Partido Comunista mantém despotismo em Xinjiang (Rebiya Kadeer) – comentário do blog e fotos
A província de Xinjiang é habitada por 8 milhões de iugures, povo muçulmano de língua turca incorporado à China no século XIX. A província representa um sexto de todo o território da China, e os chineses morrem de medo de perde-la. Os iugures querem independência, lutam para consegui-la, e a principal arma chinesa e despachar chinos para a região, isto é , fazer a mesma coisa que no Tibet, superpovoar o lugar com a etnia han, e sufocar os rebeldes. Para qualquer lado que olhem só enxergam chinos, e assim fica mais dificil. A língua ensinada nas escolas é chinesa. (comentário do blog)
No dia 14, os moradores de Xinjiang ( Turquestão Oriental) redescobriram a internet – não a web com acesso ilimitado que o mundo todo desfruta, mas foramsuspensas as restrições mais draconianas impostas ao seu uso, de modo que agora as pessoas conseguem acessar a versão censurada pela China.
Durante dez meses, desde os tumultos de julho de 2009 em Urumqi, o governo chinês tem mantido Xinjiang isolada do restante do mundo, com controle total das comunicações que não apenas bloqueou a internet, mas também afetou a rede de telecomunicações.
Durante esses dez meses, muita informação sobre os acontecimentos de julho de 2009 não puderam vir à tona e o mundo só teve conhecimento de relatos feitos pelo governo chinês que não devem ser, absolutamente, considerados imparciais.
Esse controle das comunicações ilustra bem a aterradora ideologia de poder que orienta as decisões dos poderosos do Partido Comunista chinês. Nesses dez meses, o governo tem exercido uma repressão brutal contra os membros da etnia uigur, invisível pelo mundo exterior.
As “condições estáveis” exigidas para a restauração da internet foram criadas por meio de detenções indiscriminadas, desaparecimentos forçados, tortura, julgamentos simulados e execuções de pessoas.
A organização Human Rights Watch descreveu os 43 desaparecimentos forçados num relatório que fez como a ponta do iceberg. Além disso, as notícias que puderam ser vazadas sobre torturas e mortes na prisão de uigures, como a de Shohret Tursun, são apenas uma pequena mostra da violenta perseguição contra os uigures durante esses meses.
O governo, agora, tenta mostrar sua face benevolente, anunciando investigações em larga escala na região, fóruns de trabalho, a remoção de autoridades ultrajantes como Wang Lequan e, mais recentemente, a restauração do acesso à internet.
Esta benevolência precisa ser encarada com um certo ceticismo, não só porque as decisões não foram tomadas em favor do bem-estar do povo uigur, mas também porque mostram uma ausência de um enfoque novo da parte das autoridades chinesas.
Desigualdades. Desde 2000, as grandes injeções de capital em Xinjiang, por conta da iniciativa do governo somente exacerbaram as desigualdades econômicas entre os uigures e os chineses de etnia han (a maioria no país), e não beneficiaram os uigures empobrecidos. Os futuros investimentos, pelo que se pode deduzir, serão direcionados novamente para a extração mineral que não tem por fim usar a mão de obra uigur local ou o engajamento de empresas uigures.
A nomeação de Zhang Chunxian como secretário do Partido da Região Autônoma Uigur de Xinjiang foi interpretada como uma ruptura com as políticas de linha dura do antigo chefe do partido Wang Lequan. No entanto, com base nos comentários feitos recentemente, parece que Zhang não trará nada de novo, persistindo na mesma retórica de destruir os três demônios do separatismo, extremismo e terrorismo.
Um exame realista do desempenho do Partido Comunista chinês no Turquestão Oriental revela que os três verdadeiros demônios, na verdade, são o chauvinismo da etnia han, o despotismo estatal e o comunismo falido.
As velhas ideias dos comunistas chineses no tocante a Xinjiang apenas foram retocadas, recicladas, e não ajudam a resolver as tensões políticas que foram a base da rebelião em Urumqi. Há muito trabalho a fazer e muitos ressentimentos que devem ser dissipados.
E eu me disponho a ajudar o governo chinês a solucionar essas questões.
Um novo enfoque autêntico para resolver as inúmeras questões políticas, sociais e econômicas implica um diálogo e consultas com a população uigur. Isso quer dizer com todos os uigures, no exílio e em Xinjiang.
E esses contatos devem ser realizados numa atmosfera aberta de igualdade, sem que exista o temor de alguém ser preso pelo simples fato de expressar uma opinião. Tenho dúvidas quanto a se um próximo fórum de trabalho seria realizado com base nessas condições.
Acho que o governo chinês precisa abolir sua política agressiva de educação monolíngue e dar aos alunos e seus pais a possibilidade de escolher sua língua de instrução. Políticas garantindo oportunidades de emprego iguais para os uigures precisam ser adotadas, para que eles tenham acesso a empregos dentro do Turquestão Oriental. Essas políticas seriam muito bem acolhidas e ajudariam a reduzir as tensões entre os uigures e os chineses han.
Se o governo chinês quiser provocar um impacto imediato e demonstrar uma mudança sincera da sua visão, criando a confiança da população uigur, a melhor oportunidade para isso seria libertar todos os blogueiros uigures e administradores de internet presos após os tumultos.
Entre eles Memet Turghun Abdulla, fotógrafo que publicou um artigo online sobre um ataque contra trabalhadores uigures de uma fábrica, que teria desencadeado as agitações de julho de 2009; Gheyret Niyaz, jornalista detido após falar com a mídia estrangeira sobre a rebelião; Dilshat Parhat, cofundador do website Diyarij; e o supervisor do mesmo website, Muhemmet. Todos esses indivíduos desapareceram nas profundezas escuras do sistema judiciário penal chinês. Ninguém sabe onde estão presos, tampouco em que condições eles se encontram.
Críticos. A internet é admirada como uma ferramenta para a liberdade de expressão e a participação cidadã em todo o mundo. Na China, e particularmente em Xinjinag, ela é usada para erradicar os críticos das políticas governamentais. A liberdade de expressão e a participação dos uigures são fundamentais, e são condição básica para uma solução do problema do Turquestão Oriental.
Sem isso, esse ciclo das velhas políticas de repressão, retocadas como novas políticas de repressão, continuará inquebrantável. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
O AUTOR É PRESIDENTE DO CONGRESSO MUNDIAL UIGURN
(publicado no Estadão em 26 de maio de 2010)