Norman Mailer e eu – O Dalai Lama entrega os pontos

Ficou famosa a foto da moça colocando a flor no cano do fuzil. A tropa defendia o Pentágono contra a arrogância dinâmica dos hippies.

Em 1969 li “The Armies of the Night” (Os Degraus do Pentágono) do Norman Mailer.Ele recebeu o seu segundo Pulitzer*.Trata-se de mais um livro irresponsavel, libertino, propagandista do totalitarismo, vindo justamente de uma pessoa que o criticava. Nessa época Mailer havia esfaqueado sua quarta esposa. Eu ainda era de esquerda e, trotando junto com a boiada, achei o fato interessantíssimo. Ele fez um poema: “Enquanto houver uma faca ainda haverá amor”. Puxa vida, que coisa  mais charmosa esfaquear a mulher e depois colocar em versos. No livro ele conta a famosa marcha de dezenas de milhares de jovens e um grupo de intelectuais contra o centro do poder militar americano. Excelente o momento em que Mailer reproduz o pedido que os hippies fizeram para tirar o edifício do chão, faze-lo levitar através da meditação, através do OHMMMMM, o mantra hindu. Mandaram uma carta para o  Diretor do Pentágono. Esse respondeu que permitia, desde que não levantassem o prédio mais de 1 metro de altura. Em outro livro, do começo dos anos sessenta, “Cartas Abertas ao Presidente”, ele, se dirigindo a Kennedy, o compara a Fidel: ” Jamais compreendereis que esse homem é o País, revolucionário, tirano, brilhante, extraordinário, histérico, violento, apaixonado, bravo como o melhor dos animais, condenado talvez a terminar em tragédia, mas uma das grandes figuras do século XX, na atualidade uma figura muito maior do que a vossa”. Que coisa. E eu lá, batendo palmas feito uma macaca de auditório. Norman Mailer foi um dos maiores liberais na história literária e política dos Estados Unidos. Tentou ser candidato a candidato a prefeito de Nova Yorque. Perdeu.

*( Mais tarde receberia o terceiro com “A Canção do Carrasco”, sendo que o primeiro foi com “Os Nús e os Mortos”, quando ele tinha apenas 25 anos de idade)

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Dificil compreender a estratégia do Dalai-Lama quando ele disse que chegou a hora de escolher alguém mais jovem para continuar a luta contra a China. Grande alegria para os chinos. Eles vão deitar e rolar, porque não existe outro Buda. No Templo Budista em Pequim é chocante, patético, e principalmente revoltante, ver através de fotos o Dalai-Lama que os comunistas  arrumaram, a fraude que eles impuseram aos tibetanos. Por outro lado, ao contrário dos yugures, os tibetanos tendem a desaparecer, porque a China está despejando chinêses no Tibet todos os dias. Talvez o Buda pudesse tentar um confronto aberto, aproveitando que os líderes mundiais começam a mostrar alguma fadiga com respeito à China. Todos já estão de saco cheio com respeito aos comunas chinêses porque está bem claro que não adianta paparicar porque eles terminam fazendo o que melhor lhes convem, sem dar satisfações para ninguém. O Dalai Lama deveria tentar radicalizar antes de ir embora. Seria mais honroso, e  afinal, o que ele tem a perder ? No mínimo daria uma canseira nos malditos dirigentes chinos. Já que todos os jovens (sempre eles) voltaram a protestar em vários países, porque não tentar comovê-los para a causa tibetana? Acabar com os tibetanos é um dos maiores estragos que a China está fazendo no mundo, entre tantos outros.

Parece que infelizmente é impossivel o Tibet conseguir manter sua intensa, única, misteriosa espiritualidade. Talvez a não violência extrema do Dalai-Lama, e agora a sua desistência em continuar a luta, sejam a pá de cal nas aspirações do seu povo em escapar de uma vida horrivel, ridícula, vexatória. Pobres tibetanos. Quando a China se democratizar, não haverá mais o que preservar pois tudo estará perdido. A crença tibetana, é um patrimônio importante da humanidade. A complexidade da sua religião não é para se perder dessa maneira, com o nosso conformismo e plena aceitação de que ela se torne uma simples referência histórica. Eu acho que VER um tibetano é uma experiência. Suas roupas coloridas, o sorriso nos rostos que deveriam estar tristes, os panos, colares, pinturas que eles vendem reproduzindo temas estranhos, cheios de significado, pesadelos, paraísos, demônios que atormentam a nossa vida agora e depois da nossa morte. Até Jung ficou impressionado com a complexidade do Livro Tibetano dos Mortos.  Ver os meus artigos: ( clique em cima)    “O Dalai Lama escreve o prólogo do Livro Tibetano do Viver e do Morrer, de Dogyal Rinpoche”; O Dalai Lama aos 33 anos de idade- encontro com Oriana Fallaci“Jung e o Livro Tibetano dos Mortos”. Não deveríamos estar tranquilos enquanto o Tibet desaparece. Em termos de valor para a humanidade ele é tão importante quanto a liberdade para Cuba, ou a democracia para a Líbia,  ou a a paz entre Israel e os palestinos. Sabemos com referência a esses que mais cedo ou mais tarde teremos respostas satisfatórias, mas no Tibet trata-se da extinção de algo além da imaginação, a mais pura metafísica.

Antes da ocupação chinesa, em 1952, era proibido entrar no Tibet. Tudo era rodeado de sonhos, o mistério dos mistérios. Hoje você mal consegue tirar uma foto do magnífico palácio Potala, em Lhasa, por causa de antenas de TV, lojas de quinquilharias, e uma multidão de chinêses com a cara desanimada atrapalhando.

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17 março, 2011 às 09:09

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Categoria: Artigos

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