Honduras: o acordo para pôr fim a todos os acordos
Já não causa espanto a imprensa inverter o que aconteceu em Honduras. A Veja escreveu, louvando os Estados Unidos: “Em apenas dois dias diplomatas americanos puseram um fim à crise”. O que? A crise foi criada por eles, a crise foi criada quando o Depto. de Estado Americano achou que Zelaya havia sido deposto por um golpe dado pelos militares hondurenhos. A partir desse momento, quando os Estados Unidos condenaram “o golpe”, todo o mundo se voltou contra a pobre Honduras, que lutava para não se transformar em uma outra Venezuela. A imposição de sanções pela Eurábia, os ataques virulentos da OEA, Lula e sua intervenção de ópera bufa, tudo isso é culpa do Obambi. Os Estados Unidos, e o resto do mundo, pressionaram Honduras durante quatro longos meses. Cortaram todo o dinheiro, toda a ajuda que se dirigia ao pequeno país. O surpreendente, o milagre, é que a economia e os poderes constitucionais hondurenhos, tenham conseguido sobreviver. E chamou a atenção o comportamento de Obambi, forte com os fracos, e fraco com os fortes. A maneira como atacou a inofensiva Honduras, em comparação com o Iran, a Síria, Coréia do Norte e outros países delinqüentes que ele trata com luva de pelica.
O Estadão entrou pelo mesmo caminho, usando uma linguagem triunfalista: “A cavalaria americana chega e resolve a questão”… “Obama foi o grande vencedor e o sucesso diplomático deve reverberar nos EUA, enfraquecendo a oposição republicana a indicados para equipe de América Latina”. Nossa, o homem é mesmo o ídolo da imprensa. Malditos sabotadores republicanos! O galinha morta errou tudo, mas… é “o grande vencedor”. Recusar os embaixadores indicados por Obambi foi a forma encontrada pela oposição americana para pressionar o governo, tentando fazer com que parasse de atormentar Honduras e deixasse que o processo legal seguisse seu curso, com as eleições marcadas para o fim desse mês.
Nessa história um nome vai ficar gravado para a posteridade: Micheletti. Um verdadeiro herói. Inteligente,corajoso, pertinaz, habilidoso, conseguiu evitar que um cúmplice de Chavez se tornasse ditador em seu país. O homem certo para um momento dramático. Salvou Honduras.
Se quando depuseram o canastrão o tivessem mantido preso, talvez não houvesse crise. Ter sido colocado em um avião e expulso do país é que foi um erro, do ponto de vista legal. O único erro. Mas o detalhe de haver viajado de pijamas é que ultrajou a comunidade internacional. Foi surrealista como esse pijama pesou contra os poderes constitucionais de Honduras. O grande Vargas Llosa ficou possesso. Imagina, o homem foi acordado de madrugada e jogado de pijamas no avião! Se estivesse de smoking talvez nós nem soubéssemos que Honduras havia trocado de presidente. Os pijamas mais famosos do mundo.
Faz muita falta uma bola de cristal. Todos tiveram medo da enorme agitação que Zelaya poderia fazer na cadeia, comprometendo a paz e as eleições em Honduras. Por isso ele foi despachado para Costa Rica. Ninguém poderia imaginar que os Estados Unidos interviessem de uma maneira tão estúpida: ou a volta de Zelaya para a presidência, ou relações cortadas e sanções brutais ao indefeso país. Ah, os juízes e os congressistas hondurenhos não conheciam o super Obambi, o mais esquerdista de todos os presidentes americanos, em todos os tempos. Para que eles entendam o que se passou, ( porque devem estar atônitos até agora), basta assistir a qualquer vídeo do pastor Jeremiah Wright, o mentor de Obama por vinte anos. Vinte anos, não são vinte dias. Wright grita em seus sermões ‘Deus amaldiçoe a América!”, e seu momento mais famoso foi quando afirmou que “a AIDS foi inoculada nos negros através de um plano do governo branco americano”. Ele também acredita que o ataque às torres foi obra dos racistas brancos. Wright casou Obama com Michelle, batizou suas duas filhas, e um dos seus sermões ” The Audacity of Hope” é o título do segundo livro de Obama. O rompimento entre os dois se deu no início das primárias da campanha eleitoral para presidente, em março de 2008, isto é, ontem. E quando perguntado sobre a “briga”, Wright ainda zombou dele, dizendo que Obama estava fazendo “política”, e que não acreditava que houvesse modificado seu modo de pensar. Eu assisti pela CNN. Chocante é a palavra. De fato, ou enganava o pastor, ou enganava o povo americano. Naquele dia todos apostaram que Hillary seria a escolhida pelo partido Democrata. Inacreditável que Obama tenha conseguido dar a volta por cima. Eu também assisti ao seu discurso de resposta ao ex- mentor. Que ator formidavel!
Voltando para Honduras. A situação é a seguinte: Parece que os deputados ficaram com a incumbência de decidir se Zelaya assume a presidência em governo de conciliação nacional, cujo prazo de duração seria até a data da posse do novo presidente, em janeiro. As eleições vão se realizar no dia 29 de novembro. Essa seria a concessão feita pelo bravo Michelleti . O perigo é que Zelaya, nesses poucos dias de mandato, consiga agitar o suficiente para melar as eleições, ou então fazer com que um dos seus candidatos (são dois) seja vencedor. As últimas notícias dizem que os deputados chegaram à conclusão de que os termos do acordo não indicam uma data limite para que se decidam, e estão deixando o tempo passar, estão fazendo cera. Alguns alegam que a decisão cabe à Suprema Corte. Ninguém se entende. Manifestantes pró Zelaya, em frente ao prédio do parlamento, ficam gritando o refrão de Cuba, o famoso “Patria o Muerte”, e quando descobrem jornalistas brasileiros mudam para “Viva Lula, Viva Chavez”. Afinal, o tal acordo imposto pelos Estados Unidos está se revelando uma completa bobagem. A principal razão é que Hillary- que nunca concordou inteiramente com a posição de Obama- está um pouquinho mais influente, e se recusa a continuar dando força para Zelaya. Os Estados Unidos estão caindo fora. E os nossos impávidos jornalistas não percebem nada do que está acontecendo, preocupados em rasgar elogios ao menino prodígio. Estão sendo cômicos no papel de mais realistas do que o rei. E o Itamaraty anda espalhando que, se Zelaya não voltar ao poder, Honduras que se cuide, porque nós vamos fazer e acontecer. Puxa vida, que medo. Agora imaginem se os hondurenhos, que estão tentando sair desse pesadelo, que envolve principalmente os dois gigantes, Estados Unidos e Europa, vão ficar preocupados conosco, os emergentes metidos a imperialistas. O grotesco episódio da embaixada foi o máximo a que conseguimos chegar, e assim mesmo porque pegamos uma beirada no erro americano. A propósito: Em Honduras as pessoas civilizadas devem nos detestar.
Dentro da embaixada brasileira o bufão está furioso. Ameaçou queimar os pijamas (que já foram declarados Patrimônio da Humanidade) caso não seja imediatamente reconduzido à presidência. Nesse acordo colocaram uma cláusula muito interessante: Não existe anistia para ele por haver quebrado a lei constitucional hondurenha. Isso significa que no momento em que deixar de ser presidente perde suas imunidades, o que nos leva a pensar que sempre existe a possibilidade dos militares levarem Zelaya para ver o sol nascer quadrado, se Deus quiser.