Não toque nos meus genitais! (genialissimo artigo de Charles Krauthammer) – comentário do blog sobre a segurança no hotel Al Rasheed em Bagdá, charges

NÃO TOQUE NOS MEUS GENITAIS !!


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Charles Krauthammer

Ah, o aeroporto, onde modernos heróis populares são produzidos. O aeroporto, onde aquele inspirado comissário de vôo fez o que cada um de nós, que sempre esteve no aperto de uma lata de sardinha que é um tubo de alumínio – onde coletivamente fingimos que um punhado de amendoins é uma refeição e uma almofada de assento é um “instrumento para flutuar” – sempre sonhou em fazer: puxar a alavanca, empurrar a porta, inflar a rampa de emergência, pegar uma cerveja, deslizar para a pista de decolagem e passar  pelos portões para a sanidade que está do outro lado. Nunca um passeio pela pista de asfalto foi tão excitante desde que Rick e Louis desapareceram na névoa de Casablanca em direção ao posto militar francês em Brazzaville.

A história

Quem se importa com o louco comissário de bordo que foi preso, declarado culpado de varias  acusações e, provavelmente, foi um insolente e desagradável  ‘FDP’, só para começar? Bonnie e Clyde eram psicopatas, mas qual criança dos anos sessenta não se apaixonou por Faye Dunaway e Warren Beatty? E agora, três meses depois, surge o mais novo herói dos aeroportos. Seu talento não foi lá uma inovação em cair fora, mas em desconstruir todo o processo de chegada. John Tyner  habilmente se armou com um iPhone para dar imortalidade ao encontro através do YouTube, se opôs a dar ao guarda da Administração de Segurança do Transporte o benefício da mais nova lavagem cerebral da Segurança da Pátria – a aprimorada revista manual de todo o corpo, com a palma da mão bem aberta, virilha acima. Num golpe súbito, o jovem homem se tornou um mito, ou no mínimo, a próxima edição do Bartlett’s*, avisando ao agente para “não tocar nos meus genitais”. Não foi exatamente a elegância de “Não pise em mim” do século dezoito, mas a era do Twitter tem uma cadencia diferente da era do mosquete. O que falta de charme arcaico ao moderno grito de batalha, compensa em um silábico ímpeto de corpo inteiro.

*Obra de referência de citações, primeiramente publicada em 1855 por John Bartlett.(N. do T.)

Não toque nos meus genitais é o hino do homem moderno, o patriota do Tea Party, o libertário da vida tardia, o votante das eleições de meio-termo. Não toque nos meus genitais, Obamacare – saia do consultório do meu doutor, estou usando uma camisola fina de papel e toda aberta atrás. Não toque nos meus genitais, Google – o Street View é legal, mas caia fora da minha rua; não toque nos meus genitais, você aí seu valentão da segurança do aeroporto – meu pacote não pertence a ninguém senão a mim, e você pensa mesmo que eu sou um biscateiro nigeriano maluco preparando-me para a minha orgia com 72 virgens no mundo do além, quando eu explodir minha fralda? Em “Amor sem escalas”, aquela irônica tomada sobre o limitado frenesi da vida de aeroporto, George Clooney explica porque ele sempre segue asiáticos na fila de segurança:

“Eles têm pouca bagagem, viajam de forma eficiente, e adoram sapatos mocassim. Deus ama eles.

“Isto é racismo!”

“Sou como minha mãe. Eu crio estereótipos. É mais rápido”

Este refrão agrada as multidões porque todo mundo sabe que o aparato inteiro da fila da segurança é uma homenagem nacional ao politicamente correto. Em nenhum lugar as pessoas aquiescem tão docilmente à mais inútil inconveniência e indignidade desnecessária por um objetivo menor. Mirrados idosos se contorcem para desamarrar seus sapatos; vendedores sem cinto lutam comicamente para segurar suas calças; crianças de três anos gritam enquanto são revistadas insanamente na busca por explosivos – quando todo mundo, todo mundo sabe que nenhuma dessas pessoas é uma ameaça a ninguém.

A última idiotice é a revista corporal completa do piloto com o scanner. O piloto não precisa de uma bomba ou um canivete para derrubar um avião. Tudo que ele tem que fazer é  jogar o avião na água, como o piloto da EgyptAir que  derrubou seu avião perto da ilha de Nantucket enquanto entoava “Eu confio em Deus”, matando todos a bordo. Mas não devemos falar disso. Fingimos que passamos por esse contra-senso como um preço baixo a ser pago para garantir a segurança da viagem aérea. Tudo besteira. Isso não tem nada a ver com segurança – 95% dessas inspeções, buscas, remoção de sapatos e revista manual são ridiculamente desnecessárias. A única razão pela qual continuamos a fazer isso é porque as pessoas estão muito atemorizadas para questionar o absurdo do tabu de se traçar um perfil – quando o perfil do agressor da linha aérea é minucioso, concreto, definido de forma única e universalmente conhecido. nota do blog: Reparem que mesmo Krauthammer, articulista respeitadíssimo nos USA ( escreve para o Washington Post), não tem coragem de dizer que o agressor é MUÇULMANO. Claro, fica com medo de algum processo, de alguma coisa que o políticamente correto possa armar contra ele. Insinua, chega perto, mas não especifica. Ann Coulter é mais corajosa.

