Piano conduz ao universo de Chopin (João Marcos Coelho) – 6 Vídeos com diferentes pianistas

pianista Jonathan Plowright

capa do CD
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As revistas inglesas especializadas em música clássica – Gramophone e BBC Music Magazine – deram grande destaque este mês ao CD Hommage à Chopin, do pianista inglês Jonathan Plowright, lançado em fevereiro no mercado internacional pelo selo também inglês Hyperion. Com justiça, já que se trata de uma das mais imaginativas incursões pelo universo de Chopin, mostrando uma incrível descendência estilística, quando não emocional.

O excelente pianista construiu um roteiro que começa com o russo Mili Balakirev, o líder do nacionalista Grupo dos Cinco na Rússia da segunda metade do século 19, passa por Grieg, Tchaikovsky e Honegger, chegando até Villa-Lobos, que nos representa com uma mui digna peça com o mesmo título do CD.

Nossos ouvidos, porém, são imediatamente capturados por duas peças mais ambiciosas que, sozinhas, valem o disco inteiro. Por ordem alfabética, primeiro Ferruccio Busoni, com suas Dez Variações Sobre o Prelúdio de Chopin em Dó Menor. Ele as escreveu quando tinha 18 anos, em 1884; e remanejou-as em 1922, dois anos antes de morrer. Não por acaso, o compositor-pianista disse: “Chopin me atraiu e repeliu durante toda a minha vida, e eu ouvi demais sua música – prostituída, profanada, vulgarizada…” Como suas transcrições de Bach, esta também é muito mais Busoni do que Chopin. Brilhante, virtuosística, irresistível.

A joia inconteste desta gravação foi esculpida por um compositor que chegou ao ponto de se anular para emular o mais intimamente possível o universo pianístico de Chopin. O catalão Federico Mompou (1893-1987) lembra Pierre Menard, o personagem escritor do conto famoso de Jorge Luis Borges que consegue a façanha inaudita de reescrever literalmente o Dom Quixote de Cervantes – porém construindo uma nova obra de arte, que se afirma como diferente pelos séculos que os separam e em função da entonação de leitura.

Mompou era recluso, tímido, enigmático – como, aliás, sua música, toda feita de miniaturas pianísticas. Tinha pouquíssimos amigos. Entre os vivos, outro catalão, o pintor Juan Mirò; entre os mortos, Chopin (chegou a autointitular-se Frédéric II em tributo ao polonês). As Variações Sobre Um Tema de Chopin estendem-se por 21 minutos e estruturam-se assim: um tema em andantino (o do conhecidíssimo prelúdio em lá maior opus 28, n.º 7) e 12 variações, completadas por uma coda que reexpõe o tema famoso, com pequenos detalhes dissonantes, quase imperceptíveis.

É impossível, de novo, não pensar em Borges, quando dizia que “a criação poética, ou o que chamamos de criação, é mistura de esquecimento e de lembrança daquilo que lemos”. Substitua o “lemos” por “ouvimos” e você entenderá o modo como Mompou introjeta Chopin em seu discurso, que se esfumaça na transparência das linhas melódicas e harmônicas de seu ídolo. Ele não deseja “fugir” ou afirmar-se diante de Chopin; ao contrário, mergulha nele e se desfaz de sua identidade. Se Borges institui o ato da leitura como fundador do ato de escritura (segundo Ana Cecília Olmos no livro Por Que Ler Borges), então Mompou institui o ato da audição como fundador da criação musical.

Mas atenção: isso não é jogo de palavras. Basta ouvir essas maravilhosas variações. Em 12, apenas duas vezes – na sétima, um Allegro leggiero, e na décima segunda, um Galope y epílogo, Mompou desvia-se de Chopin – mas desvia-se pouco. O catalão é frequentemente comparado com outro miniaturista, o francês Erik Satie, em função de uma hipotética deficiência na escrita musical por desconhecimento técnico, Mompou não possui o menor traço de cinismo. E, atentem, não tem a menor importância ele saber mais ou menos de técnica. Sabe o suficiente para construir, à la “Pierre Menard”, esta autêntica obra-prima da música do século 20.

O CD Hyperion é importado e  se chama Hommage à Chopin

(publicado no Estadão em 29 de abril de 2010)

 

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MatthewLiechtyMusic (uploader) Before you comment, please realize that this song was played comically. It was filmed at a bad angle, making it hard to see the facial expressions and audience reaction. Pretty soon I plan on posting a serious version along with a couple other classical songs and compositions.
Thanks,
Matthew Liechty 10 meses atrás. – Esse menino ficou mundialmente famoso muito antes do que esperava (nota do blog)

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29 abril, 2010 às 15:44

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Categoria: Artigos

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