EUA não podem confiar na China (Fred Hiatt) -comentado pelo blog

Tendo afundado há pouco um navio da Marinha sul-coreana e tirado a vida de 46 marinheiros, o líder norte-coreano Kim Jong-il entrou no seu trem blindado particular na semana passada para uma visita à China. A interpretação que melhor se encaixa nos fatos suscita questões sobre a esperança do governo dos EUA de obter ajuda da China para conter a Coreia do Norte e o Irã.
A corveta sul-coreana Cheonan explodiu, partiu-se em duas e afundou na escuridão de 26 de março, deixando 46 dos 104 membros da tripulação mortos ou desaparecidos no mar . Oficialmente, a causa da explosão continua sendo investigada e o presidente sul-coreano, Lee Myung-bak, não fez nenhuma acusação. No entanto, os dois pedaços da embarcação foram resgatados e explosões internas foram descartadas como causa. Na semana passada, jornais sul-coreanos reportaram que vestígios de um torpedo haviam sido encontrados. A lista de suspeitos é curta. ( Ninguém faz nada, com medo da bomba atômica norte-coreana e da loucura de Kim Jong -il.  Ele é louco daquele tipo que não rasga dinheiro, porque quando os EUA invadiram o Iraque a Coréia do Norte prostrou-se aos pés de Bush, da mesma forma que a Síria e o Iran. Não foi possivel aproveitar a ocasião porque a violenta oposição interna à Bush, feita pelos Democratas e Liberais, não dava descanso, e o presidente ficou com as mãos atadas.)

Lee, em face da revolta dos sul-coreanos, trabalhou metodicamente na preparação do terreno para uma resposta multilateral centrada em sanções diplomáticas ou econômicas – uma retaliação militar só colocaria o risco de uma guerra mais ampla. Para isso, discutiu a questão com o presidente chinês, Hu Jintao, em Xangai, em 30 de abril.

Mistério. Autoridades sul-coreanas esperavam que a China ajudasse a enviar uma mensagem a Pyongyang de que afundar navios não é uma prática comum entre nações civilizadas. Em vez disso, três dias depois, e sem notificar a Coreia do Sul, a China desenrolou o tapete vermelho para Kim Jong-il.  (Mistério ? Alguma novidade ? Ainda não aprenderam que a China é assim mesmo? Não é confiavel, não assume compromissos, e se assumir não os cumpre.)

A imprensa chinesa não teve permissão para cobrir a visita. No entanto, após Kim chegar em segurança em Pyongyang, a agência de notícias chinesa Xinhua reportou que Hu havia oferecido um banquete de boas-vindas ao norte-coreano. “Hu disse que a tradicional amizade entre a China e a República Democrática Popular da Coreia é um tesouro comum dos dois governos, partidos e povos”, disse a Xinhua. (Quando Bush era presidente, a imprensa fez crer que todos os problemas internacionais eram culpa dele, sua arrogância, despreparo, uniteralismo. Com Obama tudo iria se resolver através de uma nova imagem americana, a do bonitão disposto ao diálogo, o excelente orador – todos iriam se render à sua graça e boa vontade).

O que fazer com isso? Analistas que acreditam que a China tem uma influência moderadora sobre a Coreia do Norte – (” acreditam” ?!   E não é influência “moderadora: a China é o oxigênio do regime norte-coreano) se confortaram com a ideia de uma proposta de cinco pontos emitida por Hu, na qual ele pede que os dois países fortaleçam a coordenação em assuntos internacionais e regionais – talvez isso tenha assinalado a insatisfação da China pelo afundamento do Cheonan.

Segundo o jornal sul-coreano Chosun Ilbo, Kim partiu inesperadamente de Pequim, talvez após um acesso de raiva pelos chineses terem, quem sabe, expressado reservas sobre o caso. Por outro lado, o jornal também noticiou que Kim regressou com promessas de 100 mil toneladas de alimentos e US$ 100 milhões em ajuda da China.

