Excelente análise: “Obama, o presidente melindroso” – traduzido ( Peter Wehner)
Peter Wehner
Postado sexta-feira, 28 de maio de 2010
Em seu livro “The battle for America 2008”, Haynes Johnson e Dan Balz escreveram: David Axelrod, chefe da assessoria política, também avisou que a confissão de Obama descrita em suas memórias “Dreams from my father”, de ter usado drogas na juventude, poderia ser usada contra ele. “Isso é mais do que um inconveniente desagradável” ele escreveu. “Exige muito de sua disposição e habilidade em aceitar algo que você nunca experimentou de forma contínua: a crítica. Ao arriscar provocar a exata reação que me implica, não sei se você é Muhammad Ali (Cassius Clay) ou Floyd Patterson quando tomam um soco. Você se preocupa, e muito, com o que é escrito ou dito sobre você. Não aprecia um confronto quando ele se torna pessoal e sórdido. Quando o irrelevante Alan Keyes te atacou, você estremeceu”, comentou sobre o senador americano seu adversário em 2004.
Refleti sobre essas memórias após ler o comentário do Senador Pat Roberts logo que ele e outro senador republicano tiveram um polêmico encontro de 80 minutos com o presidente nessa terça-feira. “Ele precisa tomar um calmante antes de conversar com os republicanos”, disse Roberts. “Ele é muito sensível”.
O senador Roberts esta sendo muito generoso. Obama esta entre os mais susceptíveis presidentes que já tivemos e isso é evidente em todos os lugares imagináveis, desde entrevistas cara a cara até em coletivas de imprensa, em falas improvisadas e em discursos prontos.
O presidente tem constantemente reclamado do que dizem sobre ele. Esta aborrecido com a Fox News, com programas conservadores em radio, com republicanos e pessoas com posters pouco lisonjeiros sobre sua pessoa. Fica aborrecido quando sua avalanche de fatos errados é desafiada como na reforma da saúde. Fica nervoso quando sua hipocrisia é mostrada, em tudo, desde a quebra da promessa de não empregar lobistas na Casa Branca, de transmitir encontros da área da saúde no C-SPAN.org, de não cortar recursos, de descumprir suas promessas de transparência e de bipartidarismo.
Aos olhos de Obama, ele é sempre o ofendido, sempre o violado, a vitima de alguma injustiça. Ele é o virtuoso e valoroso herói americano, um homem de causas puras, sabedoria incomum, sendo atacado por forças da escuridão.
É tudo tão extremamente injusto.
Como esperado, a hipersensibilidade de Obama leva a autocomiseração. Daniel Halper, do The Weekly Standard ressaltou que em um evento para arrecadar fundos para a senadora Barbara Boxer, Obama disse: “Temos que admitir que este tem sido o ano e meio mais difícil desde a década de 30”. Isso é real? Pior do que o 7 de dezembro de 1941 e o 11 de setembro de 2001? Mais difícil do que enfrentou Gerald Ford após a renuncia de Richard Nixon e Watergate, o pior escândalo constitucional de nossa historia e que partiu o pais em dois? Pior do que Ronald Reagan enfrentou após Jimmy Carter ( quando os juros estavam a 22%, inflação mais de 13% e algo inteiramente novo abaixo do sol, a “stagflation” – estagnação da economia e inflação)? Pior que em 1968 quando Bobby Kennedy e Martin Luther King Jr. foram assassinados e havia confrontos de rua? Ou do que Lyndon Bird Johnson passou no confronto do Vietman, uma guerra que custou ao final mais de 58.000 de vidas? Mais crítico do que John Kennedy enfrentou na Baia dos Porcos e na crise dos mísseis cubanos, quando a União Soviética chegou perto de uma guerra nuclear? Mais difícil do que Franklin Roosevelt enfrentou nas vésperas da invasão da Normandia? Ou do que Bush enfrentou no Iraque em 2006 no limiar de uma guerra civil, ou quando o sistema financeiro colapsou em seus últimos meses de presidência? Pior do que Truman encarou ao derrotar o Japão imperial, na reconstrução da Europa pós guerra ou respondendo a invasão da Coréia do sul pela Coréia do Norte?
