O velho Obama de roupa nova ( excelente artigo de Charles Krauthammer no Washington Post)

Charles Krauthammer

A eleição de novembro do ano passado mandou uma mensagem clara a Washington: menos governo, menos débito, menos gastos. O presidente Obama certamente ouviu a mensagem, mas a julgar pelo seu State of Union (nota do blog :discurso anual do presidente ao Congresso), ele não acredita em uma só palavra dele. As pessoas dizem que querem cortes? É claro que querem – na teoria. Mas qualquer partido que realmente ousar colocar em efeito os cortes será punido severamente. Sobre isto, Obama sustenta sua reeleição.

Nenhuma outra conclusão pode ser tirada do discurso que não mencionou a questão do débito até os 35 minutos iniciais. E então, o que ele ofereceu? Um congelamento dos gastos arbitrários domésticos, medida que ele mesmo admitiu que poderia afetar meramente um oitavo do orçamento.

Entretanto, Obama parecia impressionado, pois isso poderia render $400 bilhões de dólares em economia por 10 anos. É uma média de $40 bilhões por ano. Só o déficit para o ano passado foi mais de 30 vezes a mesma medida. E o gasto total federal foi mais do que 85 vezes essa quantidade. Uma economia de $40 bilhões por ano para um governo que compilou $3 trilhões em débitos novos nos últimos dois anos é profundamente insignificante. É uma sangria desatada, um erro de cálculo.

Quanto aos direitos do que fazer com o dinheiro, Obama praticamente não disse nada. Ele esta feliz em discutir, mas se os republicanos ousarem tomar alguma coisa da ‘vovozinha’, ele será ‘Horatius na ponte’, ou seja, vai bloquear a passagem.

Toda essa pantomima sobre a redução do débito veio depois da primeira metade do discurso devotado a, sim, novos gastos. É admirável a provocação de Obama. O seu pacote de incentivos e a reforma do sistema de saúde em 2009, capazes de falir o orçamento, são precisamente o que incitou a revolta popular que desencadeou a sua derrota em novembro.E mesmo assim, ele esta de volta para mais.
É como se Obama estivesse desafiando os eleitores – e os Republicanos – para provar que eles realmente querem um governo menor. Ele esta equipando as barricadas para o Obamacare, outro enorme gasto, – perdão, uma farra de investimentos. Para confrontar aqueles super bem sucedidos asiáticos, Obama quer enterrar ainda mais dinheiro em mais reparo de estradas e pontes, mais professores subsidiados pelo governo federal – acrescentando com estilo, um pouco de transporte de alta velocidade. Isto vai mostrar para aqueles chineses quem somos nós.

E, é claro, uma vez mais, há a mágica sedução de uma economia verde criada pelo esplendor dos experts e políticos de Washington. Esse é  o nosso “momento Sputnik”, quando o medo dos estrangeiros nos estimula a inovação e grandeza dos tipos que produziram a Nasa e o pouso na lua. (nota do blog: Krauthammer com o “momento Sputnik” refere-se ao susto e posterior reação tecnológica americana quando os russos lançaram o primeiro satélite ao redor da terra, o Sputnik)

Além da ironia desse apelo ser feito pelo próprio presidente, que há pouco acabou com o programa espacial tripulado da Nasa, há o fato de que por três décadas, desde a fantasia do combustível sintético de Jimmy Carter, Washington despejou bilhões de dólares dos contribuintes em um buraco de rato, em uma busca vã  por energia renovável economicamente competitiva.

Isso não é nada mais que uma recauchutagem do que costumava se chamar de política industrial – governo selecionando ganhadores e perdedores. Exceto que trata-se de um campo que não esta tecnologicamente pronto para experimentar combustível qie não seja o  fóssil. Então,  pegamos um perdedor atrás do outro – do etanol, seis bilhões de dólares de trabalho inútil que inclusive Al Gore admite que foi um erro, ao Chevy Volt, carro a eletricidade de  $41.000 dólares que só os ricos podem ter (com suas reduções de taxas de Bush estendidas, é claro)

Talvez isso seja tudo a esperar dos democratas – o partido do governo – e de um presidente que desde o seu primeiro discurso ao Congresso mostrou audaciosamente seu zelo de transformar fundamentalmente o contrato social americano e colocá-lo em uma “Nova Base”   ( “New Foundation”, um slogan de Obama que nunca pegou). Ele esta sendo punido e corrigido o suficiente pela eleição de 2010 para acenar em direção ao centro. Mas o State of fhe Union revelou um homem ideologicamente inflexível, que não se dobra e que não recua. Ele apresentou um insignificante corte de gastos, e outro (senão mais modesto) incentivo, e prometeu lutar contra qualquer tentativa republicana de encolher significativamente o tamanho do governo.

Sem dúvida, ele ainda foi além. Ele tentou projetar essa mesmice em um apelo à grandeza nacional, citando dois irmãos do Michigan que produzem telhas solares como um exemplo vivo de ressuscitar o “momento Sputnik”.

“Nos produzimos grandes coisas”, Obama declarou no fim do discurso que foi, ao contrario, o mais puro exemplo de jogada do minimalismo ‘Clintoniano’ desde os dias de uniformes de escola e basquetebol à meia-noite.

Do pouso na lua às telhas solares. Há um exemplo que retrata melhor o declínio americano?

letters@charleskrauthammer.com

6 fevereiro, 2011 às 05:38

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Categoria: Artigos

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