Então, em vez de caçar terroristas, estamos caçando tubos com gel em bolsas de carrinhos de bebê.

A revolta do homem da genitália marca até que ponto um público dócil declara que não tolerará tanta idiotice. Detector de metais? Revista manual com o dorso da mão? Ok. Vamos engolir em seco e fingir que os agressores de linhas aéreas estão distribuídos ao acaso na população. Mas agora você insiste em um scanner para revista corporal completa, uma razoavelmente acurada representação de minha imagem nua para ser vista por uma pessoa totalmente desconhecida? Ou, alternativamente, uma revista manual do corpo todo que, como o homem dos genitais corretamente apontou, seria uma agressão/violação sexual se executada por qualquer um? Dessa vez você foi longe demais, Big Brother. O gigante adormecido acorda. Peguem meus sapatos, tirem meu cinto, desperdicem o meu tempo e abusem da minha paciência. Mas não toquem nos meus genitais.

nota do blog: Este é um artigo muito inspirado, tanto no conteúdo quanto na redação. Um dos melhores de Charles Krauthammer nos últimos tempos. Realmente, ninguém aguenta mais tanta idiotice na revista dos aeroportos. Quando eu voltei do Iraque fiquei impressionado com o procedimento em Guarulhos. Proporcionalmente eram feitas mais exigências do que num país em guerra. Proporcionalmente. Implicaram com meus dois líquidos para lentes de contato (em Bagdad não deram a menor bola).  **. Perdi a paciência, mas foi assim que descobri que a Polícia Federal não trabalha mais na revista, e nem no controle dos passaportes. O serviço foi terceirizado. Então, aquela gente grosseira me dando ordens não tem fé pública. Fingem ser autoridades.

** Estou me referindo somente ao aeroporto, em Bagdad.

O chofer me deixou no meio da rua, em frente aos soldados iraquianos, que já vieram pedindo documentos e com o habitual caminhão de perguntas. Mas e o hotel ? Já chegamos, pode entrar aí, nesse beco. Eu tinha que passar por oito diferentes grupos de soldados, de diferentes países, todos mal humorados e com medo. A segurança é tamanha que alguns desses grupos observam a sua revista de uma distância de uns 30 metros, com toda a atenção, mas quando você caminha até eles é como se nada tivesse acontecido, e começa tudo de novo, com a maior seriedade. Todos (cada grupo deveria ter uns 10 soldados) estão de olho nos seus movimentos, nada de distração, não conversam entre eles. É incrivel porque acabaram de me ver alí, pertinho. Você fica surpreso, aponta para os que acabaram de me revistar, mas eles não querem saber, não confiam nos outros soldados, você preparou algum truque em 30 metros, é um estranho perigoso. Em cada novo posto de controle os soldados estão protegidos contra uma explosão no posto anterior. Quando cheguei nos peruanos não me deixaram ficar na sala enquanto vasculhavam as malas. Um deles me escoltou para fora, ficou ostensivamente na minha frente, fuzil na mão, e uma parede não deixava eu ver o que faziam. Eu tinha 5 mil dólares numa bolsa e havia me esquecido de mostrá-los antes que me pedissem para sair. Passei uns 5, ou 10 minutos de tensão, achando que seria roubado. Tentei dar um passo a frente, dizer alguma coisa, mas o soldado me impediu, barrando o caminho com o rifle. Foi assim que eu arrastei as malas e carreguei as câmeras durante uns 300 metros cheios de problemas nos pisos de terra e concreto. Quando alcancei a recepção do hotel só pensava em tomar água e me sentar no sofá. Tudo muito impressionante, mas compreensivel, porque se os insurgentes explodem o hotel é a desmoralização total, semelhante aos vietcongues tomando a embaixada americana no Vietnam, em 1968.  Fiquei sabendo que a ordem para a maratona de revista tinha vindo diretamente do general Petraeus. Bobo ele não é. 

As saídas são desimpedidas, e as novas entradas muito mais rápidas por diversos motivos, entre eles a ausência de malas e o credenciamento.

Tradução: Célia Savietto Barbosa

27 novembro, 2010 às 17:02

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Categoria: Artigos

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