As manifestações que imitam Nova Yorque, Londres, Paris, “Primavera árabe infernal”, etc.

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Sabemos que tudo começou com a recusa em aceitar o aumento das passagens de ônibus em S.Paulo.

Aquelas passeatas não foram tão pacíficas como a imprensa anunciou. Seguiu o modelo muito conhecido de alguns choques com a polícia, um pouco de quebra-quebra, mas nada de sério. Não houve violência policial.  A PM defendeu o que deveria defender, e jogou gás lacrimogênio e bombas de efeito moral quando grupos mais agressivos resolviam enfrentá-la, ultrapassando marcas pré-definidas no terreno. Tudo igualzinho ao que acontece em qualquer lugar do mundo. Aliás, não existem fotos de manifestantes com sangue escorrendo pelo rosto, fotos de policiais batendo prá valer. Nada parecido com o soldado, ou o policial civil, perseguindo o manifestante por dezenas de metros e baixando o cacête. Foi mentira da imprensa, foi mentira do politicamente correto. O PT (Prefeitura) e a Oposição (Governo estadual),   não seriam tão burros.

O que houve imediatamente após é que surpreendeu. Os jovens descobriram que passeata é muito mais interessante do que a chatice de ficarem em casa brincando com o computador, fingindo que estão estudando,ou saírem para se divertir bebendo e dançando. Ninguém sabe o momento exato em que decidiram ir para a ruas. Pela internet alguns lançaram a ideia e todos se animaram. Motivos para protestar é o último dos problemas. Tudo está errado no  País e eles sabem disso, através das manchetes de jornal, através da televisão,  nas universidades conversando entre si e com os professores, e pelo que os pais indignados falam em casa. Então, vamos imitar o que temos visto na televisão desde muito tempo nas capitais mais civilizadas do mundo: Nova Yorque, Londres, Paris e mesmo em lugares atrasados como no Oriente Médio. Vamos para as ruas. O movimento do Tea Party foi sensacional, o do Occupy mais ainda, e de quebra ainda temos a suspeitíssima “Primavera árabe”.  De uma hora para a outra descobriram que ao invés de pequenos piquetes nas universidades, ou em outros locais, poderiam encher as ruas. No início não foram tantos, mas depois os que estavam em casa também resolveram se divertir “por uma boa causa”. Aconteceu uma raridade: tinham o apôio das suas famílias.

Fizeram cartazes, cada um procurando que o seu fosse mais inteligente e mais original do que o dos outros. Marcharam pelas ruas, uma experiência única, mística. A adrenalina subiu ao verem os policiais. Até que enfim estavam fazendo alguma coisa de relevância! A semi-tarimbada turma de esquerda apareceu com seus slogans anti-americanos e com bandeiras vermelhas. Diz a imprensa que os jovens não gostaram. Devem ter achado cafona, e teriam pedido para que baixassem o facho.  Muito mais bonitos o SEUS cartazes altamente sofisticados, tipo :” STOP POLICE VIOLENCE (assim mesmo, em inglês, o que se tornou comum) ou os que resolvem nos ensinar como resolver os problemas do globo terrestre: “A EDUCAÇÃO É A ARMA MAIS PODEROSA QUE VOCÊ PODE USAR PARA MUDAR O  MUNDO”

Os habituais baderneiros, psicopatas, ladrões, bandidos, recalcados, também estavam lá, e foram os responsáveis pela quebradeira que a televisão teimava em desmentir nos primeiros dias das passeatas. Provavelmente os jovens não se sentiram nada a vontade perto dessa turma, mas… até que eles traziam ainda mais emoção.

O governo ficou perplexo.  Posso imaginar as ordens histéricas que foram dadas para a Polícia: bater de jeito nenhum  ou prendemos vocês. Quando os comandantes argumentaram que os policiais poderiam correr risco de vida, ou de sérios ferimentos, por causa dos bandidos infiltrados deve-se ter chegado a um acordo. Apenas cassetetes e um cuidado extremo em identificar os que queriam literalmente incendiar e quebrar. Imagino que a polícia deve ter enviado seus próprios fotógrafos e filmadores para mostrarem em quem batiam, ou em que momento foram obrigados a reagir com o gás e as bombas de efeito moral.

Um enorme problema se colocou para os oficiais no local. Com quem deveriam negociar ? Não havia lideranças, porque dentro daquela massa apenas se sobressaiam pequenos grupos nos quais um rapaz, ou moça, se dirigia aos policiais.

A falta de com quem conversar também deixou o governo sem saber o que fazer.  Todos os políticos queriam agradar aos manifestantes, mas ceder o que, e para quem ?

O problema mais fácil de todos, o das passagens de ônibus deve ser resolvido, mas e os outros ? Claro que vão ficar do jeito que estão porque são genéricos, os manifestantes exigem mais dinheiro para educação, criticam a Copa e o escambau. Teriam que fazer uma revolução para mudar tudo o que gostariam. Virar o país pelo avesso. E o governo sabe disso.  O negócio é achar alguma forma de acalmar os manifestantes neste momento, além de ceder na questão das passagens. Parece que foram vistos cartazes contra o projeto que castra o Ministério Público. Foi feita a sugestão, pela imprensa, de se retirar o projeto. Mas, com toda a certeza 99.99 dos que estão nas ruas nem fazem ideía do que se trata. De fato nem sabem o que é Ministério Público. O projeto era muito importante para a corja governamental até poucos dias atrás, mas agora, se os milhares que estão nas ruas tivessem conhecimento do que ele significa até que poderia ser deixado para outro momento.  Então o que se percebe é que os manifestantes poderiam ser um pouquinho politizados, mas não são. Longe disso. Retirar o projeto, e os jovens, os estudantes y cia., nem se darem conta ?  Seria um tanto ridículo. Um sacrificío inútil. Desta forma é possivel que sem conceder nada, além das passagens, o governo espere  até que eles se cansem e voltem para casa. Existe chance de que os manifestantes criem uma agremiação política, como foi feito o Tea Party?  Dificil dizer. Provavelmente não.

