Comentário do blog sobre “O risco de um PRI brasileiro” (ótimo editorial do Estadão dia 24 agosto)
Uma análise do Estadão sobre o nosso terrivel futuro. Mas, convenhamos, estamos pagando a conta, porque, afinal, o Fernando Henrique deu abraço carinhoso em Fidel, ninguém atacou as Farc prá valer, nem saíram berrando contra o MST, contra Chávez, contra o Iran, e as iniciativas tentando calar a boca da imprensa. Foram os próprios jornais que se defenderam. Tudo foi deixado de lado, perderam todas as boas oportunidades que se apresentaram. Não sou a melhor pessoa para contar o que aconteceu. Os que analisam a política brasileira devem ter dezenas de bons exemplos do péssimo comportamento dos que seriam os nossos líderes (?!) oposicionistas. Apenas percebo que ficaram encolhidos, amedrontados pela popularidade do Lula. E a nossa oposição gosta da Petrobrás, uma das maiores desgraças da vida brasileira. Não tiveram o mínimo de sensibilidade para perceber que o medo de atacar o Lula era suicídio, o importante teria sido construir um sólido núcleo RADICALIZADO, mas todos estão naquela do “in medio virtus”, ou seja, gostam do diálogo eterno, aquele que só favorece os bandidos. Começaram com o emblemático episódio do mensalão, quando resolveram, “para o bem das instituições” não derrubar o Lula, e o final perfeito foi a ridícula postura do Serra usando a imagem do “esse é o cara” na sua campanha eleitoral. Quem poderia imaginar o gesto ? E parece que não tem muita importância porque pouco se comentou. No mensalão, Carlos Lacerda teria posto o Lula no olho da rua com dois discursos.
Vamos assistir agora ao desdobramento da ditadura petista. Milhares e milhares e milhares de cargos no funcionalismo público, um saque ao Tesouro para perpetuar o maldito Partido no poder, força para os bandidos da A. Latina e do mundo, e a volta dessa ratazana, o Zé Dirceu. O Supremo Tribunal Federal, que já é composto por uma corja, vai piorar, se isso for possivel. O governo vai poder fazer o que quiser, e a imprensa vai ficar com mais medo, a cada dia. Eu vou ter que diminuir os meus insultos. Vão dar os armamentos que os militares querem, vão aumentar seus salários e vão colocar professores petistas nas escolas militares. Em suma, em muito pouco tempo também estarão contra nós. Acho que merecemos. O choro é livre.
EDITORIAL DO ESTADÃO
Na sucessão presidencial de 1994, a vitória de Fernando Henrique representou para o PT mais do que um revés nas urnas: foi uma derrota política autoinfligida pela decisão, ideologicamente motivada, de considerar o Plano Real um estelionato eleitoral – enquanto, nos comícios do tucano, as multidões agitavam notas da nova moeda. Só 8 anos depois, quando engavetou o programa aprovado no congresso partidário de Olinda e pintou o seu eterno candidato com as cores tranquilizadoras da paz e do amor, o PT se reabilitou politicamente ao aceitar o programa do ministro Palocci, de cujo êxito colhe agora os formidáveis dividendos eleitorais.
Desta vez, a se confirmarem as previsões de que Dilma Rousseff se elegerá no primeiro turno de 3 de outubro, a segunda derrota de José Serra certamente terá consequências para o seu partido muito diferentes das que produziram para o PT as derrotas de Lula da Silva. Na verdade, ao contrário do PT, o PSDB nunca teve jeito para ser oposição. Seu principal líder, Fernando Henrique Cardoso, nunca pretendeu ser um líder popular. Já enfraquecido depois de oito anos fora do poder, o PSDB não tinha condições de ajudar Serra a se contrapor ao enorme prestígio de Lula e ao contentamento da população com o seu governo. Nem o candidato se tem esforçado para obter esse apoio.
O segundo fracasso consecutivo do petista não estilhaçou o partido nem o impediu de se manter à tona aos olhos dos setores da sociedade de que se fazia porta-voz, desencadeando uma furiosa, persistente e não raro torpe campanha contra a reforma do Estado promovida pelo governo do PSDB. No poder, aliás, o lulismo não se aventurou a revertê-la, apesar do aparelhamento e do inchaço da máquina federal.
Já um segundo fracasso das aspirações presidenciais de Serra irão muito além do destino de um dos mais experientes políticos brasileiros. Pelo que se pode prever, a partir do histórico da disputa pelo poder entre os principais grupos antagônicos em cena, as colunas do edifício político desabarão sobre os tucanos com uma força destrutiva que o PT jamais experimentou na esteira de um malogro nas urnas. A sigla da estrela não se desmoralizou depois de 1994 porque continuou a ter um líder de talento político e amplo apelo de massas, cuja obstinação não diminuiria nem com a derrota seguinte, daí a 4 anos, depois da qual o PT manteve a sua implantação no País e seguiu trajetória ascendente nas eleições locais e parlamentares.
No caso dos tucanos, vencido Serra, tudo irá conspirar contra a possibilidade de se reerguerem. Até onde a vista alcança, justamente quando Lula passar a faixa a uma figura que é o seu oposto em matéria de projeção pessoal e política, faltarão ao PSDB – ou ao que restar dele – as condições para finalmente exercer o papel de oposição de que se furtou quase sempre por medo da popularidade do presidente. A falta de condições pode ser antevista na crise da campanha de Serra. A cada nova pesquisa, mais os tucanos obedecem à chamada Lei de Muricy – a de cada um por si.
Ao que tudo indica, o destino do PSDB é o confinamento em um único reduto político de peso, com a quase certa eleição de Geraldo Alckmin em São Paulo. A eventual derrota do ex-vice-governador Antonio Anastasia para o ex-ministro Hélio Costa em Minas ainda privará o partido de um novo líder em condições de reconstruí-lo, como seria obviamente o caso de Aécio Neves, o patrono de Anastasia a quem Serra se impôs como presidenciável. A escassez de condições objetivas deverá se acentuar com os ganhos que a frente governista terá no Congresso. Na Câmara e no Senado, PT e PMDB disputam qual será o dono da maior bancada. Nessa última Casa, PSDB e DEM devem ficar com a metade de suas cadeiras atuais.
Desenha-se, enfim, um cenário sombrio em que a política se limitaria aos jogos de poder, com os sórdidos lances habituais, dentro da coalizão hegemônica. Estarão criadas as condições para o surgimento de uma versão brasileira – com duas faces, a do PT e a do PMDB – da “ditadura perfeita” vivida pelo México décadas a fio sob o controle do PRI, o Partido Revolucionário Institucional.