A República destroçada ( Marco Antonio Villa) – comentários do blog sobre artigos inúteis
Em 1899 um velho militante, desiludido com os rumos do regime, escreveu que a República não tinha sido proclamada naquele mesmo ano, mas somente anunciada. Dez anos depois continuava aguardando a materialização do seu sonho. Era um otimista. Mais de cem anos depois, o que temos é uma República em frangalhos, destroçada.
Constituições, códigos, leis, decretos, um emaranhado legal caótico. Mas nada consegue regular o bom funcionamento da democracia brasileira. Ética, moralidade, competência, eficiência, compromisso público simplesmente desapareceram. Temos um amontoado de políticos vorazes, saqueadores do erário. A impunidade acabou transformando alguns deles em referências morais, por mais estranho que pareça.
blog: Quais ? Um, ou dois exemplos, por favor.
Um conhecido político, símbolo da corrupção, do roubo de dinheiro público, do desvio de milhões e milhões de reais, chegou a comemorar recentemente, com muita pompa, o seu aniversário cercado pelas mais altas autoridades da República.
blog : Quem foi ?
Vivemos uma época do vale-tudo. Desapareceram os homens públicos. Foram substituídos pelos políticos profissionais. Todos querem enriquecer a qualquer preço. E rapidamente. Não importam os meios. Garantidos pela impunidade, sabem que se forem apanhados têm sempre uma banca de advogados, regiamente pagos, para livrá-los de alguma condenação.
blog: Vamos dizer logo que também compram os juízes! Uma das causas de tudo que está acontecendo, está nesse medo de dar o nome aos bois. O autor do artigo não percebe que é cúmplice quando omite um dado tão importante.
São anos marcados pela hipocrisia. Não há mais ideologia. Longe disso. A disputa política é pelo poder, que tudo pode e no qual nada é proibido. Pois os poderosos exercem o controle do Estado – controle no sentido mais amplo e autocrático possível. Feio não é violar a lei, mas perder uma eleição, estar distante do governo. O Brasil de hoje é uma sociedade invertebrada. Amorfa, passiva, sem capacidade de reação, por mínima que seja.
blog: Por que ? Vamos dizer logo: o povo brasileiro não consegue reagir porque já foi corrompido. Também quer roubar se uma oportunidade lhe for dada. O problema é muito mais profundo do que o autor do artigo mostra. Toda a sociedade está completamente podre. Todo brasileiro tem um preço, é isso, meu caro.
Não há mais distinção. O panorama político foi ficando cinzento, dificultando identificar as diferenças. Partidos, ações administrativas, programas partidários são meras fantasias, sem significados e facilmente substituíveis.
blog: Sempre foi assim, não está acontecendo agora. Partidos, a não ser o Comunista, nunca tiveram programa algum.
O prazo de validade de uma aliança política, de um projeto de governo, é sempre muito curto. O aliado de hoje é facilmente transformado no adversário de amanhã, tudo porque o que os unia era meramente o espólio do poder.
blog: Nada disso tem importância. O autor está querendo que vivamos em um país civilizado. Tudo isso já existia antes da podridão total a que chegamos.
Neste universo sombrio, somente os áulicos – e são tantos – é que podem estar satisfeitos. São os modernos bobos da corte. Devem sempre alegrar e divertir os poderosos, ser servis, educados e gentis. E não é de bom tom dizer que o rei está nu. Sobrevivem sempre elogiando e encontrando qualidades onde só há o vazio.
Mas a realidade acaba se impondo. Nenhum dos três Poderes consegue funcionar com um mínimo de eficiência. E republicanismo. Todos estão marcados pelo filhotismo, pela corrupção e incompetência. E nas três esferas: municipal, estadual e federal. O País conseguiu desmoralizar até novidades como as formas alternativas de trabalho social, as organizações não governamentais (ONGs). E
mais: os Tribunais de Contas, que deveriam vigiar a aplicação do dinheiro público, são instrumentos de corrupção.
blog: Isso mesmo. Vamos dizer assim : No Brasil os juízes são ladrões. Fica melhor.
