Mais um ato de masoquismo: Comentando um artigo do New York Times sobre o problema Irã – Israel-EUA

Artigo do famoso Roger Cohen  ( os comentários do blog seguem em azul, no texto)

Um embaixador israelense perguntou recentemente a um embaixador americano que
trabalha na Europa o que seria possível fazer para melhorar as péssimas relações
entre o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e o presidente Barack Obama. Ele
respondeu: “Digam obrigado de vez em quando”. Uma frase de efeito muito boba

O embaixador americano sugeriu ainda: “De vez em quando, perguntem ao
presidente se há algo que vocês possam fazer por ele. Isso está implícito em todas as discussões sobre o problema iraniano. O primeiro ministro israelense não é um estúpido. E, acima de tudo, não se
intrometam em nossa estratégia eleitoral”. Bem, Obama é um péssimo presidente em relação à Israel, um amador tentando entender o antiquíssimo problema entre Israel e seus vizinhos árabes. De fato, ele tinha 6 anos de idade quando aconteceu a famosa, fundamental, Guerra dos Seis Dias. Até hoje nenhum presidente americano deixou de viver intensamente esse conflito, que modificou de maneira radical o panorama no Oriente Médio e tornou-se a base para toda discussão a respeito das fronteiras israelenses.  Obama “ouviu dizer”. Para os israelenses não interessa sua reeleição. Muito melhor um Republicano, principalmente Mitt Rommey que disse : ” Se Obama for reeleito o Iran terá a bomba atômica – se eu for eleito não terá.” Desde priscas eras que países intrometem-se na politica interna uns dos outros procurando melhorar sua própria posição. A observação é ingênua, espantosa, partindo de um embaixador. O Brasil intrometeu-se em Honduras, Chavez em todos os lugares possiveis dentro da A. Latina, os EUA armaram os talebans contra os russos e assim por diante.

A resposta seca reflete a fúria de Obama provocada por uma série de coisas: o
fato de Netanyahu passar por cima dele ao dirigir-se ao Congresso controlado
pelos republicanos, onde é extremamente mimado;  Ingenuidade do articulista. Netanyahu está tratando dos altos interesses de Israel, de fato, da própria sobrevivência de Israel e procurar o Congresso é um caminho óbvio para melhorar a posição do seu país dentro dos Estados Unidos. A expressão “mimado” é tola, mesmo levando-se em contra problemas de tradução.,a ingratidão do premiê
israelense pelo extraordinário apoio americano – até mesmo com o veto de uma
resolução contrária aos assentamentos na ONU, no ano passado, e à aspiração
palestina a um Estado próprio -;  Outra tolice. O premier poderia ser grato por uma surpresa: a Rússia ficar do lado israelense, ou a China, ou algo realmente inesperado. Netanyahu sabe que o apoio americano à Israel vai muito além do que pensa a atual administração americana. Ele sabe que o veto foi exercitado porque  Obama sente-se ameaçado em sua reeleição por causa da opinião pública historicamente favoravel à Israel, pela pressão do lobby judaico e assim por diante  ; * e as táticas de Netanyahu que refletem sua
convicção de que Obama terá um único mandato; isso é pura especulação do articulista, as pesquisas de opinião ainda colocam Obama na frente por uma pequena diferença,  e a recusa em suspender pela
segunda vez a construção de assentamentos para o bom andamento das negociações
de paz. Israel está sendo governado por um governo direitista, que sabe que quanto mais trunfos tiver em mãos mais facil será uma negociação que lhe seja favoravel. Assentamentos em certos lugares podem modificar inteiramente a posição palestina PARA PIOR, e Netanyahu não perde tempo com o que o mundo considera justo ou não. Sabe que o sentimento anti-semita está espalhado por todo o planeta, e não está muito disposto a ficar com medo e se encolher, enquanto pode conquistar mais espaço físico. O medo é o trauma israelense, como o blog já disse várias vezes. Querem ficar longe dele. Preferem o risco de uma atitude temerária ao risco de serem novamente covardes. Esse é o vetor principal de toda a política israelense em um governo que não seja de esquerda.