Isso reflete o verdadeiro papel da China na Coreia do Norte. Apesar de todo o tempo gasto em negociações e da discussão ( ué, mas o Obama não ia dialogar e RESOLVER ? ) sobre o novo papel da China como um ator responsável, sua principal realização até agora foi manter o regime de Kim Jong-il. Enquanto EUA, Coreia do Sul e Japão restringem sua ajuda à Coreia do Norte, a China preenche essa lacuna. Claro, é mais um fator de poderio e de barganha da China no cenário mundial. E para agradar a Kim, os chineses prendem, e mandam de volta, os pobres norte-coreanos que tentam fugir pela fronteira com a China, cruzando o rio Yalu. O destino deles é o gulag, ou a morte. Deveríamos enxergar os chineses exatamente como são: não confiáveis e muito mais para inimigos do que qualquer outra coisa. Somos levados a encara-los com simpatia por causa da imprensa, que é anti-americana.

O programa nuclear norte-coreano não foi contido e não haverá consequências pelo afundamento do Cheonan. Tudo isso é importante para os 24 milhões que continuam presos no país-gulag de Kim. O quanto isso é relevante para Coreia do Sul e EUA é discutível. Vale apenas como indício de quanta ajuda o presidente Barack Obama pode esperar de Hu. Para quem queria apoio para frear Coreia do Norte e Irã, o abraço de Hu em Kim foi desalentador.  Foi  mesmo ? Quer dizer então que a culpa não era do Bush ? ALGUÉM TEM DÚVIDAS QUE A CHINA E A CORÉIA DO NORTE SE SENTEM MUITO MAIS TRANQUILAS COM OBAMA ? E lembrem-se, o autor desse artigo é editorialista do Washington Post, jornal que fez uma virulenta, agressiva, oposição ao presidente Bush. Quantos editoriais esse sujeito redigiu, em 8 anos, culpando o ex-presidente por não conseguir a cooperação chinesa ? Se eu tivesse tempo iria atrás para contar. 

Se a situação piorar só nos resta um último recurso: ameaçar armar o Japão. Com um Japão armado, a China se encolhe imediatamente. São fregueses, morrem de medo dos japoneses. Preferem fechar as torneiras para a Coréia do Norte a ver o seu maior inimigo de todos os tempos novamente armado. A Constituição japonesa impede que o país se arme, uma imposição americana quando derrotou e ocupou o Japão em 1945. Chegou a hora de jogar essa proibição no lixo. Vamos acabar com a farra chinesa de ser o unico país de respeito na Ásia. Se a China continuar nesse caminho vamos tirar o az da manga. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK

(FRED HIATT É EDITORIALISTA DO WASHINGTON POST)

(publicado pelo Estadão em 12 de maio de 2010)



12 maio, 2010 às 07:34

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Categoria: Artigos

Comentários (2)

 

  1. Ronaldo Veloso Romão disse:

    A China é perigosa, mas felizmente é bastante previsível. Além do Japão, não há outros países na Ásia que podem minar as pretensões imperialistas da China. O rearmamento do Japão seria ainda uma excelente maneira de reaquecer e dinamizar a sonolenta economia niponica. Fora as contribições que eles dariam no campo da inovação, afinal os japas são excelentes na engenharia reversa e na inovação incremental.

    E também como se encontram anos luz a frente dos chineses em tecnologia e possuem uma das maiores poupanças do mundo, seria sobretudo formidavel para o mundo ter o Japão de volta ao jogo econômico e militar.

    Contudo apesar da empolgação, sou cético quanto a possibilidade. As democracias maduras, ao que parece, caminham para um processo de canadalização, ou seja, estão cada vez mais prosperas, seguras, mas completamente irrelevantes como o maravilhoso Canadá.

    • Claudio Mafra disse:

      É verdade.Canadá, Bélgica, e outros desenvolvidos, são países que se acomodaram no papel de coadjuvantes. O Canadá pelo menos ajuda com algum contingente militar, aqui e alí, embora não chegue ao nivel de engajamento da Austrália e Nova Zelândia. Ah, saudades da classe do império britânico.A Bélgica tem medo de tudo, principalmente dos imigrantes. Concordo que seria ótimo ver o Japão renascer, sobretudo trazendo preocupações para a China. Assistiríamos de palanque, sem ter nada a ver com a briga. Muito divertido.

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