O artigo de Eliana Cardoso, um modelo da irracionalidade intelectual-liberal; Três artigos do professor Simon Scharwtzman sobre Educação ( Simon’s Site); um vídeo clássico “Some enchanted evening”

Vejam o que Eliana Cardoso – que possui cidadania americana – escreveu no Estadão, quando discorre sobre por quê vai votar em Obama mesmo fazendo duras críticas ao seu governo:  “Para mim, o que houve de mais terrível na atual administração foi a decisão dos assassinatos com drones: o presidente assumiu o poder de julgar sem processo legal e matar quem ele acha que deve morrer. Hoje, por decreto presidencial, conta-se como terrorista qualquer civil afegão em idade de combate morto por estar onde o drone atacou, pois diz o ditado: “Dize-me com quem andas…”. Não é verdade. Seria um absurdo completo. A pressa dos liberais em condenar os Estados Unidos leva a loucuras como esta. Prestem atenção no disparate da frase grifada em vermelho. Não posso chamar Eliana de mentirosa, tal a insanidade da afirmação. Quando morrem civis, os pedidos de desculpas por parte do governo norte-americano são imediatos. É extraordinário que Eliana escreva com tanta irresponsabilidade. Aliás, nenhum governo do mundo (nem os culpados) aceitariam tal acusação, quanto mais o governo dos USA. O que acontece para que uma PhD pelo MIT, a terceira melhor universidade do mundo, possa afirmar uma bobagem deste tamanho? É o fenômeno que teve início no Iluminismo: os intelectuais, os mais escolarizados, abandonaram o raciocínio lógico, a matemática, e inventaram sua própria linguagem onde impera a ideologia do relativismo. Atualmente ( a partir de 1960), fazem parte do time que acha possível resolver os problemas mundiais com PAZ E AMOR.  São apaixonadamente contra todas as guerras, mesmo as guerras justas, embora essa posição seja indefensavel, não resista a mais de um minuto de contra- argumentação. Infelizmente é impossivel levá-los para o debate. Recusam-se a dialogar com “direitistas”, com “fascistas”.

“Deprimente? Sim. E ainda assim voto em Obama. Tenho boas razões. Não posso votar em Mitt Romney e num partido que acredita tanto na guerra como solução para os problemas mundiais  – Não é espantoso ? Uma pessoa desse gabarito raciocina feito uma menina do Jardim da Infância. Toda a história da humanidade, desde a Antiguidade,  mostra que muitas e muitas guerras foram necessárias, foram soluções, e podemos constatar isso em nosso próprio tempo. Exemplos são as duas Guerras Mundiais, Coréia, Balcans, e várias outras. Neste momento temos a ajuda armada aos árabes que tentam se livrar de suas ditaduras.  – quanto na justiça de uma riqueza cada vez mais concentrada na mão dos super-ricos. Os assessores de Romney para a política externa (saídos das fileiras fiéis a Dick Cheney) me causam repugnância e, na área econômica, a ideologia do Partido Republicano forçará seu candidato a adotar políticas regressivas”. Regressivas em relação ao que Obama está fazendo ?  Regressivas em sentido genérico, isto é, políticas atrasadas ? E temos então a referência ao maior demônio da administração Bush: Dick Cheney.  Sabem por quê ?  Ora, Cheney defendeu, e defende, a prática que OBAMA continua empregando, e que herdou de Bush: a tortura em terroristas, o waterboarding. Sabemos que centenas, ou milhares de pessoas foram salvas através de informações obtidas por esse processo. Mas, isso não interessa à articulista. Nem pensar em enfrentar uma discussão a esse respeito. Ela sairia em desabalada carreira, horrorizada com o troglodita que defende essa prática, provavelmente o mesmo que também defende as bombas atômicas jogadas em Hiroshima e Nagasaki.