Gostaria de acrescentar mais um conselho a Netanyahu, se é que ele está
preocupado com seu relacionamento conflituoso com Obama – e deveria estar, pois
os israelenses têm consciência da importância dos Estados Unidos e talvez não
estejam inclinados a reeleger um homem que envenenou as relações com Washington. O articulista não sabe de nada. Sempre houve, por baixo dos panos, um imenso conflito entre Israel e os Estados Unidos. O veneno não vem de agora. O governo americano sempre inibiu as intenções guerreiras de Israel. Para citar apenas dois exemplos: Quando Israel, França e Inglaterra tomaram o canal de Suez, que havia sido nacionalizado por Nasser em 1956, os USA ORDENARAM que as três potências se retirassem imediatamente, o que foi feito na hora. Quando Israel foi atacado pelos árabes em 1973, Nixon ordenou que Israel não exterminasse o Primeiro Exército Egípcio, já completamente cercado, porque a humilhação prejudicaria futuros planos de paz. Kissinger deu o recado em tons duros para a premier israelense Golda Meier e ficou marcado para sempre como um judeu não judeu. São muitos os exemplos. Gostaria de me fixar apenas no seguinte: Os EUA nunca vendem armamentos para Israel sem antes medirem se o país vai ficar poderoso demais diante de seus vizinhos. Só isso basta.
O meu conselho é: não ataque o Irã este ano. Nossa, mas que arrogância! Netanyahu nem deve ter dormido direito. Se o conselho fosse de Kissinger tenho certeza de que ele o analisaria cuidadosamente. Aliás, acredito que o primeiro-ministro provavelmente se aconselha secretamente com o antigo e excepcional Chefe do Departamento de Estado ( que acaba de publicar um monumental livro sobre a China).

Netanyahu sente-se tentado a bombardear o Irã nos próximos meses para
frustrar o impenetrável programa nuclear desse país e – apesar do apelo de
Obama, na quinta-feira, e das mensagens do secretário da Defesa americano, Leon
Panetta – não garantiu aos Estados Unidos que não o fará. Claro! Ele jamais poderia dizer o contrário, da mesma forma que Israel nunca disse se tem, ou não, a bomba atômica! Isso me lembra um debate entre o presidente Ford e o candidado Jimmy Carter. O mediador fez uma pergunta que logo foi respondida depressinha pelo pateta Carter. Ford disse simplesmente: ” Eu não posso responder. Sou o presidente dos Estados Unidos e minha posição nesse assunto não pode ser revelada”.

Vários fatores, iranianos e americanos, impelem Netanyahu a agir rapidamente.

Em primeiro lugar, a convicção de Israel de que o Irã está perto de um ponto
irreversível em sua busca de vários elementos – do enriquecimento de urânio aos
mecanismos necessários para a construção de uma ogiva nuclear. O que
intensificou estas preocupações foi o início do enriquecimento nas instalações
subterrâneas de Fordo, nas proximidades da cidade de Qom, assim como o tom
belicoso do Irã em resposta à ameaça de sanções contra seu setor petrolífero.

Em segundo lugar, o cálculo político dos EUA. Um ataque israelense poucos
meses antes das eleições americanas, em novembro, seria desastroso para Obama.
Ele não teria condições de expressar sua revolta, considerando a influência do
lobby pró-Israel, o importante voto dos judeus na Flórida e o apoio
extraordinário que um bombardeio israelense receberia do adversário republicano
– provavelmente Mitt Romney.

Por outro lado, se Obama conseguisse um segundo mandato, teria a
possibilidade de assinalar seu desagrado se Israel resolvesse agir por conta
própria. *Como aumenta a convicção de que Obama deverá ganhar, estas
considerações têm muito peso em Jerusalém. O autor está se contradizendo brutalmente. Lá em cima ele escreveu : “e as táticas de Netanyahu que refletem sua convicção de que Obama terá um único mandato” (Coloquei em letras vermelhas)

Drama. Netanyahu já se definiu como o homem que está entre o Irã e a bomba.
Politicamente um falcão, ele tem um pendor pelo dramático. Nestas questões,
Israel já agiu por conta própria uma vez, quando bombardeou uma instalação
nuclear na Síria, em 2007.

