Bem, vamos ter que QUADRUPLICAR o número de repórteres investigativos nos jornais, mas faremos tudo pelo mapeamento constante!

Uma democracia constrói-se na adversidade.Tem certeza, ou é mais uma daquelas frases feitas, sem nenhuma constatação? O Brasil, felizmente, ainda conta com um Ministério Público atuante, um Judiciário, não obstante decepções pontuais, bastante razoável e uma imprensa que não se dobra às pressões do poder. Agora não existe dúvida. Você também acredita na Fada do Sininho. É preciso, no entanto, que a sociedade, sobretudo a classe média, mais informada e educada,  A classe média é mais informada e educada ? Quem disse ? assuma o seu papel no combate à corrupção. As massas miseráveis, reféns do populismo interesseiro, da desinformação e da insensibilidade de certa elite, O que quer dizer certa elite ? só serão acordadas se a classe média – e a formidável classe emergente -, fiel da balança de qualquer democracia, decidir dar um basta à vilania que tomou conta do núcleo do poder. Muito bem, apoiado, o orador é vivamente cumprimentado.

Chegou a hora ( curioso, está sempre chegando a hora ) de a sociedade civil mostrar sua cara e sua força. É preciso, finalmente, cobrar a reforma política. Todos sabem disso. Há décadas. O atual modelo é a principal causa da corrupção. Quando falta transparência, sobram sombras. Puxa, quase que a frase foi boa mas a elisão sobram -sombras estragou tudo. Apenas uma sugestão: Quando falta transparência É O MOMENTO das sombras O Brasil pode sair deste pântano para um patamar civilizado. Mas para que isso aconteça, com a urgência que se impõe, é preciso que os culpados sejam punidos. Apoiado! Apoiado! O orador é efusivamente cumprimentado. 

Descobri que muito tempo atrás, 18 /11/2010, comentei outro artigo do autor. Clique em cima do título em vermelho:  A imprensa e a “Nova Dilma”; Roberto Freire e Aldo Rebelo; Obama é refém do general Petraeus

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Categoria: Artigos