Eliana também diz : “minha simpatia sempre se dirigiu aos candidatos democratas e como grande número de pessoas compartilho profunda aversão ao movimento populista conhecido como Tea Party”.  Primeiro, o movimento não é populista, sendo o que existe de mais longe da demagogia, do voto facil, do tentar agradar. É dogmático, absolutamente puro, atingindo as raias da inocência política, ou até mesmo do suicídio político. Exatamente o inverso do populismo. Mas Eliana, teleguiada por seus colegas liberais americanos, tem profunda aversão  por ele. Claro, ela gosta é do “Ocupe Wall Street “, gente que não faz idéia do que deseja, muitos vagabundos de rua, muitos drogados, muitos festivos, alguns extremamente violentos, alguns socialistas sem saberem o que seja socialismo, trotskistas sem saberem quem foi Trotsky, alguns que odeiam os ricos e detestam trabalhar, mas todos tem um ponto em comum: querem que o Estado tome conta deles, estão ansiosos por receberem seu cheque sem sair de casa. O welfare state que está acabando com a Eurábia (Europa), o estado-babá, o estado do funcionalismo público, o estado falido.

Mais: Em seguida, (Obama) em vez de atacar o Tea Party (que acredita que a sociedade seria melhor sem governo, exceto pela polícia e as Forças Armadas)…”. Atacar a  troco de que ? Melhor seria Eliana explicar o significado de um governo pequeno, encarregado principalmente da manutenção da lei e ordem, além da segurança contra agressões externas. Pelo visto a articulista gosta do governo grandão, fascista, aquele que vai “resolver” todos os nossos problemas, vai se meter em nossa vida de todas as maneiras. Eliana quer o fim da excepcionalidade americana, que foi construida exatamente a partir da imensa liberdade dos cidadãos frente ao estado.

Eliana Cardoso  :  PH.D. PELO MIT, É PROFESSORA TITULAR DA FGV-SÃO PAULO
SITE: WWW.ELIANACARDOSO.COM .

Os leitores interessados devem clicar em cima do título de meu artigo: Os Liberais, as Ciências Humanas e a Matemática

 

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Van der Mafra: uma interpretação que permite ver com clareza a distinção da voz natural, não impostada, da plenamente utilizada com o recurso da técnica, veja esta interpretação do baixo operístico Tozzi (apesar do nome, era americano, creio, o que você vê pela pronúncia). A primeira parte, é com a voz de um cantor popular. Depois, fica operística. Abraço, Anton Octavius der Cintra. nota do blog O  Grande Antonio Octávio  trocou os vídeos. Neste que está aberto quem canta é o fabuloso Ezio Pinza, e no debaixo (necessário clicar no endereço), canta o Tozzi, a quem ele se refere. Tive o prazer de ver e ouvir em N.Yorque a interpretação do brasileiro Paulo Szot.

http://www.youtube.com/watch?v=cbskoBOHyc8

Profissionais da educação no Brasil:  qualificação profissional (Simon’s Site)

 

Os microdados da amostra do Censo Populacional de 2010 permitem que examinemos mais de perto a situação dos profissionais da educação no Brasil,  o que faremos nesta e nas próximas postagens.

A amostra permite estimar a existência de cerca de 3.5 milhões de pessoas com atividade profissional na área de educação, a maior parte dos quais atuando na educação fundamental. Destas, somente 2.3 milhões, ou 65%, têm formação de nível superior. Em teoria, todos os professores universitários deveriam ter um doutorado ou pelo menos um mestrado; todos os professores de nível médio deveriam ter uma licenciatura em sua área de especialização; e todos os professores de educação básica e da pré-escola deveriam ter pelo menos nível universitário de formação.

Sabemos que o título, em si, não garante que a pessoa vá ser um bom professor ou professora, mas sabemos também que ninguém consegue ensinar o que não sabe, ou lidar com crianças sem estar preparado para isto. Nos cursos superiores, aonde os professores deveriam ter nível de doutorado ou pelo menos mestrado, 36% só têm o título inicial de graduação, e 7% só têm educação média ou menos. No ensino médio, aonde todos os professores deveriam ter uma licenciatura de nível superior, 14% não chegam a esta qualificação. No ensino fundamental, aonde a formação superior também é exigida, 26% só têm formação de nível médio, e 6% nem isto. No ensino pré-escolar 10% dos professores não têm sequer o nível médio, e só a metade têm formação de nível superior.  (a tabela com os dados está disponível aqui).