E não faltam exemplos nos Estados, até mesmo nos mais importantes. A lista dos desmazelos é enorme e faltariam linhas e mais linhas para descrevê-los. A política nacional tem a seriedade das chanchadas da Atlântida. Com a diferença de que ninguém tem o talento de um Oscarito ou de um Grande Otelo. Os nossos políticos, em sua maioria, são canastrões, representam mal, muito mal, o papel de estadistas. Seriam, no máximo, meros figurantes em Nem Sansão nem Dalila. Grande parte deles não tem ideias próprias. Porém se acham em alta conta.
blog: O autor está “viajando”, pinta um quadro melhor do que o verdadeiro. Os políticos não se têm em alta conta. Não estão nada preocupados com isso. Apenas querem o poder ( por ser afrodisíaco, por ter placa bonita no carro) e principalmente, para roubar. Olham uns para os outros e sabem que todos são ladrões se lhes derem oportunidade. Sabem que não prestam, que são ladrões pelos padrões reconhecidos universalmente, não ficaram loucos. O que lhes dá força, cinismo, é a impunidade. Entraram naquela : se todo mundo faz eu também vou fazer.
Um deles anunciou, com muita antecedência, que faria um importante pronunciamento no Senado. Seria o seu primeiro discurso. Pelo apresentado, é bom que seja o último. Deu a entender que era uma espécie de Winston Churchill das montanhas. Não era, nunca foi. Estava mais para ator de comédia pastelão. Agora prometeu ficar em silêncio. Fez bem, é mais prudente. Como diziam os antigos, quem não tem nada a dizer deve ficar calado.
blog: Continua tratando os políticos por um ângulo muito mais favoravel do que a realidade mostra. E quem foi esse ? Mas que medo!
Resta rir. Quem acompanha pela televisão as sessões do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e as entrevistas dos membros do Poder Executivo sabe o que estou dizendo. O quadro é desolador. Alguns mal sabem falar. É difícil – muito difícil mesmo, sem exagero – entender do que estão tratando. Em certos momentos parecem fazer parte de alguma sociedade secreta, pois nós – pobres cidadãos – temos dificuldade de compreender algumas decisões. Mas não se esquecem do ritualismo. Se não há seriedade no trato dos assuntos públicos, eles tentam manter as aparências, mesmo que nada republicanas. O STF tem funcionários somente para colocar as capas nos ministros (são chamados de “capinhas”) e outros para puxar a cadeira, nas sessões públicas, quando alguma excelência tem
de se sentar para trabalhar.
blog: Os ministros do Supremo também roubam, meu caro. A capinha não tem a menor importância. Existem países com rituais muito mais impressionantes. O que faltou dizer é isso: ele ROUBAM
Vivemos numa República bufa.
blog: Sempre foi mais ou menos assim. Um país da A. Latina.
A constatação não é feita com satisfação, muito pelo contrário. Basta ler o Estadão todo santo dia. As notícias são desesperadoras. A falta de compostura virou grife. Com o perdão da expressão, mas parece que quanto mais canalha, melhor. Os corruptos já não ficam envergonhados. Buscam até justificativa histórica para privilégios. O leitor deve se lembrar do símbolo maior da oligarquia nacional – e que exerce o domínio absoluto do seu Estado, uma verdadeira capitania familiar – proclamando aos quatro ventos seu “direito” de se deslocar em veículos aéreos mesmo em atividade privada.
blog: mas, e o nome dele ? Mas que medo ! Foi o Sarney, não ?
Certa vez, Gregório de Matos Guerra iniciou um poema com o conhecido “Triste Bahia”. Bem, como ninguém lê mais o Boca do Inferno, posso escrever (como se fosse meu): triste Brasil. Pouco depois, o grande poeta baiano continuou: “Pobre te vejo a ti”. É a melhor síntese do nosso país.
Blog: Que chatice . Esse tipo de artigo é exatamente o que leva a que tudo continue do mesmo jeito. Caro professor, deixe de tanta indignação controlada. Isso é exatamente o que o país não precisa. Consulte um advogado antes, e veja se escreve com mais vigor.
HISTORIADOR, É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS(UFSCAR)
Comentários (2)
Grande Mafra,
Mandei o artigo do Villa para muita gente, mas, lendo seus comentários, achei que vc está certíssimo.
Um abraço.
Obrigado,Francisco, é mais do que um elogio.