A esta altura, os detonadores americano e israelense parecem distintos.
Panetta afirma que “a posição definitiva dos EUA em relação ao Irã é: não
desenvolva a arma nuclear”. Enquanto isso, os israelenses consideram inaceitável
a irreversibilidade da capacidade nuclear, mesmo que a arma não esteja sendo
construída. Os israelenses sabem , como de resto todo o mundo, que a arma ESTÁ SENDO CONSTRUÍDA. Em que planeta vive o articulista ? O perigo se oculta nesta discrepância.

Não vá para lá, Netanyahu. Seria um erro terrível. Escolher entre os Estados
Unidos e o Irã é uma idiotice. O primeiro é uma grande potência e um amigo
fundamental. O outro é uma sociedade violenta, inflamável, que trabalha num
programa nuclear há dezenas de anos e cujo aliado regional mais próximo, a
Síria, está na beira do abismo. Nossa, outra vez, em tom paternal, o autor está aconselhando o primeiro-ministro israelense, sem conhecer nem um centésimo das informações que este possui, vindas do Mossad e da CIA. Está explicando para ele que” o Iran é uma sociedade violenta,inflamavel, que trabalha num programa nuclear há dezenas de anos e cujo aliado regional mais próximo, a Síria, está na beira do abismo”. Puxa, ninguém nunca havia pensado nisso! É inacreditavel. Esse artigo está correndo o mundo, inclusive foi comprado pelo Estadão. Acabei de voltar do Iran e da Síria e devo saber mais sobre o que está acontecendo nesses dois países do que o formidavel articulista. Vou reclamar no jornal! 

O sonho de Israel é que os EUA se encarreguem do ataque, mesmo que seja um
ataque conjunto – uma das razões pelas quais Israel rejeita esclarecer suas
intenções. Mas que novidade! Claro que Israel deseja um ataque conjunto. Quanto à esclarecer suas intenções já expliquei lá atrás. Israel não vai explicar nada além do que ja fez. Resta saber se consegue atacar sozinho, como antigamente, mas essa sim, é uma incógnita, já que as usinas atômicas podem estar protegidas além da tecnologia israelense. Não havendo uma provocação exorbitante do Irã, como o bloqueio do
Estreito de Ormuz, isso não ocorrerá antes de novembro. O profeta!

Em um ano eleitoral, e o fato de o serviço de inteligência americano estar
convencido de que o Irã ainda não está construindo a bomba, Obama não permitirá
que os preços do petróleo cheguem às alturas e o mundo muçulmano dê início a um
novo surto de revolta contra os EUA. Em grande parte, sua presidência tem se
dedicado precisamente em sair da guerra e abrandar a hostilidade israelense.

Netanyahu afirmou no fim de semana que, “pela primeira vez”, via certa
hesitação no Irã em consequência das sanções. Mas também pediu “uma clara
afirmação” de que os EUA “recorrerão às armas”, caso as sanções fracassem.
Enquanto isso, seu vice-primeiro-ministro resmungava que as sanções americanas
foram decepcionantes.

Agora um monte de asneiras sinistras, um cenário terrivel, que não vou comentar porque já estou cansado de tanta mediocridade: Os fatos são os seguintes: um ataque de Israel uniria o Irã. Desencadeando
sua fúria, isolaria a república islâmica por uma geração, consolidaria o regime
sírio, radicalizaria o mundo árabe em um momento de delicada transição, atiçaria
o Hezbollah na fronteira do Líbano, encorajaria o Hamas, colocaria em perigo as
forças americanas na região, espalharia o terrorismo, levaria os preços do
petróleo às alturas, provavelmente desencadearia uma guerra regional, ofereceria
uma tábua de salvação para o Irã no momento em que a Europa estaria decidida a
parar de comprar o seu petróleo, acrescentaria um persa à vendetta árabe contra
Israel, e, na melhor das hipóteses, só conseguiria atrasar as ambições nucleares
iraniana em apenas um par de anos.

Parecem perspectivas promissoras? Dentro em breve, o general Martin Dempsey,
comandante do Estado-Maior Conjunto dos EUA, visitará Israel. Será bom que
Netanyahu ouça, tire o dedo do gatilho iraniano, e entenda que o destino de
Israel depende mais de Ramallah do que de Teerã. / TRADUÇÃO DE ANNA
CAPOVILLA  Deus me livre, o que somos obrigados a aguentar, nós os que obrigatóriamente precisam ler jornal

 

18 janeiro, 2012 às 21:53

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Categoria: Artigos

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