Logo após o 11 de setembro

11-setembro

Luiza e eu estamos muito abalados com a tragédia americana.Acho que sentimos tanto que até parece que nascemos em Nova Yorque.Infelizmente não temos com quem conversar porque as pessoas ao nosso redor não se importam, pelo contrário, no fundo até gostam do que aconteceu.É claro que escondem esse sentimento de si mesmas porque se descobrissem iriam ficar ainda mais inseguras com respeito ao seu próprio caráter.Resolvem precáriamente essa contradição através de piadas de mau gosto, mas com o tempo estão ficando mais atrevidas, e quando os americanos atacarem o Afeganistão vão conseguir se libertar, e as palavras de ódio estarão em todas as bocas. Recebo piadas idiotas pela internet. Uma mediocridade que nos assusta e deprime.

Mais uma vez os Estados Unidos estão sozinhos. Fico diante da televisão assistindo ao show dos aliados pusilânimes colocando exigências absurdas para darem seu apoio. Talvez venha algum auxílio dos povos de língua inglesa. A maioria dos países gostaria de ver os americanos imobilizados em intermináveis consultas, em conversas exasperadoras, ve-los para sempre humilhados pelo terror. Lá está a França, ridícula como de costume, tentanto se mostrar mais importante do que é, esquizofrênicamente esperando por um desastre dos Estados Unidos. Por trás de todo comportamento francês está sempre o fantasma da completa desonra na Segunda Guerra Mundial.

Fiquei com pena de Bush ao ve-lo apertando a mão de Chirac. Esmagado pela responsabilidade, tristíssimo, inexperiente, e ao mesmo tempo precisando suportar a conversa sombria e hipócrita de quem só deseja a desgraça dos americanos. Também fiquei muito tocado pelas impressionantes cerimonias religiosas nos Estados Unidos e na Inglaterra. As vestes medievais, as bandeiras, o rigor militar dentro da igreja, a música de orgão, os corais, as orações, as faces emocionadas, as lágrimas. O Islã deve ter ficado de boca aberta. Os mulás, aitolás, mustafás, nunca viram nada parecido, e sempre acharam que tinham o monopólio da espiritualidade no mundo.

Naquela madrugada fui até a embaixada americana. Os soldados chineses estavam desembarcando de uma fileira de caminhões. Esses soldadinhos tão magrinhos e tão meninos. Ao mesmo tempo chegaram os policiais de azul, corpulentos, grosseiros e mal encarados. Carregavam armas pesadas, se preparando para proteger o quarteirão inteiro. Imaginei que a cena deveria estar ocorrendo em muitos países do mundo. Não havia nada nas ruas, voltei para o apartamento e pelo telefone entrevistei o embaixador brasileiro. No outro dia, ele e sua mulher ficaram furiosos. Não gostaram da matéria. O embaixador teve o desplante de dizer que não sabia que estava sendo entrevistado, embora eu tivesse pedido a ele para soletrar a palavra u- i-u-g-u-r-e.

Eu caminhava pela rua levando flores para colocar em frente da embaixada quando um diplomata brasileiro parou o carro e perguntou se eu queria carona. Não viu as flores na minha mão. Quando descobriu do que se tratava morreu de medo. Ele e sua mulher trocavam olhares de inteligência. Antes que eu pedisse para saltar – porque já não aguentava os seus gestos aflitos – o rapaz arrumou a desculpa de que precisava mudar o trajeto. Foi uma carona de cem metros.Imagina se os dois teriam coragem de me deixar com aquelas flores, lá na frente da embaixada, cheia de soldados e de ridículos espiões chineses que poderiam anotar a placa do seu carro. Foram embora aliviados, decerto pensando que dalí em diante o melhor era ficar longe de mim. Quando cheguei só vi os militares nervosos. Um chinês nunca está calmo. Em frente ao portão dezenas de buquês. Demorei para prender as minhas rosas entre as grades do jardim, enquanto os soldadinhos ficavam olhando curiosos. Já estava indo embora quando apareceu um chino com uma câmera e pediu todo sorridente para eu ficar parado porque queria me fotografar ao lado das flores. Disse que era da Associated Press. Na hora tive certeza que fosse policial. Fiquei com raiva e gritei perguntando se me achava com cara de bobo. Tirou alguns documentos do bolso para que eu visse. Nem olhei, saí caminhando, mas ele me fotografava de longe.

Luiza me disse : “Você deve ser o único brasileiro no mundo que leva flores para a embaixada americana.”

11 maio, 2009 às 08:26

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Categoria: Artigos

Comentários (1)

 

  1. conan disse:

    Um dos momentos, mais tenebrosos da história humana recente, mas o que mais me doi é o assustador número de idiotas no Brasil e no mundo, que acreditam que o 11 de setembro foi arquitetado por Bush. Fiz uma busca rápida no google sobre as teorias da conspiração sobre esse atentado e o resultado é deprimente, parece que o mundo todo crê que foram os americanos que se auto-imolaram que a al quaeda trabalha para a cia, que uma demolição controlada implodiu os prédios,- esta ultima é especialmente perniciosa e alimentada pelo ridiculo movimento: 9/11 Truth Society, e seus engenheiros de araque. – Mesmo com NIST (National Institute of Standards and Technology) tendo desmascarado esse papo de implosão controlada, os malucos conspiratorios tem uma resposta na ponta da lígua: o malvado nist mentiu pois serve ao governo americano. Para ter uma idéia do fundamentalismo dessa gente, um dos principais crentes dessas maluquices Charlie Veitch foi chamado pela BBC de Londres e confrontado com especialistas de verdade e – incrivel – viu a luz se retratou de suas idiotices conspiratorias. Foi alvo de uma campanha de ódio movida pelos paladinos da verdade antiamericanos com direito até a ameaça de morte. E assim caminha a humanidade.

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