Um erro diplomático a escolha de Lula como paraninfo da turma de 2010 do Rio Branco
A turma de formandos do Instituto Rio Branco escolheu Lula como seu paraninfo. Ocioso dizer que a razão maior foi o puxa-saquismo, mesmo que a maioria goste dele. Mas, o que chama a atenção é que começaram mal a carreira, cometeram um erro, não foram nada “diplomatas”. Ao escolherem Lula passaram recibo de que apoiam a política externa do ex-presidente. Quer dizer: apoiam Chavez, Fidel, Ahamadinejad e outros delinquentes. Acontece que Dilma andou sinalizando uma provavel mudança de rumo. Os supostamente refinados rapazes já entraram com o pé esquerdo, cometeram uma gaffe. Na hipótese de Dilma ficar solidária com os direitos humanos, vai acontecer que durante a infame briga de foice, que é o momento das promoções no Itamaraty, muita gente lutando por seus candidatos irá correndo lembrar para a presidenta a escolha que fizeram, e que pareceria um desafio se os despreparados rapazes fossem sérios: solidariedade àquele que formulou uma política externa diferente da atual. Mesmo se o relacionamento entre Dilma e Lula estiver excelente, ainda assim eles podem ser preteridos porque os dois fatos são inteiramente independentes. Os novos diplomatas deveriam ter escolhido a iraniana que ia ser apedrejada, já que a presidenta mostrou simpatia por ela.Seria um gesto maravilhosamente itamaratyano.
Antigamente, em priscas eras, eu pensava que o vestibular para cursar o Rio Branco era o mais dificil do país.Quem lê o programa para os exames fica de boca aberta. Pensa imediatamente que só podem entrar os gênios. Mas é para inglês ver. Você pode jogar fora quase tudo que é supostamente exigido. O restante está maceteado nos cursinhos. De maneira alguma é formada uma elite no corpo diplomático brasileiro. Alem do mais, os que saíram do Rio Branco durante o governo Lula foram severamente doutrinados pelos dois manés, Celso Amorim e Samuca Guimarães. Submeteram-se à situações humilhantes relatadas pela Veja alguns anos atrás.
Lula não compareceu à cerimônia de entrega dos diplomas, deixando os meninos aduladores chupando o dedo. Mandou o famoso cafajeste Marco Aurélio Garcia ler uma paginazinha onde, na maior arrogância, afirma que Dilma dá continuidade à sua política externa. Afirmação duvidosa. Ora, acontece que Dilma tem como um componente básico de sua personalidade o autoritarismo, além de ser corajosa. No fundo do seu coração deve se considerar uma executiva superior ao antigo chefe, além de no plano psíquico jamais esquecer que foi uma guerrilheira e correu risco de vida, enquanto o outro fazia discursos (ser preso não é vantagem nenhuma). Isso, como todo mundo sabe, não a impede de ter uma sagrada admiração por aquele que a fez presidente, acabou com a oposição, e instituiu uma ditadura petista no país. Mas Dilma é mineira, vem daquela turma que até pouco tempo se considerava a elite intelectual do país, e não vai admitir passar para a história como uma fantoche. Isso seria insuportavel, ela não aceita. De fato é impossivel para quem teve um passado de rebeldia que chegou à violência. Em algum momento de seu mandato pode haver um ponto importante de desacordo com Lula. O mais provavel é que o espertíssimo sujeito finja que não percebeu, ou dê declarações conciliatórias e demagógicas. Embora Lula sempre vá ser muito mais forte do que ela, Dilma pode, assim mesmo, construir seu próprio bunker e formar um grupo que lhe seja fiel e que trabalhe sem comprometimento com os desejos do pavão camuflado. Talvez chegue até ao enfrentamento em 2014. Quem pode garantir que não ? A lealdade é um conceito elástico quando se está no poder. Para um observador, que acha um ato de penitência escrever qualquer coisa séria a respeito da política interna brasileira, observar pequenas rupturas no relacionamento entre os dois talvez seja uma saída, e um divertimento.
nota do blog: As promoções na carreira diplomática acontecem em julho e dezembro, e os pedidos dos candidatos vão desde acionar o simpático pipoqueiro que é amigo do ministro, até as mais altas autoridades do país, passando pelas médias, inferiores, os vizinhos, primos e o escambau. O desgaste de caráter é irreparavel. Roberto Campos conta em seu livro de memórias que se desentendeu com o presidente Juscelino a respeito da política econômica e achou melhor se afastar do governo: “Talvez com um certo remorso pela frieza com que me havia tratado no incidende de Roboré, Juscelino promoveu-me a ministro de primeira-classe, poupando-me a humilhante pedincharia, tradicional nas promoções na carreira diplomática“. E ao pé da página : ” Castello Branco costumava dizer-me que as promoções no Itamaraty e as brigas militares sobre a aviação embarcada rivalizavam-se em provocar-lhe dores de cabeça”..
Comentários (4)
Parabéns, Cláudio! Ótimo artigo! Ainda por cima o ingresso tem as tias das cotas para isso, para aquilo, não precisa mais saber idiomas etc. Um vexame agora e, principalmente no futuro. O Barão remexe-se no túmulo, coitado.
Obrigado Marco, e eu havia me esquecido das cotas!
ótimo texto Cláudio!! muito bom!!! bastante verdadeiro!!!
Antes eu até pensava em tentar Rio Branco etc… carreira diplomática. Depois, sobretudo, do PT no poder, percebi claramente que a diplomacia, que já era um meio difícil, tornar-se-ia insuportável! No começo do governo Lula, até me lembro… que houve até manifesto de embaixadores dizendo que se o PT saisse naquele momento do poder.. levaria uns 30 anos para o Brasil reparar o erro. No próprio blog do Paulo Roberto de Almeida havia um bom material demonstrando como o PT estava acabando com o ITAMARATY. Enfim… lamentável!
Bem, Ari, o diplomata leva uma vida muitíssimo boa. Conhece todo o mundo, ganha bem, tem prestígio, e quando chegar a embaixador será chamado de excelência. Claro que vai deixar para trás todo o respeito próprio. Mas nós também vivemos fazendo concessões que não deveríamos e portanto não somos muito melhores do que a maioria das pessoas. Ortega y Gasset disse qualquer coisa assim: “um diplomata é quase educado, quase culto, quase don juan” e uma série de outros quase que não me lembro agora. abraço