Floridita
Eu estava caminhando pela calle Obispo, em Havana, quando vi um casal, muito jovem, saindo de um bar. O tipo de pessoas ótimas para certas informações. Os dois ficaram encantados por estarem conhecendo um turista, e se grudaram em mim. O rapaz insistia em que não queria me vender nada, que não ia me propor nada, gostaria apenas de ser meu amigo. Para ter certeza que não fugiria, me convidou para jantar. Bem, eu fiquei curioso, e resolvi ir em frente. Entramos em um restaurante onde só havia cubanos, e ele dizendo que pagaria, que era uma honra, tudo no maior entusiasmo e ingenuidade. Queriam muita conversa, queriam informações sobre o mundo lá fora, para depois, orgulhosos, sairem contando que haviam jantado com um amigo brasileiro. Enquanto comíamos, os dois faziam planos para a nossa amizade. Quando Roberto pediu a conta, o garçom a entregou para mim, deixando que ele ficasse com a mão estendida. A despesa veio em convertibles, a moeda exclusiva de turistas. Uma enorme surpresa, um enorme constrangimento. Eles conheciam o lugar, e sabiam que deveria ser em pesos. O rapaz tentou se impor, mas foi tratado com desprezo, com palavras humilhantes. Passei uma descompostura no garçon por falar com um compatriota daquela maneira, e o pobre diabo não deu um pio porque todos morrem de medo da polícia. Eu mesmo paguei, para vergonha do casalzinho. O interessante é que aconteceu o que eles queriam. Ficamos muito amigos. O episódio nos uniu.
Voltei mais duas vezes a Cuba e sempre saíamos juntos. Levei-os a lugares onde nunca poderiam entrar sozinhos. Alugava carros e passeávamos horas e horas, e as descobertas eram tanto para mim quanto para eles. Uma vez fomos ao Floridita, famoso bar onde Hemingway tomava seus daiquiris. Um lugar espetacular pelo imenso charme, indispensável para quem vai a Cuba. Logo na porta precisei dar uma olhada de alto a baixo nos seguranças, daquele tipo de “não se metam comigo”. Lá dentro, Roberto e Bárbara, ficaram boquiabertos. Tomaram quatro daiquiris, comeram batatinhas fritas, ouviram a melhor música cubana, e arregalaram os olhos com o tamanho da conta. E assim foi. Tornei-me um pai para os dois. Naqueles tempos, antes da reforma do Raul, eles me esperavam na rua, não podiam entrar no lobby do hotel. Mas, não fiquem imaginando que andavam mal vestidos, e que no Brasil seria a mesma coisa. Os dois sempre muito bem arrumados, acima da média cubana.
Bárbara fez uma operação. Abaixo está o e-mail que ela me enviou. É um documento que serve de referência para a dificuldade de se conseguir remédio em Cuba. Até uma aspirina é cara. E eles são privilegiados, porque Roberto trabalha por conta própria, é carpinteiro, está naquele pequeno percentual de pequenos empresários . Paga uma alta taxa mensal ao governo por esse privilégio e, apesar de todas as dificuldades e proibições, já tem quase mil dólares guardados .
Eis o e-mail:
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