Em sua biografia “Present at the Creation”, Dean Acheson escreveu sobre a imensa tarefa da administração Truman “que foi se revelando lentamente” após o final da guerra em 1945. E ao se revelar, pareceu um pouco menos formidável do que a descrita no primeiro capítulo do Genesis ou seja, criar o mundo a partir do caos; e nós, criar metade do mundo, livre, do mesmo material sem explodir o todo em pedaços”.
Obama, ao reclamar que os problemas que enfrenta são piores do que os dos outros presidentesnos últimos 80 anos, é impressionantemente egoísta, para não dizer ‘não comprometido com a história’.
Obama tem também a necessidade compulsiva de repreender os outros, apontar o dedo, dizer que os problemas que enfrenta não tem nada a ver com ele. E é claro, em certas ocasiões, há as relutantes concessões, como na coletiva de quinta-feira dedicada ao vazamento de óleo no Golfo do México, na qual Obama disse, “Se vocês querem saber quem é responsável, eu tomo a responsabilidade para mim” para assegurar que “tudo esta sendo feito para conter o vazamento”. Mas são palavras ‘pro forma’, com razões políticas táticas, um truque retórico para livrá-lo do aperto. Recentemente, no Rose Garden, Obama estava implicitamente culpando o ultimo ocupante da Casa Branca pela explosão da tubulação de óleo de Deepwater Horizon.
As reações do presidente são agora óbvias para todos: desviar as culpas, apontar dedos, atacar os outros, mais especialmente seu predecessor. Sabemos pela imprensa que a estratégia para os Democratas em 2010, dois anos após a eleição de Obama, é – adivinhem – culpar George W. Bush.
É difícil de se saber as explicações para tal. Mas esta claro que ele adotou uma auto-imagem de um ser raro e notável, uma figura histórica com habilidades próximas de um super-homem.
“Estou absolutamente certo de que daqui a algumas gerações, disse Obama durante a sua campanha presidencial, estaremos aptos a olhar para trás e dizer a nossos filhos que este foi o momento em que começamos providenciar assistência para nossos doentes e bons empregos para nossos desempregados; este foi o momento em que o aumento do nível dos oceanos começou a reduzir e nosso planeta começou a se curar; este foi o momento em que terminamos a guerra, asseguramos nossa nação e restauramos nossa imagem de melhor esperança na terra.”
Como diziam, constantemente, Obama e seus assessores durante a campanha: “Somos aqueles por quem temos esperado”.
As qualidades pessoais mais desagradáveis do presidente provavelmente não irão de encontro ao eleitorado. Os americanos tendem a se cansar daqueles que olham para trás em vez de olhar para frente e que estão sempre infringindo aos outros a culpa pelos problemas que enfrentam.
Barack Obama- um homem que estava tão despreparado para ser presidente como qualquer homem em toda nossa existência – tem mostrado nesses últimos 16 meses que encontra-se derrotado pelos fatos. Sua posição nas pesquisas de opinião tem caído, a sua proposta em relação a assistência na saúde esta menos popular, o derramamento de óleo no Golfo esta minando sua imagem de líder competente, e seu partido tem sido combatido desde novembro. Alcançamos o ponto onde Democratas estão se opondo a Obama e a sua agenda para sobreviver.
Podemos esperar que Obama, um homem inteligente, aprenda com seus erros. Mas o grande perigo em tudo isso é que, frente aos problemas, ele e seus assessores se tornem progressivamente defensivos, mostrando um maior senso de direito e até um toque de paranóia. Quando homens arrogantes perdem o controle dos fatos, eles podem facilmente ser levados por sentimentos de isolamento, partindo para críticas, perseguindo oponentes e ultrapassar limites que não deveriam ser ultrapassados.
Sendo assim, o presidente precisa estar rodeado de pessoas que possam conter os impulsos mais temíveis em sua administração, que estejam ansiosas para lhe dizer que o folclore criado por ele, Axelrod, Plouffe e Gibbs durante a campanha, deu lugar a realidade, que petulância não é sabedoria e que idéias inovadoras não substituem conquistas. E Obama precisa de alguém em sua vida para lhe dizer que a presidência é uma instituição honrada e que não devia ser tratada como se fosse um distrito de Chicago.
Os ingredientes estão aí para alguns problemas sérios no futuro. Aqueles que se importam com o presidente precisam reconhecer os sinais de alerta agora, o mais cedo possível, antes que seja tarde para ele e para a nação.
Tradução: CÉLIA SAVIETTO BARBOSA