Se trata, em parte, de uma situação transitória – a pós-graduação brasileira ainda é recente e está se expandindo, e a exigência de nível superior para os professores de educação fundamental também é recente. Mas isto tem levado a uma política de valorização dos diplomas, mais do que de formação efetiva, que em parte explica porque a a área de formação de professores é uma das que tem mais se expandido nos anos recentes na educação superior brasileira. Este processo já avançou bastante no ensino médio, mas falta ainda muito para se completar no ensino fundamental. A situação é particularmente dramática na pré-escola, que tem se expandido muito rapidamente sem qualquer esforço mais significativo de qualificação de professores para este segmento, que hoje se considera de grande importância estratégica pelo impacto da educação inicial no desempenho futuro das crianças, mas que ainda continua sendo considerada, em grande parte, como atividade assistencial, e não efetivamente educacional. E o mais grave é que a simples titulação não garante a melhora da qualidade da educação, sobretudo quando ela ocorre de maneira apressada, em cursos de qualidade muitas vezes duvidosa, realizados frequentemente à distância ou em programas noturnos

Ocupações, educação e renda dos trabalhadores em creches

O censo demográfico de 2010 permite identificar 352 mil pessoas trabalhando em creches, das quais 116 mil são classificadas como professoras de educação pré-escolar,16 mil como professoras do ensino fundamental e 15 mil classificadas como “especialistas em métodos pedagógicos”. Somados,o total de 146 mil é semelhante aos 141 mil encontrados pelo Ministério da Educação no Censo Escolar de 2010, para atender a cerca de 2 milhões de crianças, uma média de 15 crianças por professor.  Além das professoras, existem 90 mil pessoas classificadas como “cuidadoras de crianças”, 30 mil trabalhadoras de limpeza e  20 mil cozinheiras. Do total, 97% são mulheres. Somente 95 mil, menos de 30% , tem nível superior, o que significa que muitas das professoras não o têm. A renda mensal deste grupo de nível superior é significativamente maior do que a dos demais, mas é  bem pequena em relação à remuneração de pessoas de educação superior e professores de outros níveis de ensino. A  renda média do conjunto, de 855 reais, era pouco mais de uma vez e meia o salário mínimo da época, de 51o reais. Estes dados, em conjunto com o dos professores dos diversos níveis, mostrados em postagem anterior, deixam evidente que, no Brasil, quanto mais  jovem  os alunos no sistema escolar, menos qualificados são seus professores e piores salários recebem, contrariando o fato de que uma creche, para ser mais do que um simples depósito de crianças, precisa de professores altamente qualificados e dedicados ao trabalho, e atendendo a um número bastante restrito de alunos, que necessitam de atendimento individual e personalizado.
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Reproduzo abaixo a lúcida análise de Naercio Menezes Filho sobre a meta do Plano Nacional de Educação de gastar 10% do PIB no setor, publicada no Valor Econoômico de 25/12/2012  O autor é  Professor titular – Cátedra IFB e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e  Professor associado da FEA-USP 

Mais gastos com educação?

Naercio Menezes Filho

A Câmara dos Deputados aprovou recentemente o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece, entre outras metas, que os gastos com Educação deverão atingir 10% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2020. O plano vai agora para o Senado e, depois, para a presidência da República. Devemos ficar felizes ou tristes? Será que o problema da Educação no Brasil é mesmo a falta de recursos? Em primeiro lugar, deve ficar claro que o PNE é somente uma carta de intenções. Nada garante que as metas serão efetivamente atingidas. Basta verificar o que aconteceu com as metas do PNE anterior (aprovado em 2000). O plano previa, por exemplo, que 50% das crianças de 0 a 3 anos de idade seriam atendidas em Creches em 2010. Os últimos dados disponíveis mostram que apenas 19% das crianças brasileiras nessa idade estão em Creches. Mas, nada irá acontecer com os municípios que não cumpriram a meta. O mesmo aconteceu com praticamente todas as outras metas do plano anterior.

Vale notar também que, apesar de ser apenas uma carta de intenções, algumas das metas do plano anterior, aprovado pelo Congresso, foram vetadas pelo então presidente, Fernando Henrique Cardoso. Entre elas estava justamente o aumento progressivo dos gastos com Educação para 7% do PIB em 2010. O argumento utilizado foi o de que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) impedia que fossem colocados em lei programas que implicassem novas despesas sem as respectivas indicações das receitas. Como a LRF continua em vigor, espera-se que o Senado ou a presidente Dilma também retirem essa meta do plano.

