A profanação no túmulo de Tancredo (Murilo Badaró)

Murilo Badaró
Presidente da Academia Mineira de Letras

Candidatos que obedecem cegamente as instruções de marqueteiros estão
sujeitos a vexame, em tudo semelhante ao protagonizado pela candidata
presidencial em São João del Rei. Exalando o odor da farsa, ante o olhar
constrangido do bom Patrus, a candidata depositou flores na sepultura de
Tancredo Neves, tentativa burlesca de reconciliação do petismo com o
ex-presidente após 25 anos de repudiá-lo com agressividade.Se em Ouro Preto
depositar flores no Panteon da Inconfidência poderia ser encarado como peça
publicitária – tentativa que também adquire ares de mistificação, aceita com
naturalidade pelos ouro-pretanos, acostumados a essas encenações -, a visita
incorporada do PT ao jazigo do líder mineiro aconteceu com atraso, depois
que expulsou de seus quadros os três parlamentares paulistas que votaram em
Tancredo no Colégio Eleitoral e recusou publicamente participar do projeto
de união nacional comandado pelo mineiro morto antes de assumir a
Presidência.Os responsáveis pela publicidade da candidata cometeram grotesco
escorregão histórico, como se fosse possível ser levada a sério uma ação que
adquiriu insólita expressão de reles e tosca exploração eleitoral de um
sentimento que é caro e nobre aos mineiros. Por certo, há de pagar preço
alto pela imprudência e impudência política no momento próprio, pois mesmo
recebendo o perdão, como é da índole mineira, para o gesto anterior de
repulsa aos acenos pacificadores e patrióticos de Tancredo, os nascidos
nestas terras não se esquecem facilmente do quanto repercutiram
negativamente os gestos de hostilidades de Lula e seus companheiros a todas
as propostas conciliatórias, feitas em nome de uma união nacional que
conseguiu criar condições para a consolidação do processo democrático, de
que mais tarde se beneficiariam. Os olhos já enfastiados de velho combatente
político jamais contemplaram cena tão canhestra e até mesmo provocadora para
os brios dessa gente valorosa que mora entre estas montanhas, que, como diz
o presidente Itamar Franco, “ninguém nivela”.A infeliz proposta marqueteira,
inventada para ajudar a melhorar a situação da candidata em Minas Gerais,
serviu tão somente para ressuscitar velhas amarguras que jaziam nas sombras
do esquecimento e desnudou por completo as fragilidades da candidata em seu
propósito de angariar apoio dos mineiros. O então candidato Lula recusou e
combateu todas as propostas de união nacional iniciadas pelo presidente
Itamar Franco, tendo comandado a expulsão da deputada Luiza Erundina por
haver aceitado participar do ministério do grande mineiro. Enfim, o petismo,
ao qual a candidata se integrou recentemente para efeitos eleitorais, não
resgatou seu débito histórico com Minas e muito menos com Tancredo, cuja
sepultura sofreu abalos pelo peso da insinceridade e da farsa depositadas
sobre ela.A profanação lembrou Joaquim Silvério dos Reis, agravada por um
sem número de estroinices ditas depois pela candidata bonifrate. Valha-nos
Deus!


15 abril, 2010 às 19:45

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Categoria: Artigos

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