Cuba : A última esperança
Os cubanos se encontram completamente desorganizados e impotentes para lutar por sua liberdade. A única possibilidade de mudança do regime vem da pressão de fora para dentro. Está no desejo da comunidade internacional, mas parece que existe um esgotamento, um cansaço de se ameaçar o regime cubano, ou de se fornecer recursos europeus em investimentos para Cuba, e nada acontecer de bom. Os líderes internacionais resolveram esquecer o problema. A fortaleza parece inexpugnável. A única novidade são as medidas tomadas por Obama, muito discutíveis, pois podem até dar mais fôlego para Raúl. No entanto, existe algo de fundamental importância, absolutamente inexorável, que pode mudar todo o quadro: a morte de Fidel.
Quando ele se for, levará consigo o que resta do fabuloso charme e romantismo da revolução cubana. Os nomes Che Guevara, Camilo Cienfuegos, Sierra Maestra, a beleza da tomada da cidade de Santa Clara, a figura dos barbudos de uniforme verde, que se tornou cult, tudo isso será esquecido. Cuba se transformará numa ditadura feito outra qualquer. Certamente, até o turismo, que hoje representa a maior fonte de receita da ilha, fundamental para sua sobrevivência, deverá diminuir.
Quando Fidel concluiu seu discurso na ONU, muitos anos atrás, e desceu os degraus da tribuna, o então presidente Fernando Henrique Cardoso se levantou, caminhou em sua direção, apertou sua mão e deu-lhe um abraço daqueles especiais, de quando se encontra um amigo que não se vê há muito tempo. Conversou ao pé do ouvido, mostrou uma intimidade que nunca teve, e havia felicidade em seu rosto. Com esse comportamento, Fernando Henrique mandou às favas o fato de ser um chefe de Estado contrário à ditadura cubana, e simplesmente aproveitou aquela oportunidade para abraçar o seu ídolo de décadas passadas, o mitológico líder, a figura mágica do guerrilheiro, o homem que comoveu a América Latina, e todo o mundo. De fato, quando Fernando Henrique abraçou Fidel, estava abraçando sua própria juventude.
É possível imaginar se, ao invés de Fidel, o orador fosse Raúl. Quando esse descesse da tribuna, provavelmente FH se viraria de lado, conversando com algum dos seus assessores, temeroso do risco de precisar apertar a mão estendida do irmão inexpressivo.
A comunidade internacional vai se comportar da mesma forma. Morrendo Fidel, o coro a favor de uma imediata mudança de regime deverá ficar atordoante. Cairão inibições de velhos formadores de opinião, de escritores, entre os quais Gabriel Garcia Marques é o melhor exemplo. Raúl ficará desamparado. Se não for promovida uma radical abertura econômica e política, o atual governo terá poucas chances. Não vai se repetir o milagre que ocorreu quando da queda da URSS.
Alguns homens incorporam sua imagem à de seu país. Fidel está nessa seleta lista.