Uma das saídas seria redistribuir recursos do Ensino superior para o Ensino básico, em especial o infantil Além disso, pelo menos três fatores não foram levados em conta pelos formuladores das metas do PNE: a virada demográfica, a distribuição de recursos entre os níveis de Ensino e a relação entre gastos e qualidade da Educação. Com relação ao primeiro ponto, sabe-se que a taxa de fecundidade está declinando rapidamente no Brasil, tendo passado de seis filhos por mulher em 1970 para apenas 1,8 em 2010, abaixo da taxa de reposição da nossa população. Isso significa que o número de crianças em idade Escolar irá diminuir continuamente nas próximas décadas. As projeções do IBGE indicam, por exemplo, que o número de brasileiros de 5 a 19 anos de idade passará de 50 milhões em 2010 para 38 milhões em 2030, ou seja, uma redução de 25% em apenas 20 anos.

Quais serão os efeitos dessa virada demográfica para os gastos com Educação? Atualmente o gasto direto com Educação equivale a 5,1% do PIB, ou seja, R$ 187 bilhões, em valores de 2010. Desse total, 85% são gastos com Educação básica, o que significa que cada Aluno do Ensino básico recebe um investimento médio de R$ 4 mil, equivalente a 20% do nosso PIB per capita. Países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) gastam em média 26% do seu PIB per capita com Educação básica; a Coreia, 30%; o Chile, 18%; e o México, 15%. Simulações indicam que com a virada demográfica, se o PIB crescer a uma média de 3% ao ano, o gasto por Aluno aumentaria para R$ 6 mil em 2020 e R$ 10 mil em 2030, mesmo que os gastos não se alterem com relação ao PIB. Assim, o gasto por Aluno da Educação básica passaria para 24% do PIB per capita em 2020 e 29% em 2030, atingindo o nível da Coreia do Sul.

Se, além da virada demográfica, os gastos com Educação aumentassem para 8% do PIB, as despesas por Aluno aumentariam para R$ 9 mil já em 2020, atingindo 33% do PIB per capita daquele ano, maiores do que em todos os países da OCDE. Nesse caso, os gastos com Educação básica passariam de R$ 390 bilhões, já em 2020. Não se sabe de onde viriam os recursos para esse aumento de gastos, uma vez que a carga tributária no país já atingiu o limite do suportável. Imagine o que aconteceria caso a meta de 10% do PIB fosse de fato atingida!

O segundo ponto importante diz respeito à distribuição dos recursos educacionais. Hoje em dia, o Ensino superior apropria 15% dos gastos públicos com Educação, mas tem apenas 3% do total de Alunos. Assim, enquanto o Ensino fundamental gasta 20% do PIB per capita por Aluno, o Ensino superior gasta 100%. Poderíamos argumentar que os gastos com Educação superior incluem os gastos com pesquisas, mas em nenhum país do mundo essa discrepância de gastos entre o Ensino básico e o superior é tão grande. Na média da OCDE, o gasto por Aluno no Ensino superior é somente duas vezes maior do que no Ensino básico, na Coreia é pouco mais de uma vez e meia e nos EUA, maior gerador de pesquisas no planeta, chega a três vezes. Sem contar que muitos dos Alunos que hoje frequentam o Ensino superior público teriam condições de pagar mensalidades, o que não ocorre no Ensino básico.

Por fim, vale a pena ressaltar que aumento de gastos não significam aumento da qualidade da Educação. Várias pesquisas, inclusive da OCDE, mostram esse fato de forma inequívoca. Sem melhorar a formação dos Professores, a seleção dos diretores e sem demitir os piores Professores ainda em estado probatório, nada vai mudar, mesmo que gastássemos os 10% do PIB com Educação. Haveria somente uma maior transferência de recursos da sociedade para os Professores, sem melhoria do aprendizado dos Alunos. Assim, a melhor estratégia para a Educação brasileira seria manter os gastos como proporção do PIB e aproveitar o crescimento do PIB e a virada demográfica dos próximos anos para manter apenas os melhores Professores no sistema educacional e redistribuir recursos do Ensino superior para o Ensino básico, especialmente o Ensino infantil, que é a base de tudo.

27 julho, 2012 às 09:17

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Categoria: Artigos

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