Ontem, os exaltados, junto com os baderneiros a que me referi, foram mais violentos. Devem ter se animado com a enorme cobertura da imprensa. E os jovens vão percebendo – também pela imprensa – que seu movimento é muito mais importante do que supunham no início.  Infelizmente para eles daqui para a frente fica mais difícil: não possuem nenhuma liderança e não podem contar com ajuda da Oposição porque ela não existe. O país está todo errado, é absurdamente corrupto, mas é provavel que tudo que fizeram se esgote sem maiores conseqüências imediatas. Mas, ficou o susto para o governo. Descobriram que as pessoas não são tão burras quanto eles achavam.  Passaram a ter medo de que elas possam se organizar no futuro, e aí sim, causar estragos no projeto petista de ditadura constitucional. A Oposição também registrou o que já sabia: não valem nada, não receberam nenhum apoio nas passeatas. Foram considerados farinha do mesmo saco.

Alguma repercussão nas próximas eleições ? Muito pequena, se tanto.

Em tempo: Vi uma mocinha na TV colocando algumas questões como se fosse uma lider. Algum grupo deve tê-la pinçado e dito: “vai lá na televisão“. E nada melhor para o governo. Provavelmente ela lidera umas 50 pessoas, das milhares que estão protestando.

Vamos aguardar os desdobramentos, satisfeitos porque algo inédito e bom aconteceu, mesmo que tenha sido sem um nivel prático de politização. Mas, foi um avanço, não resta dúvida.

Por último: É muito irritante a ladainha da violência policial, nestes últimos acontecimentos, e em geral. Ela existe, seria bobagem negar. Gostaríamos que fosse diferente, mas para isso nosso povo teria que ser diferente também. O que as pessoas não param um minuto para pensar é que nessas grandes manifestações de protesto, o policial, na maioria das vezes, está em imensa desvantagem numérica. Todo mundo se esquece que ele é como nós, tem mulher e filhos, e pode ser muito ferido e até morto. Várias vezes, por precaução dos seus superiores, eles não portam armas com munição real. A massa vai descobrir essa vantagem, se de fato houver um confronto. O policial fica com raiva e vergonha por estar sentindo medo. Fica diminuído perante ele mesmo. Passa a sentir ódio pelo manifestante que insufla a multidão.  De um momento para o outro não consegue mais se conter e desce a borracha prá valer.  É assim em todos os países no mundo, só que lá fora, atacar um policial é crime passível de punição severa, e aqui muita gente se coloca ao lado do do baderneiro, porque, afinal, é culpa nossa ele não ter tido escola na infância. Eu me lembro que li o Estação Carandiru, de Drauzio Varela (?). Uma vergonha, uma apologia ao banditismo, dá charme aos bandidos e condena a Polícia. Nossa imprensa usa condenar a Polícia, embora não exalte os bandidos, e assim se diferencia do reverenciado médico imbecil. Pelo menos isto.

 

 

19 junho, 2013 às 13:53

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Categoria: Artigos

Comentários (9)

 

  1. Almir disse:

    Esse foi o texto mais correto sobre essas “manifestações” no país.

    Parabéns Mafra!

  2. Marco Balbi disse:

    Excelente análise! Estou ajudando a divulgar!

  3. Eduardo S. P. disse:

    Mafra,

    Sem reparos: visão periférica para observar o todo e precisão para acertar o alvo. Não embarca na onda épica dos empolgados, não viaja nas construções teóricas dos acadêmicos e anal-istas de plantão e não se arrasta nas platitudes dos chatos e covardes.
    Enfim, um texto lúcido… gostei!

    Abçs,
    Eduardo S. P.

  4. Felipp Frassetto disse:

    O mais chato foi ver que agora todo mundo se acha, ao mesmo tempo; pai, promotor, apoiador e vidente e conhecedor prévio das tais passeatas, como que querendo explicá-las: imprensa, acadêmicos, governo, oposição, políticos no ostracismo, etc.
    Bem feito para o próprio governo, que está experimentando um pouco do próprio remédio.
    Ver a Dilma elogiando as passeatas me lembrou, e muito, o Hosni Mubarak elogiando os seus.
    E o governo queria sim sentar o pau nos manifestantes. Afinal, se conseguiu debelar uma greve de policiais federais e outros funcionários do próprio governo, por que não teria sentado o cacete, ainda que estas fossem de natureza diferente?
    Só é uma pena que, mesmo na remotíssima possibilidade de que a presidAnta, por qualquer motivo que fosse; viesse a cair, viriam seres muito piores: Michel Temer, Renan Calheiros e o José Sarnento.

    • claudiomafra disse:

      Chegando ao ponto extremo da cair a presidente, acredito que jamais o movimento se esgotaria admitindo as figuras que vc mencionou.

      • Felipp Frassetto disse:

        Certo.
        Comentei porque esses seriam os que a sucederiam no caso de que ela deixasse a presidência, independente do motivo.
        Em outras palavras: seja qual for (e digo ‘qual’ mesmo, pois ‘quem’ é para usar com pessoas), estamos todos no inferno. haha

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